Mundo

Guerra ou acordo comercial? Gestos de Trump indicam espaço para negociar com China, diz especialista

Robert Daly, do Kissinger Institute, avalia que demora em anunciar tarifas abre espaço para que negociações avancem

Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, em encontro em 2019 (Brendan Smialowski/Getty Images)

Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, em encontro em 2019 (Brendan Smialowski/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 19h28.

Apesar das ameaças fortes de Donald Trump em relação à China, uma nova guerra comercial entre os americanos e chineses ainda pode ser evitada, porque o republicano tem dado sinais de que está disposto a negociar.

A avaliação é de Robert Daly, diretor do Kissinger Institute on China and The United States, uma divisão do think tank Wilson Center, baseado em Washington. Trump, afinal, ainda não confirmou que implantará novas tarifas ao país asiático, que é hoje o segundo maior parceiro comercial dos EUA.

Na terça,  21, o presidente americano disse que está avaliando colocar 10% de tarifas adicionais sobre produtos do país, a partir de 1º de fevereiro, mas ainda não oficializou a medida.

"A situação vai se desenrolar em fases. Vai se tentar chegar a um acordo, e depois se voltar a uma guerra comercial depois de algum tipo de pausa", disse Daly, durante um debate acompanhado pela EXAME.

"A China vê um caminho para um possível acordo agora. Eles vêm se preparando para um segundo governo Trump, eles têm protegido sua economia contra sanções da maneira que podem, ao desenvolver novos mercados, especialmente no Sul Global, e ao aumentar sua liderança em certas indústrias-chave, especialmente em energia verde.

Para Daly, a China tem visto sinais positivos nos últimos dias. "Trump disse que está interessado em ir à China em seus primeiros 100 dias. A China acredita muito em reuniões entre os líderes. Eles esperam que se ele for, há mais espaço para algum tipo de acordo", avalia.

Um acerto possível seria a China rever compromissos que assumiu durante o primeiro mandato de Trump, quando o país concordou com algumas medidas, como comprar mais produtos dos EUA, em troca da retirada de novas tarifas.

A China, no entanto, não cumpriu todos os compromissos feitos à época. Apesar disso, poderia assumir novas promessas em troca da suspensão das novas tarifas que Trump quer implantar.

Embate global

Um dos pontos ainda sem resposta é o quanto de fato Trump pretende confrontar a China no cenário global. A questão é se ele buscará de fato tentar superar o país asiático em outras áreas ou se contentará apenas em resolver o desequilíbrio da balança comercial.

Trump tem falado mais sobre ações domésticas, como conter a imigração, e em temas que envolvem países e territórios próximos, como Canadá, Panamá e Groenlândia.

"Isso dá à China grande esperança de que ele persiga uma agenda no hemisfério [Ocidental]. Assim, veríamos um acordo na frente econômica que também comportaria um acordo geoestratégico em direção à esferas de influência", diz Daly.

Mesmo que um acordo seja fechado, no entanto, Daly aponta que a China não deixaria de lado outros movimentos, como o de ganhar influência global, especialmente nos países do Sul, como o Brasil, e em buscar dominar algumas indústrias.

"A China tem um histórico muito variado na relação com a África e a América Latina. Muitos países ficaram com dívidas e destruição ambiental, mas houve investimentos chineses tremendos em novos negócios, hospitais e universidades. No Peru, eles acabaram de construir um grande porto de águas profundas. A questão é: onde nós [EUA] estamos?", disse Daly.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Novo incêndio florestal provoca ordens de evacuação na região de Los Angeles

Trump enviará 1.500 soldados adicionais para a fronteira dos EUA com o México

EUA ordena que promotores processem autoridades que se recusem a aplicar novas políticas migratórias

Indultos de Trump para manifestantes que invadiram Capitólio dividem os republicanos