Bernie Sanders: após notícias de que Hillary detém o número de delegados para nomeação, Sanders reage e diz que vai lutar (Scott Olson/Staff/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 7 de junho de 2016 às 16h43.
São Paulo – Depois de os maiores veículos de imprensa dos Estados Unidos anunciarem que Hillary Clinton venceu e é dona do número necessário de delegados para garantir a nomeação oficial do Partido Democrata, a campanha do senador de Vermont Bernie Sanders reagiu e rechaçou essas afirmações.
As redes de notícia CNN e Associated Press (AP), que conduzem suas próprias pesquisas, se manifestaram sobre a vitória de Hillary na noite de segunda-feira. Na manhã dessa terça, jornais como The Wall Street Journal e The New York Times (NYT) também já consideram como certa a nomeação da ex-Secretária de Estado.
De acordo com Sanders, a luta não acabou, uma vez que supondo que ela tenha garantido o “número mágico” de delegados (2.383), ainda não há garantias de que os superdelegados, que representam boa parte desse número total e só votam durante a convenção nacional do partido, vão seguir do seu lado no momento certo e que é no dia 24 de julho.
Segundo Márcio Coimbra, coordenador de Relações Internacionais do Ibmec e diretor do Comitê de Política Acadêmica do Institute of World Politics (EUA), o superdelegado nada mais é que uma pessoa indicada pelo próprio partido, uma espécie de ferramenta institucional que garante o controle sobre o resultado das primárias e a nomeação oficial.
“No caso dos democratas, são necessários 2.383 delegados. Desse número, mais de 500 são superdelegados. Então, quem tem a maioria deles, tem a vantagem”, explicou em entrevista a EXAME.com. Mas para a decepção de Sanders, essa carta está na manga de Hillary: segundo monitoramento do NYT, ela detém o apoio de 571 deles e ele apenas 48.
Após as primárias do final de semana, Hillary chegou a 1.812 delegados. Somando essas 571 figuras que já declararam o apoio a ela, a ex-secretária de Estado teria, então, vencido.
Mas há uma pegadinha: essas pessoas não estão vinculadas a manter os seus votos e podem mudar de ideia até a convenção. E é essa a tese da equipe do senador para justificar a possibilidade de que ele ainda pode vencer a nomeação oficial já que, sem os superdelegados, Hillary não tem o número necessário para pleitear a indicação.
Contudo, para especialistas, a possibilidade de que os superdelegados de repente possam mudar de ideia não é real. “Eles são indicados justamente por estarem ao lado de um candidato ou de outro”, explica Coimbra. “Na hora, vão votar de acordo com o que o partido estabeleceu. ”
E se eles mudarem de lado? Essa tese não é impossível, porém, como esclarece o NYT, a pesquisa da AP que fundamenta as reportagens sobre a vitória de Hillary foi feita com base em entrevistas com esses superdelegados e não é provável que aqueles que a apoiaram tempos atrás tenham mudado de ideia nos últimos meses.
O jornal britânico The Guardian fez as contas e avaliou os cenários possíveis de vitórias nas próximas primárias e a matemática novamente não está ao lado de Sanders. De acordo com os cálculos da publicação, ele teria de garantir praticamente todos os delegados dessas primárias para evitar que Hillary se aproxime da linha de chegada.
Hillary conhece bem a importância dos superdelegados. Em 2008, quando disputou a nomeação oficial com Barack Obama, a ex-secretária de Estado desistiu antes da convenção do partido ao saber que, contando com essas superdelegados, Obama havia atingido o tal número mágico.
Sanders também sabe disso. Em entrevista ao NYT, o candidato disse que a verdadeira luta será a de convencer os superdelegados que se se manifestaram a favor dela há tempos a trocarem seus votos. “Esse será um caminho difícil de percorrer, mas não impossível. E pretendemos lutar por cada voto a nossa frente e por todos os delegados”.
A declaração deixa evidente que Sanders não vai dar sossego mesmo depois do fim das primárias em 14 de junho com a realização do pleito no Distrito de Columbia.
Como explicou Coimbra, os superdelegados são indicados pelo próprio partido. Uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, uma organização independente que é formada por especialistas de diferentes áreas que se dedicam ao estudo dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos, procurou revelar quem compõe esse seleto grupo.
E de acordo com o levantamento, são ex-presidentes, governadores, senadores, líderes do Congresso, grandes doadores e funcionários de longa data do partido. Eles correspondem a 15% do total de votos válidos para a convenção nacional e são, em sua maioria, homens brancos na faixa dos 60 anos de idade.
Ainda segundo a pesquisa do centro, de todos os superdelegados que apoiam Hillary, 85% deles são governadores e representantes do congresso, 62% são brancos e 41% são mulheres. No caso de Sanders, 76% deles são brancos e 26% mulheres.
Chamados oficialmente de “unpledged party leaders and elected oficials” (que em português seria algo como “líderes do partido e oficiais eleitos não-comprometidos”), ganharam a alcunha de superdelegados justamente pelo fato da não obrigatoriedade de manutenção do voto declarado. Ou seja, são livres para mudar de posicionamento o quanto quiserem até o dia da convenção.