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Guerra no Sudão do Sul deixa quase 200 mortos, mais de 250 feridos e 125 mil deslocados desde março

Prisão do vice-presidente Riek Machar rompeu o acordo de paz de 2018 e reacendeu temores de um retorno à guerra civil no país mais jovem do mundo

Agência o Globo
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Publicado em 15 de abril de 2025 às 21h04.

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A escalada dos conflitos no Sudão do Sul deixou quase 200 mortos, mais de 250 feridos e cerca de 125 mil deslocados desde março, informou a ONU nesta terça-feira. As tensões aumentaram após confrontos entre as forças leais ao presidente Salva Kiir e outras aliadas ao vice-presidente Riek Machar, que foi preso no fim do mês passado por um comboio de 20 veículos, liderado pelo ministro da Defesa e pelo chefe da Segurança Nacional. A prisão rompeu o acordo de paz de 2018 e reacendeu temores de um retorno à guerra civil no país mais jovem do mundo.

"Desde março de 2025, confrontos armados e bombardeios aéreos mataram mais de 180 pessoas, feriram mais de 250 e deslocaram cerca de 125 mil", informou a ONU em um comunicado.

A violência também teria causado a morte de quatro trabalhadores humanitários e forçado o fechamento de seis centros de saúde, em meio a um surto de cólera que, segundo a ONU, já "causou 919 mortes e infectou quase 49 mil pessoas".

A prisão do vice-presidente

A prisão do primeiro vice-presidente do Sudão do Sul por forças leais ao presidente Salva Kiir fez a ONU e a União Africana, além de outros órgãos internacionais, manifestarem preocupação com a escalada da crise, que ameaça mergulhar novamente o país em um conflito generalizado.

Segundo o Movimento Popular de Libertação do Sudão na Oposição (SPLM-IO, na sigla em inglês), um comboio composto por mais de 20 veículos fortemente armados invadiu a residência de Machar no dia 26 de março, na capital, Juba. A operação foi liderada pelo ministro da Defesa e pelo chefe da Segurança Nacional, que “entraram à força” no local, desarmaram os guarda-costas e prenderam Machar “sob acusações pouco claras”, afirmou Reath Muoch Tang, presidente em exercício do Comitê de Relações Exteriores do SPLM-IO, em publicação nas redes sociais.

— Com a prisão e encarceramento do Dr. Riek Machar Teny, o R-ARCSS 2020 foi revogado — declarou Oyet Nathaniel, vice-presidente do partido de Machar, referindo-se ao acordo de paz assinado após a guerra civil que deixou mais de 400 mil mortos e 4 milhões de deslocados entre 2013 e 2018.

A Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) classificou a situação como crítica. Já a comissão da ONU responsável por monitorar os direitos humanos no país afirmou que a detenção, somada ao aumento dos confrontos armados e a relatos de ataques contra civis, “sinaliza um severo rompimento do processo de paz – e uma ameaça direta a milhões de vidas”.

A União Africana manifestou sua “profunda preocupação” e apelou ao “diálogo construtivo” no Sudão do Sul, que conquistou sua independência do Sudão em 2011. A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), bloco comercial do Leste Africano, afirmou que a prisão de Machar “minou seriamente o acordo de paz” e arrisca “mergulhar o país novamente em um conflito violento”.

'Confinado pelo governo'

Machar, que está sendo mantido em prisão domiciliar com sua esposa, a ministra do Interior, Angelina Teny, foi acusado de apoiar a milícia comunitária Exército Branco, que recentemente entrou em confronto com as Forças de Defesa do Povo do Sudão do Sul (SSPDF, na sigla em inglês). O partido de Machar nega qualquer ligação atual com o grupo, que atuou ao seu lado durante a guerra civil.

A tensão entre governo e oposição vem crescendo desde o início do mês, com a intensificação dos confrontos em regiões como o condado de Nasir, onde o Exército Branco atacou uma base militar. Em resposta, o governo realizou bombardeios e prendeu dezenas de aliados de Machar. Pelo menos 27 soldados morreram em 7 de março, durante a retirada de tropas por helicópteros da ONU.

Em pronunciamento por vídeo, o porta-voz do SPLM-IO, Pal Mai Deng, disse que Machar estava “confinado pelo governo” e que sua vida estava em risco.

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