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Guerra dos chips e covid: o que esperar do 20º Congresso do Partido Comunista chinês

Evento, que começa neste domingo, 16, acontece em meio à queda de ritmo de crescimento do PIB chinês e restrições dos EUA à exportação de semicondutores para a China

Pequim: cidade se prepara para Congresso do Partido Comunista (Getty Images/Getty Images)

Pequim: cidade se prepara para Congresso do Partido Comunista (Getty Images/Getty Images)

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Carla Aranha

Publicado em 15 de outubro de 2022 às 08h59.

Às vésperas do 20º Congresso do Partido Comunista, que deve conceder um terceiro mandato de cinco anos a Xi Jinping, a China lida com desafios como o enfraquecimento do ritmo de expansão do PIB, uma crise imobiliária e o cenário internacional conturbado. No final de setembro, o Banco Mundial reviu as projeções de crescimento da China, estimada em 2,8% este ano, diante de 8,1% em 2021. O derretimento do setor de imóveis, com a quebra da incorporadora Evergrande, segunda maior empresa do mercado imobiliário chinês, e os seguidos lockdowns pela covid não têm ajudado.

No campo externo, a guerra na Ucrânia, travada por Vladimir Putin, um dos maiores aliados de Xi Jinping, e a crescente tensão em relação a Taiwan têm colocado as forças militares – e políticas – chinesas em alerta. No mês passado, Joe Biden chegou a dizer que os Estados Unidos entrariam em um conflito armado para proteger Taiwan, no caso de uma invasão chinesa à ilha autogovernada de 22 milhões de habitantes – a China reivindica soberania sobre o território.

Embora espinhosos, esses são alguns dos temas que deverão ser endereçados pelo líder chinês no discurso de abertura da reunião do partido comunista no próximo domingo, dia 16. No último congresso, realizado em 2017, Xi deu ênfase aos planos econômicos da China, baseados em uma série de reformas voltadas à abertura de setores controlados pelo Estado e mais direitos à propriedade no setor rural.

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Das 60 reformas propostas, poucas avançaram, segundo Chen Zhiwu, professor de economia da Universidade de Hong Kong. “A ideia era ampliar o mercado de consumo e o papel da iniciativa privada, mas essa agenda acabou não se concretizando como o esperado”, diz. “A concentração de poder na figura de Xi e questões internas do partido comunista, assim como a pandemia, dificultaram a agenda reformista.”

O país enfrenta ainda outros desafios. Em um novo capítulo da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, o governo americano decidiu restringir a exportação de semicondutores e outros equipamentos essenciais para a evolução tecnológica. “A chamada guerra dos chips deverá ter um impacto negativo na economia chinesa ao reduzir o progresso no setor de tecnologia”, diz Christopher Miller, professor de história internacional da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, e autor do livro “Chip War: The Fight for the World's Most Critical Technology, a geopolitical history of the computer chip”, sem tradução no Brasil. “O prosseguimento da política de controle da pandemia em 2023 e uma maior interferência estatal no setor imobiliário são outros fatores que devem segurar o crescimento chinês.”

Como será o congresso

Cerca de 2.300 delegados sêniores do partido comunista devem participar do evento, previsto para durar uma semana. O congresso será realizado no Grande Salão do Povo, na praça Tiananmen, em Pequim. Entre os milhares de participantes, 200 são membros do comitê de elite – há ainda cerca de 170 suplentes. No topo da pirâmide, estão os sete representantes do comitê permanente do partido comunista chinês. Durante o congresso, são anunciadas promoções, caso alguns membros se aposentarem – o partido recomenda que os delegados saiam da vida pública ao completar 68 anos.

Um dos principais objetivos da reunião é avaliar as políticas dos últimos cincos anos e definir o planejamento econômico para o próximo ciclo. Aspectos socioeconômicos importantes para a transformação do país em uma sociedade de renda média e alta, como o declínio demográfico, a melhoria da educação e o acesso à moradia, também devem estar no radar.

Também deverão ser feitas nomeações para o núcleo duro do partido, o comitê permanente, responsável pela tomada de decisões. Essas indicações são acompanhadas de perto por analistas internacionais e representantes da diplomacia internacional – as escolhas deverão sinalizar os rumos do partido e a extensão da concentração de poder em Xi.

As apostas recaem sobre aliados de Xi, que poderão ser promovidos. Alguns dos destaques são He Lifeng, chefe da Comissão Nacional de Reforma do Desenvolvimento, que responde pelo planejamento econômico, e Zhang Qingwei, secretário do partido na província de Hunan.

Além disso, tecnocratas e executivos de estatais poderão galgar postos no partido. No mundo diplomático, esse movimento deverá ser interpretado como uma tentativa de reforçar o propósito da China em se tornar autossuficiente em tecnologia e reduzir a dependência de importados, especialmente de semicondutores. “A China enfrenta desafios econômicos e uma estagnação da produtividade, que precisão ser superados”, diz Miller.

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