Toda a energia que sobra é repassada à rede pública e também vendida pelo mercado de carbono (Orlando Sierra/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 19h05.
São Paulo - A Samso é uma ilha de 15 km de extensão na costa leste da Dinamarca. Lar de 4.300 residentes, a península tem 100% de sua energia proveniente de fontes renováveis. O local ainda possui excedentes, que são repassados à rede pública.
Em 1997, a pequena ilha dinamarquesa ganhou um concurso patrocinado pelo Ministério Dinamarquês de Ambiente e Energia. Situada no Estreito de Kattegat, a península até então conhecida por sua produção de laticínios e criação de suínos, se tornaria modelo para energia sustentável, ficando livre de carbono.
O governo inicialmente não ofereceu financiamento, incentivos fiscais ou conhecimentos técnicos. Quase toda a energia da ilha, com cerca de 4.300 moradores, advinha de petróleo ou carvão e sua comunidade nada sabia sobre energias renováveis. Assim, a mudança parecia uma tarefa impossível.
Soren Hermansen, porém, viu uma oportunidade. Morador nativo, Hermansen lecionava estudos ambientais em uma escola local quando ouviu falar do prêmio Samso. O apelo foi imediato, e quando o projeto de energia renovável finalmente conseguiu algum financiamento, ele se ofereceu para ser o primeiro - e o único-funcionário. "Eu percebi que isso poderia acontecer", disse ele.
Hermansen sabia que os moradores da ilha eram muito unidos e conservadores. Mas isso poderia ser uma vantagem: uma vez que ele convencesse parte da população a agir, o restante o seguiria. Então o dinamarquês apareceu em todas as reuniões da comunidade para dar seu passo em direção ao “verde”. E muitas vezes ele levava “cerveja grátis”.
Funcionou. Eles compraram ações em novas turbinas eólicas, o que gerou o capital para construir 21 turbinas eólicas em terra e em alto mar. Os ilhéus utilizam sobras da agricultura para produzir calor e água quente.
Sistemas de aquecimento e de geração de energia solar também são utilizados. Atualmente, de cada dez propriedades da ilha, sete usam o vento ou o sol para produzir energia. Toda a energia que sobra é repassada à rede pública e também vendida pelo mercado de carbono.
Em entrevista ao Jornal Nacional, um fazendeiro revelou que a sobra de energia gera um faturamento equivalente a R$ 1 milhão por ano, o triplo do que rende o gado. “Eu vendo mais eletricidade do que leite”, disse ele.
A ilha agora usa cabos submarinos para exportar eletricidade para o continente. O lucro de R$ 80 milhões por ano é usado em obras sociais pela associação de moradores. Como resultado, a comunidade possui um dos maiores índices de qualidade de vida do mundo. Existem poucos veículos à combustão por lá, a maioria é elétrico, e a pegada ambiental é praticamente zero.
Hermansen atualmente é diretor da Samso Energy Academy, centro de estudos de energias, e viaja de país para país contando a história de sucesso. Porém, ele é o primeiro a dizer que o crédito real pertence à ilha, e que a lição de Samso é que as mudanças ambientais só podem vir de baixo para cima. "As pessoas dizem: Pensar globalmentee agir localmente", Hermansen comenta. "Mas eu digo que você tem que pensar localmente e agir localmente, e o resto cuidaráde si mesmo."