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Guerra na Ucrânia: por que usina nuclear de Zaporizhzhia é tão perigosa?

A possível explosão da planta poderia gerar uma devastação nuclear igual a seis vezes o desastre de Chernobyl, podendo levar à evacuação de quase toda a Europa

Complexo nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia (Wikimedia Commons/Reprodução)

Complexo nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia (Wikimedia Commons/Reprodução)

A usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, foi ocupada pelas tropas russas na madrugada desta sexta-feira, 4.

A usina nuclear é antiga, e seus seis reatores a tornam potencialmente muito perigosa.

Alguns analistas consideram que a possível explosão da planta poderia gerar uma devastação nuclear igual a seis vezes o desastre de Chernobyl.

Não é um múltiplo aleatório: a usina de Zaporizhzhia é composta de seis reatores nucleares modelo Vver-350, alinhados e não muito distantes um do outro, todos próximos das águas do Rio Dnieper, o quarto maior da Europa.

Esse rio liga a Rússia com a cidade de Kiev, perto da qual a usina de Chernobyl foi construída em 1977.

Cada reator de Zaporizhzhia produz 950 MWe, então, no total, a usina produz 5,7 mil Megawatts, um quarto das necessidades energéticas de toda a Ucrânia.

Esse número explica a razão da usina se tornar um alvo militar das tropas de Vladimir Putin.

Reatores nucleares da década de 1980

Os seis reatores de Zaporizhzhia são todos da década de 1980. O primeiro, marcado com o número 1, foi construído em 1980 e funciona desde 1985.

O reator número 1 foi o primeiro construído depois da planta de Chernobyl, realizada em 1977. No entanto, o reator de Chernobyl era um modelo RBMK-1000, tecnologia russa que usava grafite e era muito instável em baixas temperaturas (o acidente atômico de 1986 aconteceu justamente durante um teste sob essas condições).

Os outros reatores de Zaporizhzhia foram construídos entre 1981 a 1986 e colocados em operação de 1986 a 1996.

São todos sistemas Vver-350, portanto, uma antiga tecnologia soviética de água pressurizada.

Eles não têm o erro de projetação dos RBMK-1000, mas são tão antigos que há alguns anos tiveram de pedir uma autorização especial para estender seu tempo de vida útil, concedida apenas com uma atualização de segurança.

Uma grande preocupação, levantada pela agência de regulamentação nuclear estatal da Ucrânia, é que se a guerra interromper o fornecimento de energia para a usina nuclear, ela seria forçada a usar geradores a diesel menos confiáveis para fornecer energia de emergência aos sistemas de refrigeração dos reatores.

Uma falha desses sistemas pode levar a um desastre semelhante ao da usina japonesa de Fukushima, quando um grande terremoto e tsunami em 2011 destruíram os sistemas de refrigeração, provocando colapsos em três reatores.

Isso seria suficiente para desencadear um potencial efeito dominó e provocar um desastre nuclear continental.

Não há apenas a idade e a proximidade dos reatores para torná-los perigosos, mas também as piscinas de resfriamento com o combustível atômico gasto.

Primeira central nuclear conquistada militarmente

Essa é a primeira vez na história que uma usina nuclear ativa é conquistada militarmente.

O cenário é, portanto, imprevisível, também porque é difícil para os militares perceber quanto o fator estresse possa interferir na operação de uma usina nuclear.

Afinal, o desastre de Chernobyl ocorreu por um erro humano dos operadores da central nuclear, não pelo ataque ou explosões externas. E, naquele momento, os funcionários da planta não estavam trabalhando com uma guerra acontecendo em volta deles.

Não por acaso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falou imediatamente do risco do "fim para todos, fim para a Europa, uma evacuação da própria Europa" em caso de explosão da usina de Zaporizhzhia.

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