Hezbollah: o movimento xiita deve impor novas condições para melhorar seu arsenal bélico (Khalil Hassan/Reuters/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de maio de 2018 às 11h02.
Última atualização em 8 de maio de 2018 às 11h03.
O movimento xiita libanês Hezbollah saiu politicamente fortalecido das eleições legislativas de domingo (6) e, agora, parece capaz de se permitir uma quase imunidade para seu polêmico arsenal militar - avaliam especialistas ouvidos pela AFP.
Os resultados dessas primeiras legislativas em quase uma década podem propiciar uma "esmagadora maioria" para benefício do partido xiita, comprometido militarmente nesses últimos anos com o regime de Bashar al-Assad na vizinha Síria.
O principal oponente do Hezbollah, o primeiro-ministro Saad Hariri, parece ser o grande derrotado nas urnas.
A "vitória" do Hezbollah permite ao movimento xiita "impor melhores condições" como parte do compromisso libanês, "de consolidar seu papel e seu arsenal, não apenas no Líbano, como na região", disse a diretora do Centro de Oriente Médio da Carnegie, Maha Yahya.
Classificado como "grupo terrorista" pelos Estados Unidos, o movimento apoiado por Teerã - única facção que não depôs as armas no Líbano após a guerra civil (1975-1990)- aumentou sua influência regional ao longo dos anos.
Implantado no Iraque e acusado de apoiar os rebeldes no Iêmen, o regime de Assad multiplicou suas vitórias na Síria frente aos rebeldes a aos extremistas, graças ao Hezbollah.
"É pouco provável que a questão das armas do Hezbollah volte ao centro do debate político libanês", disse o cientista político Karim Bitar.
"Até os rivais do Hezbollah, como Saad Hariri, integraram de alguma maneira o novo equilíbrio de poder", completou.
Em referência às legislativas, seu líder, Hassan Nasrallah, saudou na segunda-feira "uma grande vitória moral e política para a Resistência", como o movimento se autointitula em relação à luta contra Israel.
No passado, assegurou que seu partido estava em posse de um armamento sofisticado, incluindo mísseis capazes de atingir o coração de Israel.
Todas as tentativas de enfraquecer o grupo nos últimos anos fracassaram: desde sanções econômicas americanas até o conflito com Israel, que levou, em 2006, a uma devastadora ofensiva no Líbano, sem conseguir dobrar o Hezbollah.
Para Bitar, embora o partido vá ter apenas 13 de 128 cadeiras, sua "rede de alianças" lhe oferece "uma maioria no Parlamento" e garante "um direito de veto tácito sobre as decisões mais importantes".
Em um país onde os partidos tradicionais dominaram sem surpresa a votação, as atenções se concentram nos 29 assentos conquistados pela Corrente Patriótica Livre (CPL) do presidente Michel Aoun, capazes de inclinar a balança.
O Hezbollah terá de manter sua aliança com seu tradicional aliado, o partido xiita Amal, mas, sobretudo, conservar sua proximidade com a CPL.
"Dependerá, principalmente, da corrente aounista. Se confirmar sua aliança com o Hezbollah (...), essa coalizão terá uma maioria esmagadora", avalia Imad Salamey, professor de Ciência Política na Universidade Libanesa Americana (LAU), em Beirute.