Hotel Trump em Washington: “Isto aqui é a Trumplândia. Não é sequer zona neutra. Não é sequer terra de ninguém. É a Trumplândia. Os membros da campanha e do governo se sentem à vontade vindo aqui", diz ex-assessor (Astrid Riecken/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de maio de 2017 às 18h15.
Nova York - Era uma noite de terça-feira no Trump International Hotel em Washington, e o saguão com piso de mármore repleto de lustres e revestido de dourado estava movimentado.
Em uma cadeira acolchoada no bar, o ex-assessor de campanha de Trump Michael Caputo explicava por que usa um anel com uma caveira no dedo médio da mão direita e um bracelete na esquerda.
A história sobre a origem das joias incluía um assassino ucraniano, amor, um circo francês, se esconder da máfia, um ashram indiano, os Rolling Stones e uma campanha para conseguir votos na Rússia, mas ele não receava ser ouvido por inimigos.
“Se você vai a um bar em Capitol Hill ou a um restaurante no centro, está em território alheio”, disse Caputo. “Isto aqui é a Trumplândia. Não é sequer zona neutra. Não é sequer terra de ninguém. É a Trumplândia. Os membros da campanha e do governo se sentem à vontade vindo aqui.”
As quase 50 horas seguidas passadas dentro do segundo edifício mais importante de Donald Trump, na Avenida Pennsylvania -- do final da manhã de 25 de abril até o início da tarde de dois dias depois -- mostram por que o hotel é o símbolo perfeito de sua presidência.
O saguão atrai fãs de Trump que comemoraram as promessas dele de limpar a lama de Washington, além de atores do poder que sabem como atravessá-la.
Como boa parte do dinheiro deles acabará nos bolsos de Trump, e o governo que ele controla arrendou o edifício para ele, poucos lugares apresentam mais conflitos possíveis para o presidente.
Em um elevador, na manhã de terça-feira, o secretário do Tesouro Steven Mnuchin levava nos braços um pequeno cachorro. O ex-sócio do Goldman Sachs, que apresentaria a reforma tributária de Trump no dia seguinte, subiu perto das 10 da noite.
Uma avó da Flórida que viajava para visitar uma amiga comia batata frita no bar. Ela ergueu os braços para elogiar a reforma feita por Trump neste antigo edifício do correio, de 118 anos, projeto que custou cerca de US$ 200 milhões. Ela afirmou que a reforma a deixou esperançosa em relação aos EUA.
Naquela semana, Noah Bookbinder enviou uma carta aos senadores a respeito do hotel. O ex-procurador federal, que lidera a organização sem fins lucrativos Citizens for Responsibility and Ethics em Washington, tem algumas questões a levantar.
Na visão dele, a Constituição dos EUA proíbe os presidentes de receberem qualquer coisa de valor de autoridades estrangeiras sem o consentimento do Congresso, o que é um problema agora que Bahrain, Kuwait e Azerbaijão realizaram eventos no prédio.
Além disso, ele afirma que o arrendamento de 60 anos que Trump assinou com o governo em 2013 proíbe políticos eleitos de se hospedarem no hotel.
A Administração de Serviços Gerais dos EUA afirmou em março que não via nenhum problema e a carta de Bookbinder pede que os senadores investiguem o motivo. O grupo dele processou o presidente por causa do hotel em janeiro.
Trump ainda possui participação no projeto, apesar de tê-lo colocado em um trust controlado por seus filhos adultos, que atualmente também comandam as Organizações Trump.
Os advogados do presidente afirmaram que ele doará os lucros do hotel oriundos de governos estrangeiros ao Tesouro, sem detalhar como funcionaria a operação.
Na noite de terça-feira, quando Caputo estava sentado no bar contando a história sobre como conheceu sua esposa quando trabalhava em uma campanha política ucraniana, depois a seguiu para a França e a Índia, o ex-assessor de Trump disse que o hotel o lembrou de um país em particular.
“Rússia”, disse Caputo, que trabalhou para uma subsidiária da estatal Gazprom e para uma campanha de Boris Yeltsin. “Eles possuem edifícios 900 anos mais velhos que este”, acrescentou, antes de caminhar pelo piso de mármore para comer um bife.