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AFP
Publicado em 22 de dezembro de 2022 às 16h57.
Última atualização em 22 de dezembro de 2022 às 17h13.
O sonho da jovem iemenita Abir al-Maqtari de estudar no exterior naufragou com o endurecimento das restrições às mulheres, como acontece nos regimes religiosos do Irã e do Afeganistão.
Os huthis apoiados pelo Irã — que controlam parte do território iemenita desde que tomaram a capital do país, Sanaa, em 2014 — estão impondo cada vez mais restrições de viagem às mulheres nos últimos oito meses, relatam moradores e ativistas.
Maqtari, de 21 anos, oriunda da cidade de Taez, no sudoeste do Iêmen, estava com tudo pronto para estudar no Egito, graças a uma bolsa de estudos no Cairo. Foi proibida pelos huthis de sair do aeroporto de Sanaa sem um acompanhante masculino.
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"Então, pensei em tentar viajar pelo aeroporto de Áden [controlado pelo governo], mas os huthis também me impediram de chegar lá", contou. Ainda que bastante conservadora, a sociedade iemenita deixa espaço para as liberdades individuais. Isso está mudando sob o movimento huthi, fundado com o objetivo de promover uma teocracia.
Recentemente, os rebeldes tomaram medidas drásticas contra as mulheres que viajam sem um "mahram", ou parente do sexo masculino, mesmo dentro do país. Além disso, as que vivem no reduto dos rebeldes no noroeste de Sadah têm acesso a métodos contraceptivos apenas com receita médica e na presença do marido.
Em Sadah e em algumas pequenas localidades, as mulheres não podem viajar sozinhas depois do anoitecer, nem mesmo para emergências médicas. Uma força policial feminina chamada "Zainabiyat" impõe controles nas estradas.
Há, no entanto, inúmeros exemplos de mulheres que reclamam e resistem a essas medidas, principalmente nas grandes cidades.
"Como mulher iemenita, sinto que estão roubando todos os meus direitos e liberdades", declara Maqtari.
Os huthis da zona montanhosa do norte do Iêmen pertencem à minoria zaidi, um braço do islamismo xiita que compõe mais de um terço da população deste dividido país, de maioria sunita.
Esse grupo de linha dura surgiu na década de 1990, para denunciar o abandono de sua região. Luta contra uma coalizão pró-governo liderada pela Arábia Saudita desde 2015. Esse conflito já deixou centenas de milhares de mortos e milhões de pessoas à beira da fome.
As restrições das liberdades das mulheres acontecem em paralelo ao anúncio dos decretos dos fundamentalistas talibãs no Afeganistão, embora não façam parte da lei iemenita e sejam aplicadas arbitrariamente por meio de diretrizes dos rebeldes.
Radhya al Mutawakel, cofundadora do grupo iemenita de direitos humanos Mwatana, adverte que as restrições de viagem estabelecem um precedente "muito perigoso" e afetam, de maneira desproporcional, as mulheres que trabalham.
"Esta é a primeira vez que uma decisão que limita a liberdade de movimento das mulheres vem de uma autoridade oficial", disse Mutawakel.
Bilqees al Lahbi, consultora de gênero do "think tank" Centro de Estudos Estratégicos de Sanaa, considera que as restrições visam satisfazer a ala mais extremista do movimento huthi e a exercer controle político.
“Eles se inspiram tanto no modelo iraniano quanto no dos talibãs para silenciar toda oposição e subjugar a sociedade”, completa.
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