Roma - Mais da metade do carbono na Amazônia poderia ser liberada na atmosfera a menos que os direitos territoriais indígenas sejam protegidos, afirmou um novo estudo nesta terça-feira, enquanto acontece a cúpula climática da Organização das Nações Unidas (ONU) em Lima, no Peru.
Territórios indígenas e áreas naturais protegidas em nove países sul-americanos representam mais da metade do carbono presente na Amazônia, mostrou o estudo publicado no periódico Carbon Management.
Se estas terras forem exploradas para a extração de madeira, a mineração ou a agricultura comercial, a maior parte do carbono será lançado na atmosfera, acelerando o aquecimento global, afirmou o documento "O Carbono das Florestas na Amazônia: As Contribuições Ignoradas dos Territórios Indígenas e das Áreas Naturais Protegidas".
"O reconhecimento e o investimento internacionais em áreas indígenas e naturais são essenciais para garantir sua contribuição contínua para a estabilidade do clima global", disse Richard Chase Smith, da organização não governamental peruana Instituto del Bien Común, em um comunicado.
Os territórios dos povos indígenas amazônicos guardam mais carbono florestal que países tropicais inteiros, como a Indonésia e a República Democrática do Congo, afirmou Wayne Walker, cientista que trabalhou no estudo.
O interesse de fazendeiros, mineradoras e barões da madeira nos recursos da Amazônia pode forçar os indígenas a sair de suas terras e contribuir para o desflorestamento, liberando mais carbono na atmosfera.
Mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados de áreas amazônicas protegidas, uma região maior que a Amazônia colombiana, equatoriana e peruana combinadas, estão em risco, aponta o estudo.
"Nunca estivemos sob uma pressão tão grande", afirmou em comunicado o presidente do grupo ativista Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, Edwin Vásquez.
A Amazônia engloba 2.344 territórios indígenas e 610 áreas protegidas.
Preservar estes territórios custaria entre 2 bilhões e 4 bilhões de dólares, disseram os autores do documento, argumentando que os compromissos atuais de financiamento para reduzir o desflorestamento poderiam cobrir a despesa.
A destruição de ecossistemas ricos em carbono na Amazônia diminuiria sua capacidade de funcionar apropriadamente, causando um dano potencialmente irreversível à atmosfera, disse o estudo.
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1. Uma máquina ambiental magnífica
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1/6 (Divulgação)
São Paulo – Parte da origem da crise hídrica que assola a região Sudeste pode encontrar-se muito além da visível falta de planejamento do poder público e do mau humor de São Pedro — há mais 2000 quilômetros de distância, no
desmatamento e na degradação da
Amazônia.
É o que sugere um relatório que sintetiza, pela primeira vez, cerca de duzentos dos principais estudos e artigos científicos sobre o papel da
floresta amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para regiões distantes. Conduzido pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), a pedido da Articulación Regional Amazónica (ARA), o estudo “O Futuro Climático da Amazônia” revela os poderes invisíveis desta máquina de regulação ambiental, chamada pelos cientistas de “oceano verde”, e os impactos de sua destruição. “As florestas tropicais são muito mais que uma aglomeração de árvores, repositório passivo de biodiversidade ou simples estoque de carbono. Sua tecnologia viva e dinâmica de interação com o ambiente lhes confere poder sobre os elementos, uma capacidade inata e resiliente de condicionamento climático. Elas condicionam o clima que lhes favoreça, e com isso geram estabilidade e conforto, cujo abrigo dá suporte ao florescimento de sociedades humanas”, define Nobre. Como o clima interage com a vegetação, a mudança de um gera efeito no outro. Dessa forma, o ataque implacável da motosserra na floresta é capaz de alterar sobremaneira o mecanismo das chuvas. Sem precipitação, a floresta pega fogo. O fogo consome tudo o que há pela frente, incluindo as árvores grandes, tão necessárias para a manutenção do equilíbrio hidrológico. Segundo o pesquisador, reduzir a zero o desmatamento já não é suficiente para garantir segurança ao sistema. É preciso recuperar tudo aquilo que foi ceifado, o que não é pouco: no Brasil significa uma área de 763 mil Km2, o que equivale a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol. Conheça a seguir cinco descobertas importantes para a chamada “ecohidrologia” amazônica, conforme o relatório >
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2. 1. A floresta jorra volumes colossais de água para a atmosfera
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2/6 (foto/Getty Images)
O primeiro poder da floresta amazônica é sua capacidade de manter o ar sempre úmido e em movimento, levando chuvas para o interior do continente, em áreas até 3 mil quilômetros distantes dos oceanos. Isso só é possível graças à capacidade inata das árvores de transferir volumes colossais de água do solo para a atmosfera através da transpiração. Segundo a pesquisa, uma árvore grande pode bombear do solo e transpirar mais de mil litros de água num único dia. Considerando a transpiração de todas árvores da bacia amazônica, são 20 bilhões de toneladas de água por dia, ou 20 trilhões de litros! Na ponta do lápis, as árvores jorram para atmosfera mais água do que o rio Amazonas despeja no oceano, cujo volume é estimado em 17 bilhões de toneladas ao dia.
