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Guterres destaca papel humanitário e regulatório da ONU, mesmo sem conseguir parar guerras

O secretário-geral da ONU destaca a importância da organização como agente humanitário, apesar da ineficácia política

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Agência de Notícias

Publicado em 11 de setembro de 2024 às 14h27.

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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu que não se julgue a instituição pela “paralisia” do Conselho de Segurança, incapaz de deter duas guerras, mas pelo fato de que ela continua sendo “o agente humanitário mais importante do mundo” e pelo seu papel insubstituível no estabelecimento de regras de alcance universal.

Em entrevista à Agência EFE antes da Semana de Alto Nível da ONU no final de setembro, um evento anual importante para a diplomacia em todo o mundo, Guterres disse acreditar que “não é justo” julgar a instituição pela paralisia do Conselho de Segurança, que em dois anos não conseguiu ter influência nas guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza devido às divisões geopolíticas que se traduziram em sua “paralisia”.

Guterres pediu que não se esqueça de que a ONU continua sendo “o agente humanitário mais importante do mundo”, a maior arma na luta contra a fome, os desastres naturais e as epidemias, mas também tem “um papel insubstituível” na criação de estruturas regulatórias em setores tão diversas como energia nuclear, inteligência artificial e propriedade intelectual.

Aos 75 anos de idade e há sete no cargo máximo da ONU, Guterres atravessa um período complicado devido à perda de prestígio de uma instituição em que os Estados Unidos, por um lado - um aliado inabalável de Israel - e Rússia e China, por outro, são incapazes de chegar a um consenso sobre quase todos os conflitos, maiores ou menores.

Apesar disso, solicitou que não se esqueça de que é na ONU que são negociados os instrumentos para conter a mudança climática, os limites do mundo digital e da inteligência artificial ou o desenvolvimento sustentável, “a única alternativa à perspectiva neoliberal de desenvolvimento econômico que, como já foi provado, não resolve os problemas do mundo”, disse um Guterres mais político, porém com uma alma ainda progressista.

Instituições de oura era

Guterres costuma dizer que grande parte da ineficácia política da ONU é atribuível a um modelo organizacional criado há 70 anos pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial, em um mundo muito diferente do atual, onde a África moderna ainda não havia nascido e a Ásia não tinha o peso econômico ou demográfico que tem hoje.

Na entrevista, Guterres aplicou essa mesma lógica de desalinhamento também às democracias parlamentares e diz estar “extremamente preocupado” com o aumento do populismo no mundo e com o discurso antidemocrático, que ele atribui ao fato de as democracias ocidentais não terem se adaptado a um mundo em que as tecnologias de comunicação mudaram radicalmente.

Ele lamentou o surgimento de um discurso antimigração que pode ser detectado em muitos países do mundo, inclusive naqueles com governos progressistas, e advertiu que, se não for alcançado um consenso internacional sobre a ideia básica de que a migração “é indispensável” e a migração regular não for incentivada como resultado, os movimentos migratórios “serão comandados por contrabandistas”.

Na ausência de uma política eficaz de cooperação dos países de destino com os países de origem da migração para oferecer a eles oportunidades de trabalho e na ausência de uma política organizada, o movimento será visto como “um mercado de trabalho global, que será controlado por contrabandistas”, declarou.

Integridade territorial não é negociável na Ucrânia

Questionado sobre o fim negociado da guerra na Ucrânia após dois longos anos de atrito e, em particular, se a fórmula de “paz por territórios” seria aceitável, Guterres se opõe categoricamente a qualquer modificação do mapa da Ucrânia (que a Rússia transformou ao se apropriar de quatro territórios no leste, que tentou legitimar com um referendo unilateral).

"Se abandonarmos o princípio da integridade territorial, entraremos em um caos no mundo. Veja a Europa, onde há muitas minorias”, lembrou, se referindo ao irredentismo que levou a guerras anteriores no continente (mais recentemente nos Bálcãs), justamente por causa de conflitos entre maiorias e minorias étnicas ou religiosas.

O secretário-geral da ONU usou o exemplo da África, onde seus líderes “tiveram a inteligência de manter suas fronteiras artificiais”, aquelas desenhadas pelos colonizadores com uma caneta, embora sua afirmação tenha várias exceções no Saara Ocidental, Mali, Eritreia e Sudão.

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