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Haiti vai realizar eleições presidenciais em meio a grave crise

O país mais pobre das Américas tenta dotar-se de instituições sólidas depois do fim de três décadas da ditadura Duvalier

Haiti: entre os 27 candidatos à Presidência, apenas alguns fizeram campanha e quatro se apresentam como favoritos (Andres Martinez Casares)

Haiti: entre os 27 candidatos à Presidência, apenas alguns fizeram campanha e quatro se apresentam como favoritos (Andres Martinez Casares)

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AFP

Publicado em 18 de novembro de 2016 às 16h31.

O primeiro turno das eleições presidenciais do Haiti, disputada por 27 candidatos, será realizado no domingo (20), em um país mergulhado em uma profunda crise e devastado pelo furacão Matthew.

O país mais pobre das Américas tenta dotar-se de instituições sólidas depois do fim de três décadas da ditadura Duvalier e este processo eleitoral reflete esse longo caminho para a democracia.

Estas eleições são as que deveriam ter sido realizadas no ano passado, mas foram canceladas.

A primeira rodada daquelas eleições, realizada em 25 de outubro de 2015, na qual se apresentaram 54 candidatos, foi cancelada devido a fraudes que mergulharam o país em uma nova crise constitucional.

O então presidente, Michel Martelly, terminou seu mandato em 7 de fevereiro, sem passar o poder para um presidente eleito.

O Parlamento escolheu o titular do Senado, Jocelerme Privert, como presidente interino por três meses, mas o país tão dividido e com instituições tão frágeis não conseguiu reorganizar as eleições nesse prazo.

Quatro favoritos

Por fim, o primeiro turno foi marcado para 9 de outubro, mas também foi adiado devido à passagem do furacão Matthew, que devastou o sul do Haiti e deixou mais de 500 mortos.

Entre os 27 candidatos à Presidência, apenas alguns fizeram campanha e quatro se apresentam como favoritos.

Um dos principais candidatos é Jovenel Moïse, que venceu a votação anulada de 2015, depois de ser escolhido por Martelly para representar seu partido, o PHTK (Partido haitiano Tèt kale).

Também se apresentará novamente seu principal adversário, Jude Célestin, da Liga Alternativa para o Progresso e a Emancipação do Haiti (LAPEH), que chegou em segundo na votação anulada.

Disputarão, ainda, o candidato do Partido Petit Dessalines, Moïse Jean-Charles, senador que fez nome como um feroz detrator de Martelly e que participou regularmente das manifestações opositoras.

A campanha de Maryse Narcisse, uma das duas mulheres que brigam pela Presidência, gera particular interesse, pois esteve ao lado do ex-presidente Jean Bernard Aristide, que foi expulso em meio a uma revolta armada, apesar de ainda gozar de grande popularidade.

Exílio ou pobreza

Os 6,2 milhões de eleitores haitianos mostraram pouca motivação nas eleições de 2015, e apenas 25% delas foram às urnas.

Em um país onde mais da metade de seus habitantes têm menos de 20 anos, poucos jovens se interessam pela política nacional. Ante um desemprego endêmico, muitos se arriscam a imigrar ilegalmente para o continente americano.

O Haiti, com uma inflação superior a 10% e uma dívida interna que supera os 2 bilhões de dólares, viu boa parte de sua agricultura, o único setor com certo dinamismo, reduzir-se a zero pelos efeitos de Matthew.

"Chegou a hora"

Juan Raúl Ferreira, que lidera a missão de observação da Organização de Estados Americanos (OEA), se mostra mais otimista no que diz respeito à participação cidadã.

"Há uma dupla leitura a fazer do furacão: por um lado, obrigou a adiar as eleições e, por outro, provocou uma reação entre a população, que agora acha que é preciso realizar a eleição de uma vez por todas", explicou o diplomata uruguaio.

"As pessoas que sofrem com os enormes problemas depois do furacão, hoje dizem, 'quero ser representado em Porto Príncipe'. Chegou a hora de o Haiti ter instituições e autoridades democráticas", acrescentou Ferreira.

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