Manifestantes seguram cartaz do lado de fora da embaixada da Nigéria em Washington: milhões de pessoas se somaram ao grito desesperado das famílias e aderiram à hashtag (AFP/Arquivos)
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2014 às 07h11.
Washington - Em um mês mais de 200 meninas foram sequestradas na Nigéria por uma milícia radical islâmica, mas o resto do mundo permaneceu alheio à tragédia até que quatro palavras no Twitter transformaram o crime em prioridade internacional: "Bring back our girls".
Milhões de pessoas se somaram ao grito desesperado das famílias e aderiram à hashtag, que quer dizer "tragam de volta nossas garotas", pressionando o governo da Nigéria e obrigando a comunidade internacional a se envolver no trabalho de resgate.
Nos Estados Unidos, de onde vieram quase a metade, 44%, dos tuítes da campanha, a iniciativa já é considerada uma nova demonstração do poder do que há alguns anos foi batizado como "hashtag activism".
"#BringBackOurGirls" nasceu, como costuma acontecer nestes casos, de maneira espontânea: o advogado nigeriano Ibrahim Abdula tuítou as palavras de Oby Ezekwesilila, ex-ministra de Educação da Nigéria e vice-presidente do Banco Mundial para a África.
Em 23 de abril, nove dias depois do sequestro das meninas, Ezekwesilila fez um discurso em um ato em Port Harcourt (Nigéria) onde reivindicou: "tragam de volta nossas garotas".
Abdula e, depois, outras pessoas que assistiram ao discurso, transformaram as palavras em uma hasthag que, em questão de dias, ultrapassou as fronteiras africanas e se tornou uma das mais populares no mundo todo.
A frase dos ativistas nigerianos foi adotada imediatamente por organizações internacionais como Unicef e Anistia Internacional e personalidades tão influentes como a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e o chefe da diplomacia americana, John Kerry.
Michelle Obama publicou em sua conta no Twitter uma foto segurando um cartaz onde se lia "#BringBackOurGirls". No domingo foi ela e não Barack Obama quem fez o tradicional discurso presidencial: em celebração ao Dia das Mães, em que pediu a libertação das meninas.
Estrelas do entretenimento também se somaram à causa: Angelina Jolie, Sean Penn, Justin Timberlake, Kerry Washington, Amy Poehler, Katie Holmes, Christina Aguilera, P. Diddy, Anne Hathaway, Kim Kardashian, Christiane Amanpour e Chris Brown, entre outros.
Os mais céticos alertam, no entanto, que por trás deste arrasador poder de convocação do "ativismo de hashtag" se esconde um grande vazio no qual não há contexto, nem envolvimento real, nem consequências.
"Funciona para despertar atenção. A pergunta é: Como a partir daí usar essa atenção?", questionou no Twitter a socióloga turca Zeynep Tufekci.
"Boko Haram, a milícia responsável pelo sequestro, matou mais seres humanos em um dia do que o total de meninas sequestradas. É horripilante e impossível de classificar", disse na rede social o escritor nigeriano-americano Teju Cole.
Suas críticas se unem às das centenas de usuários que se perguntam quantas dos milhões de pessoas que participaram desta campanha se informaram realmente sobre o ocorrido ou têm um interesse que vai além da cômoda e quase reflexa ação de retuítar.
É a outra cara do "ativismo de hashtag". Ninguém nega seu poder e velocidade de transmissão, mas muitos consideram um ativismo vago, de tela e de sofá, se não for acompanhado de ações efetivas depois.
"Certamente estamos tendo um impacto significante. Estou muito contente que #BringBackOurGirls tenha se transformado em algo tão grande. A pressão cresceu e o governo da Nigéria não tem mais escolha além de sentar e encontrar uma solução", defendeu o advogado Ibrahim Abdullahi, que, segundo os registros do Twitter, foi a primeira pessoa a usar a hashtag da campanha.
"Por mais que as hashtags possam parecer triviais, sua função básica é a de ser ferramenta para captar a atenção. Além disso, todo mundo pode usá-las livremente. Neste caso, os desesperados pais das meninas nigerianas, sem poder nem recursos, podem chamar o tipo de atenção que leva a uma pressão real", argumentou para a revista "TIME" Laura Olin, estrategista em redes sociais na campanha de reeleição do presidente Obama.
Preguiçoso ou não, o certo é que o "ativismo de hashtag" demonstrou com esta campanha para libertar as meninas nigerianas que pode ter consequências reais e decisivas: em poucos dias o mundo deixou de ignorar este terrível crime e o transformou em causa global.