General Leopoldo Fortunato Galtieri, presidente da Argentina durante a Guerra das Malvinas (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2012 às 10h30.
Buenos Aires - As histórias dos ex-combatentes da Guerra das Malvinas ganham destaque pouco depois de se completar 30 anos da disputa que colocou em confronto Argentina e Reino Unido, e que deixou uma ferida aberta nos jovens enviados para a frente de batalha.
Histórias como a de Pedro Cáceres, um argentino de 49 anos que sente que pôde encerrar um capítulo de sua vida ao voltar pela primeira vez às ilhas esta semana e percorrer os lugares onde há três décadas evitou bombas, se esquivou de balas e suportou as baixas temperaturas das Malvinas 'sem ter dimensão do que acontecia', relatou à Agência Efe.
Cáceres é um dos quatro ex-combatentes argentinos que no último dia 18 ganharam a prova de revezamento no Standard Chartered Stanley Maratona 2012 ou Maratona das Ilhas Malvinas, palco da guerra entre Argentina e Reino Unido entre 2 de abril e 14 de junho de 1982.
'Vou embora feliz das ilhas. Para mim foi muito importante ganhar a corrida, mas também me serviu para fechar minha história. Percorremos os lugares nos quais estive durante a guerra. Encontramos inclusive buracos de bomba que caíram perto de nós', explicou.
Este veterano conseguiu se manter de bom ânimo durante parte de seu percurso pelas ilhas, mas admitiu que veio abaixo pouco antes de deixar as Malvinas, ao lembrar das vítimas da guerra: mais de 650 argentinos e 255 militares britânicos.
Aos mortos durante a disputa se somaram as centenas de ex-combatentes de um e de outro lado que se suicidaram depois.
A própria presidente argentina, Cristina Kirchner, se referiu recentemente a este assunto para lembrar que depois da guerra 'mais de 400 argentinos e 264 britânicos se suicidaram'.
'Houve mais mortos depois da guerra que no próprio campo de combate; isto demonstra o horror e como perfura, atravessa a vida das pessoas esse flagelo. Por isso vamos continuar insistindo várias vezes na não militarização de nossa região', afirmou a presidente durante um ato oficial.
O argentino Miguel Ángel Brítez é um dos veteranos aos quais a guerra causou uma brusca reviravolta em sua vida, ao ponto de acabar de retornar para casa após sobreviver como mendigo no Uruguai, enquanto sua família o dava como morto.
Brítez, que integrou um dos comandos da Infantaria da Marinha argentina que invadiu as ilhas, se recupera em um hospital da província argentina de Corrientes, no norte do país, após uma odisseia digna de um roteiro de filme de guerra.
'Está lúcido e um pouco melhor em seu estado geral, embora ainda não possa movimentar nem o braço nem a perna esquerda', explicou à Efe José Galván, titular da Direção Provincial Malvinas Argentinas, que reúne ex-combatentes da província.
Depois da rendição das tropas argentinas no dia 14 de junho de 1982, o ex-combatente voltou a Corrientes, mas ao não conseguir emprego, anunciou a seus familiares que iria se mudar para Tucumán.
Sua família perdeu contato com ele e acreditava que tinha morrido, até sexta-feira passada, quando foi encontrado em um hospital da cidade uruguaia de Tacuarembó.
Após recuperar sua lucidez e revelar sua identidade e nacionalidade, as autoridades do hospital de Tacuarembó avisaram o consulado argentino e este o Governo de Corrientes, que esta semana o repatriou em um avião.
Histórias como estas sacodem a memória dos argentinos no meio de uma renovada tensão entre Argentina e Reino Unido, por causa da reivindicação de soberania sobre as Malvinas.
'É necessário dar uma mão à paz, respeitar o que os organismos internacionais aos quais estamos todos submetidos ordenam', insistiu Cristina ao reivindicar mais uma vez a soberania das ilhas.