Homs, na Síria: a terceira maior cidade da Síria aspirava se transformar em uma Dubai (Khaled al-Hariri/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2014 às 14h26.
Beirute - Três anos bastaram para que a cidade de Homs tenha deixado de ser um projeto de futura Dubai síria para sofrer com pesadelos por conta de uma guerra que devastou totalmente sua parte antiga.
Mais de 20 meses de assédio militar e de choques entre os rebeldes e o exército deixaram um panorama desolador na parte velha desta cidade: edifícios destruídos, grandes danos em seu antigo mercado e ruas que retratam a fuga de seus habitantes.
No entanto, houve um tempo, antes do início do conflito em meados de março de 2011, em que a terceira maior cidade da Síria aspirava se transformar em uma urbe semelhante com as povoadas em países do Golfo Pérsico, como Dubai e Doha.
O projeto "Sonha Homs", lançado pelo governo local, consistia em uma iniciativa integral para renovar os bairros antigos da cidade.
Segundo vídeos promocionais divulgados na internet, a proposta contemplava uma remodelação da cidade com a construção de arranha-céus, grandes avenidas, jardins, centros de negócios, e previa inclusive o funcionamento de um bonde.
"Sonha Homs, a realidade deve ser completada" era um dos lemas desta ambiciosa iniciativa, que causou polêmica entre os residentes da cidade.
"Certamente as pessoas não gostavam", assegurou em Homs o ativista opositor Samer al Homsi em uma conversa com a Agência Efe pela internet.
Em sua opinião, o projeto "Sonha Homs" pretendia demolir parte do mercado antigo e construir em seu lugar grandes superfícies comerciais.
"O objetivo era mudar a fisionomia da cidade e seus marcas ", segundo o ativista.
Antes do começo dos protestos contra o presidente sírio, Bashar al Assad, Homs era uma cidade conhecida por ser um local de diferentes religiões e exemplo de coexistência e de respeito.
"Era famosa por seus bazares antigos, que infelizmente foram destruídos, e por suas lojas de doces, como Abu Laban e Doces Khamis. O comércio florescia e os locais permaneciam abertos dia e noite", lembrou Al Homsi.
Quando o projeto de remodelação foi lançado, os moradores do centro e os comerciantes se mobilizaram, e inclusive houve protestos em frente à sede do governo local.
Nader, um refugiado sírio que agora vive no Líbano na cidade fronteiriça de Arsal, recorda bem da controvérsia que originou o projeto "Sonha Homs".
"O povo não queria esse projeto", contou à Efe por telefone Nader, que antes de fugir ao país vizinho há 16 meses residia no bairro de Rifai em Homs.
De acordo com este refugiado, as autoridades queriam mudar a demografia da cidade, que ele descreve como "tranquila", onde conviviam mais de uma dezena de religiões, embora a maioria de seus habitantes fossem muçulmanos sunitas.
"Havia cristãos, sunitas, xiitas, alauitas... E todos estávamos em paz", ressaltou Nader.
No entanto, lamenta, "o regime desejava transformá-la em uma cidade de maioria alauita (seita à qual pertence Assad), porque aspirava que as regiões fronteiriças com o Líbano fossem alauitas".
Seja como for, o início da violência na Síria após março de 2011 acabou com o projeto "Sonha Homs", que atualmente está muito distante da realidade, em um país imerso em uma guerra civil com repercussões regionais.
Depois da retirada dos cerca de dois mil rebeldes que permaneciam em sua parte antiga e a tomada de controle das Forças Armadas, a cidade tenta apagar agora suas feridas no meio de um cenário de devastação total.
As autoridades anunciaram que sua prioridade neste momento é restabelecer a segurança e as provisões de água e eletricidade para que os moradores possam retornar.
Além disso, foram formados grupos de voluntários civis para avaliar as perdas e informar sobre as necessidades de cada bairro.
Como primeiro passo, os primeiros cidadãos entraram nesta semana no local, embora ainda pareça complicado que a vida possa retornar à normalidade em Homs.