Funcionário recolhe mesas em restaurante vazio no distrito de Navigli em Milão, Itália (Daniele Mascolo/Reuters)
AFP
Publicado em 19 de abril de 2020 às 14h50.
Com a economia paralisada e os cidadãos confinados dentro de casa, na Itália o tema que domina as conversas é a a suspensão do confinamento, entre a impaciência pela recuperação e o temor de uma segunda onda da pandemia.
País mais afetado da Europa, a Itália registra mais de 23.600 mortes (466 vítimas fatais nas últimas 24 horas), mas está saindo da fase crítica da epidemia, após várias semanas de confinamento, iniciado em 9 de março.
Dia após dia, a imprensa tenta descobrir a primeira atividade que será autorizada. As especulações obrigaram o governo a lembrar durante o fim de semana "que não estão previstas modificações" a respeito do confinamento, que seguirá em vigor até 3 de maio.
Mas os próprios ministros do governo abordam o tema. "Devemos dar aos cidadãos uma liberdade de circulação maior", afirmou o vice-ministro da Saúde, Pierpaolo Sileri.
A ministra para a Família, Elena Bonnetti, deu a entender uma possível reabertura parcial das áreas de lazer: "Algo tem que mudar nas próximas semanas para nossas crianças. Elas têm o direito de brincar".
A pressão é grande para a retomada da terceira maior economia da Europa, muito castigada.
A marca de luxo Gucci retomou as atividades de segunda-feira em seu centro de pesquisas perto de Florença, com um número limitado de funcionários. A Fincantieri reabre seus estaleiros gradualmente, começando com o máximo de 10% dos funcionários, que passam por um controle de temperatura nos pontos de acesso.
Um estudo publicado no sábado mostra que 97,2% das empresas italianas sofreram efeitos da pandemia, metade delas de maneira grave, com uma redução do faturamento de 32% na comparação com março de 2019.
O jornal La Repubblica afirma que metade dos 23 milhões de empregados e trabalhadores autônomos precisarão de ajuda do Estado, mas o número pode aumentar.
"Em absoluto respeito aos protocolos de saúde, agora temos que olhar para frente. O lema é recuperação", declarou Marco Marsilio, governador da região de Abruzzos.
Contrário ao confinamento desde o início, o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi pediu a reabertura das escolas, o que considera uma condição essencial para a recuperação econômica, mas o governo não está disposto a tomar tal medida.
O primeiro-ministro Giuseppe Conte insistiu na importância de um programa "bem articulado, que concilie a proteção da saúde e as exigências da produção para uma recuperação, que mantenha sob controle a curva epidemiológica e a capacidade de reação da maior parte das estruturas hospitalares".
Embora o pior da onda epidêmica pareça ter passado, "a questão chave diz respeito ao possível retorno do vírus no outono" (hemisfério norte), adverte Luca Zaia, governador do Veneto.
"Conviver com o vírus significa repensar a cada dia. Não nos horários de pico em todas as fases da vida diária. Temos que esquecer as ruas e os transportes públicos lotados", advertiu o diretor do Instituto Superior de Saúde, Silvio Brusaferro.
O ritmo de recuperação provoca divergências entre o Norte, motor econômico do país, muito afetado pela epidemia, e o Sul, pobre e relativamente pouco afetado, mas cujo sistema de saúde parece mal preparado para enfrentar um eventual novo surto de COVID-19.
"Talvez eles sejam mais otimistas que nós. Aqui as coisas serão feitas por etapas, não podemos assumir riscos", advertiu a presidente da Calabria (sul), Jole Santelli, ao comentar o desejo de fim do confinamento do Norte.
Seu colega da Campania (sul), região onde fica Nápoles, Vincenzo de Luca, aspira que após o fim do confinamento o país mantenha a proibição dos deslocamentos entre as regiões e que os visitantes do Norte possam ser colocados em quarentena.
Em sua estratégia para evitar qualquer novo surto de pandemia, a Itália aumentou a taxa de testes de saliva (entre 50.000 e 60.000 por dia) e a Lombardia planeja iniciar esta semana testes sorológicos para os profissionais da saúde nas cidades mais afetadas.