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Pré-sal está cercado de ilusionismos, dizem especialistas em energia

Para David Zylbersztajn e Adriano Pires, discurso sobre reserva de petróleo está "politizado demais" e pouco realista

David Zylbersztajn (à esq.) e Adriano Pires (à dir.) discutem o Pré-sal no EXAME Fórum Energia.    (.)

David Zylbersztajn (à esq.) e Adriano Pires (à dir.) discutem o Pré-sal no EXAME Fórum Energia. (.)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.

São Paulo - O atual cenário energético brasileiro mostra-se promissor para a geração de empregos e de riqueza, mas também revela muitos riscos políticos. A análise é dos especialistas em energia Adriano Pires, sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), e David Zylbersztajn, ex-presidente da EPE e diretor da DZ Negócios com Energia.

Durante o Exame Fórum Energia, que aconteceu nesta segunda (20), em SP, ambos foram categóricos ao afirmar que o petróleo da camada do pré-sal pode, sim, gerar riquezas para o país, desde que "não se torne um fim em si mesmo". O petróleo do pré-sal, dizem os especialistas, deve ser um incentivador de novas tecnologias para a produção de energia limpa e renovável.

"Nossa matriz energética não pode retroceder", disse Zylbersztajn, lamentando o tratamento oficial que tem sido dispensado à questão. "Infelizmente, o que o governo tem mostrado é uma estratégia de futuro que transforma o petróleo, sujo e finito, no principal agente de crescimento econômico, à exemplo do que acontece em governos autocráticos do Oriente Médio".

Segundo o ex-presidente da EPE, as benesses do pré-sal deveriam funcionar como um bem intermediário para o desenvolvimento de tecnologias limpas para produção energética. "Se os eventos climáticos extremos tiverem como causa o aquecimento global, cujo maior vilão é o combustível fóssil, o petróleo corre o risco de ser visto como cigarro daqui a duas décadas", disse Zylbersztajn. " No momento, estamos caminhando para um modelo em que o governo acha bonito ter petróleo, o que é um retrocesso".

Adriano Pires também criticou a posição oficial em relação a energia de origem fóssil. "Assusto-me com o discurso megalomaníaco do governo de que o país será o maior e o melhor no mundo por causa do pré-sal, e de que todos os problemas brasileiros serão resolvidos", disse. "Deveríamos tirar o pré-sal do palanque político".

Na avaliação do diretor do CBIE, com a participação expressiva do governo brasileiro na sociedade de acionistas, a Petrobras estaria rumando para transformar-se numa gigante PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.), estatal que mantém estreita relação com a política venezuelana. Segundo Pires, o modelo que o governo está criando afasta grandes operadoras, como Shell e Exxon Mobil, entre outras, que poderiam gerar mais postos de trabalho e mais competitividade ao mercado.

De toda a maneira, pondera Pires, o pré-sal é um bom problema para o Brasil. "Daqui a 10 anos, ainda seremos autosuficientes em energia, o que garante nossa segurança energética,  peça-chave para um país que deseja tonar-se potência mundial", afirmou.

O desafio, segundo o especialista, é o Brasil não perder de vista os  investimentos em energias renováveis e tecnologias limpas, pra não ficar atrás, uma vez que outros países no mundo estão se destacando por suas ações em pesquisa e desenvolvimento nesse setor. Dinheiro, certamente, não faltará, mas será preciso direcioná-lo corretamente.

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