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3. 2. Ajuda a formar nuvens "carregadas"
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3/6 (Don Emmert/AFP)
O segundo poder da floresta amazônica na regulação das chuvas é a capacidade de formar nuvens “carregadas” mesmo tendo acima de si ar limpo como a atmosfera dos oceanos. É que, segundo o estudo, as árvores emitem uma espécie de aroma que, numa atmosfera úmida e na presença da radiação solar, formam uma poeira finíssima com afinidade pela água. São os núcleos de condensação das nuvens. Essas sementes de “nucleação” carregadas de vapor provocam as chuvas fartas das nuvens baixas.
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4. 3. Garante chuva (mesmo em tempo de seca)
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4/6 (Wev’s Bronw/Creative Commons)
A formidável resistência a condições externas desfavoráveis e a competência em manter o adequado funcionamento do ciclo hidrológico, à despeito de secas, são o terceiro segredo da floresta. Tal capacidade pode ser entendida pela nova teoria da “bomba biótica”. Funciona assim: a transpiração das árvores associada à formação das nuvens e chuvas leva a um rebaixamento da pressão atmosférica sobre a floresta, que suga o ar úmido sobre o oceano para dentro do continente, mantendo as chuvas em quaisquer circunstâncias. Em tempos de seca, segundo o estudo, as árvores grandes e com raízes profundas têm acesso a grande quantidade de água subterrânea. Com essa vantagem, executam um programa para manter ou até mesmo aumentar a transpiração. “Ao contrário, se a floresta for removida, o continente terá muito menos evaporação do que o oceano, com a consequente redução na condensação, o que determinará uma reversão nos fluxos de umidade, que irão da terra para o mar, criando um deserto onde antes havia floresta”, diz a pesquisa.
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5. 4. Exporta rios aéreos para outras regiões
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5/6 (Divulgação/ESA/NASA)
A floresta também é extremamente generosa. Ela não guarda toda a umidade para si mesma, exportando vapor d´água para outros países e regiões do Brasil. É este quarto segredo que explica porque a porção meridional da América do Sul, a leste dos Andes, não é desértica, como áreas na mesma latitude, a oeste dos Andes e em outros continentes. Noutras palavras, a Amazônia é a verdadeira cabeceira dos mananciais aéreos da maior parte das chuvas na América do Sul. Devido ao efeito da floresta na movimentação da umidade e também da imensa barreira de 6 km de altura da cordilheira dos Andes, os rios voadores amazônicos fazem curva no Acre e, durante o verão, passam por cima de nossas cabeças carregando umidade para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Essa doação ajuda a garantir equilíbrio hídrico no quadrilátero mais afortunado do país, centro da produção agrícola e industrial, mesmo após a devastação de 90% da Mata Atlântica.
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6. 5. É um "freio" para eventos extremos
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6/6 (AFP)
Além de todos os outros serviços que a floresta presta ao clima, ela ainda oferece um seguro contra eventos climáticos extremos, atenuando a concentração de energia nos ventos. Este quinto segredo é a razão pela qual a região amazônica e oceanos próximos não fomentam a ocorrência de fenômenos atmosféricos como furacões e outros eventos climáticos extremos. Segundo o estudo, a atenuação da violência atmosférica tem explicação no efeito dosador, distribuidor e dissipador da energia nos ventos, exercido pelo rugoso dossel florestal (resultado da sobreposição dos galhos e folhas das árvores) e pelo feito da “bomba biótica”. “A vasta cobertura florestal impede concentração de energia dos ventos em vórtices destrutivos, enquanto o esgotamento de humidade atmosférica pela remoção lateral de cima do oceano, priva as tempestades do seu alimento energético (vapor de água) nas regiões oceânicas adjacentes”, explica a pesquisa.