HILLARY E BILL CLINTON: em meia a críticas sobre aproximação do casal com empresários, acontece a Clinton Global Initiative, promovido pela Fundação Clinton / Mark Kauzlarich/ Reuters
Da Redação
Publicado em 29 de julho de 2016 às 07h03.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h33.
Sérgio Teixeira Jr., de Nova York
Hillary Clinton fez seu discurso de aceitação da indicação do Partido Democrata na noite de quinta-feira, falando em unir os Estados Unidos e rebatendo a afirmação de Donald Trump que “eu sozinho consigo consertar” os problemas do país. “Forças poderosas estão ameaçando nos separar, laços de confiança e de respeito estão desfiando”, disse Hillary. “Não há garantias. Temos de decidir se vamos trabalhar juntos para progredir juntos. O lema do nosso país é e pluribus unum, entre muitos, somos um. Vamos nos manter fieis a esse lema?”
Hillary afirmou que Trump quer que os americanos “tenham medo do futuro e tenham medo uns dos outros”. “Não deixem que ninguém lhes diga que nosso país é fraco. Não somos. Não deixem que ninguém lhes diga que não temos o que é necessário. Nós temos. E, acima de tudo, não acreditem em que diz: ‘Eu sozinho consigo consertar’.”
O discurso de ontem reforçou o abismo que separa Donald Trump e Hillary Clinton e marca uma das maiores polarizações políticas da história do país. Os Estados Unidos de Trump estão acuados pela ameaça do extremismo islâmico, e uma das medidas que ele propõe é proibir a entrada de muçulmanos vindos de países “comprometidos pelo terrorismo”. Hillary disse que não vai “proibir uma religião”.
Trump também promete construir um muro na fronteira com o México. Hillary falou em “construir um caminho para a cidadania para milhões de imigrantes que já contribuem com a nossa economia”. Trump, apoiado pelo lobby dos fabricantes de armas de fogo, falou em ser o “presidente da lei e da ordem”. Hillary disse que não vai proibir o comércio de armas, mas que vai estabelecer controles mais severos para que elas não caiam nas mãos de criminosos e terroristas.
A convenção democrata teve como um dos temas centrais as próprias palavras de Trump – uma vantagem pois os republicanos realizaram sua convenção na semana anterior. Durante os intervalos, os telões mostraram declarações do republicano sobre a proibição da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos e as ofensas contra mexicanos e portadores de deficiência física. Vários dos oradores fizeram o mesmo em seus discursos. “Meu pai não é criminoso nem estuprador. Na verdade, ele é veterano [das Forças Armadas]”, disse a atriz Eva Longoria, famosa por sua participação na série de TV Desperate Housewives e filha de imigrantes mexicanos. Jogar Trump contra Trump deve ser uma das estratégias da campanha democrata daqui até novembro.
Parece inevitável, dada a quantidade de declarações ultrajantes feitas pelo republicano até aqui. Mas foi isso o que tentaram os 16 adversários do empresário durante as primárias republicanas – naturalmente sem sucesso. Nas pesquisas realizadas antes da convenção democrata, Trump aparecia empatado ou muito próximo de Hillary. O tom negativo e sombrio da campanha de Trump, aparentemente, encontrou eco junto a seus eleitores, e as sondagens dos próximos dias vão indicar se a estratégia está surtindo efeito.
A campanha eleitoral começa para valer agora. Além de vender ideias, os dois candidatos terão de vender a si mesmos daqui até 8 de novembro. Numa pesquisa do instituto Gallup realizada entre 18 e 25 de julho, 58% dos entrevistados afirmaram ter uma opinião desfavorável tanto de Trump quanto de Hillary. Ele é considerado um homem pouco preparado para assumir a Presidência; ela é vista como uma integrante da elite política e uma candidata pouco confiável.
As respectivas campanhas agora vão concentrar todas as atenções nos estados chamados “campos de batalha”, ou seja, aqueles que têm peso no colégio eleitoral e podem pender tanto para os democratas quanto para os republicanos. O primeiro dos três embates diretos entre os dois está marcado para 26 de setembro.