Explosão destrói prédio no bairro residencial de Rimal, na Cidade de Gaza, em 20 de maio de 2021, durante o bombardeio israelense no enclave controlado pelo Hamas (BASHAR TALEB/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 13 de outubro de 2023 às 14h26.
O ataque do Hamas a Israel, no sábado, 7, mostra que as forças de segurança israelenses falharam de diversas formas, especialmente na coleta de informações e na análise delas.
"Falhas de inteligência nunca são apenas uma coisa. São como um acidente de avião. É um grande conjunto de coisas pequenas que dão errado e geram um grande desastre", avalia Emily Harding, vice-diretora do programa de Segurança Internacional do CSIS, um centro de estudos com sede nos Estados Unidos.
Em conversa por telefone com jornalistas, Harding dividiu as falhas em três partes: na coleta de informações, na análise de dados e do sistema de alerta durante o ataque.
Ela avalia que a coleta de informações em campo, feita em Gaza, no sul do Líbano e no Irã, onde o Hamas tem conexões, vem se tornando mais difícil nos últimos anos, pois suas sociedades vêm se tornando mais fechadas. Com isso, o trabalho de espionagem fica mais dificil.
Ao mesmo tempo, o Hamas buscava negar ter planos de fazer uma invasão. "Líderes do Hamas sabiam que estavam grampeados e falavam que não tinham interesse em fazer nenhuma operação massiva agora. E parece que isso funcionou: os analistas de Israel parecem que aceitaram que isso era verdade", comenta Harding.
A analista também suspeita que o Irã ajudou o Hamas a melhorar suas defesas contra espionagem digital. Israel é conhecido por ter grande capacidade de invadir e monitorar celulares e redes de computador de seus inimigos.
Com a coleta de dados comprometida, analistas de segurança teriam passado informações imprecisas para as forças de segurança de Israel, como a de que o Hamas teria desistido de atacar. "Houve uma falha de imaginação. Os analistas de Israel podem não ter sido capazes de imaginar um ataque massivo em múltiplas frentes. Eles viram indicadores de que o Hamas estava treinando coisas como este ataque, mas avaliaram que eram apenas exercícios", diz.
A terceira falha se deu nos sistemas de alerta: a inteligência de Israel detectou o movimento abrupto de homens em Gaza indo em direção à fronteira e avisou os guardas da região, mas por alguma razão eles não reagiram de forma adequada.
O Hamas também usou drones para derrubar torres de celular perto da fronteira, o que derrubou as comunicações de segurança, incluindo o acesso a câmeras de segurança e a armas que poderiam ser disparadas à distância. "Não havia como realmente organizar uma resposta rápida nessas condições", afirma.
A invasão do Hamas a Israel deixou mais de 1.000 mortes. O grupo também fez cerca de 150 reféns, que foram levados para a faixa de Gaza. Os terroristas ameaçaram matar os reféns caso Israel siga bombardeando a região.
Em resposta, Israel faz um bloqueio à Gaza, que impede a entrada de alimentos, água e energia elétrica, e prometeu manter a pressão até que os reféns sejam soltos. Forças israelenses estão sendo posicionadas perto da fronteira, o que sugere uma possível invasão de Gaza. Autoridades israelenses disseram que isso poderá ocorrer "no momento adequado".