Fila de desempregados na Espanha: quase metade dos jovens não tem trabalho (Dominique Faget/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2011 às 16h57.
Madri - A Espanha registra pela primeira vez em décadas um saldo migratório negativo por causa da crise, que obriga milhares de jovens profissionais a tentar ganhar a vida em países como o Brasil e a Alemanha.
"Obviamente minha decisão é motivada pela situação que nosso país atravessa", afirma Lorena Escartín, 25 anos, licenciada em Sociologia e Antropologia, que está disposta a voltar para o Brasil em busca do trabalho que não encontra na Espanha.
Em um país onde o desemprego afeta 20,89% da população ativa e 46% dos menores de 25 anos, cada vez mais jovens profissionais espanhóis optam por procurar novos horizontes trabalhistas.
"Há uma falta de perspectiva de futuro", explica Vera Giró, que há dois anos se formou em Comunicação Audiovisual, que com 24 anos viajou para a Argentina e acaba de voltar a seu país.
"Quando me formei, todos os meus colegas formados já se queixavam da falta de oportunidades. Fui embora para tentar a sorte", explica.
Pela primeira vez em décadas, a Espanha perdeu 70.000 residentes no primeiro semestre deste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), e, apesar de muitos deles serem imigrantes que voltaram para seus países devido à crise, uma boa parte é de espanhóis que deixaram sua terra natal.
Dessa forma, 36.967 espanhóis e espanholas imigraram para o exterior em 2010, 18.838 dos quais com idades variando entre 18 e 45 anos, segundo o INE.
Um estudo da sociedade de recursos humanos Adecco assinala que, entre abril de 2008 e abril de 2010, o número de pessoas que optaram por trabalhar fora da Espanha duplicou, aumentando em 9,2% (118.145 pessoas) o número de espanhóis maiores de idade residentes no exterior.
"Está claro que é um fenômeno que está se acelerando", afirma José Antonio Herce, ex-professor de Economia da Universidade Complutense e membro da assessoria Analistas Financeiros.
Para muitos, a motivação não é apenas encontrar um emprego, e sim conseguir que suas carreiras profissionais evoluam mais rápido.
É o caso de Oriol González, de 36 anos, diretor da unidade de farmacêutica da Roche em São Paulo. Ele chegou ao Brasil em setembro de 2009 para trabalhar em uma empresa espanhola que se instalou no país e depois foi contratado pelo laboratório.
Ele deixou a Espanha por não ter perspectivas profissionais. "No Brasil, me deram um bom salário e também um nível de responsabilidade maior", explica.
Copa do Mundo de futebol em 2014, Jogos Olímpicos em 2016 e um crescimento econômico de 7,5% de PIB em 2010: o Brasil precisa de arquitetos, engenheiros e técnicos que a Espanha pode oferecer, afirmou há alguns meses seu embaixador em Madri, Paulo César de Oliveira Campos, pedindo que os jovens espanhóis trabalhem em seu país.
Desde então, um número maior de pessoas procuraram a embaixada brasileira procurando saber dos quesitos necessários para ir ao Brasil, conforme confirma Lorena Alvarez, da embaixada brasileira em Madri.
Retoma-se assim uma tendência quase esquecida dos anos 40 e 50, tempos de miséria na Espanha do pós-guerra civil, quando os trabalhadores espanhóis imigravam para a Alemanha, França ou Argentina em busca de oportunidades.
Mas ao contrário deles, estes novos imigrantes são jovens formados, bem qualificados e sem pesos familiares, explica Herce.
No entanto, a maioria continua imigrando principalmente para países da Europa, como França, Alemanha e Reino Unido.
Precisamente na Alemanha, um país com uma economia florescente e milhares de postos vagos, teve início em abril um programa de recrutamento de jovens engenheiros na Espanha. Em alguns meses, 17.000 espanhóis se informaram sobre as possibilidades de trabalho na Alemanha, segundo as fontes da Agência para o Emprego alemã.
Este fluxo implica um risco para a Espanha, alerta Herce. "Dos universitários imigrarão os mais qualificados, e vamos ficam com o menos aventureiro, o menos experiente, o menos qualificado", explica.
"Acho que vai se perder toda uma geração de jovens adultos que estão indo embora e que não sei se voltarão algum dia", alerta Lorena Escartín.