Soldado armênio dispara contra tropas do Azerbaijão na guerra entre dois países (Ministério da Defesa da Armênia/via REUTERS/Divulgação)
Carla Aranha
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 11h35.
Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 12h01.
Em meio à pandemia, o mês de outubro começou o prosseguimento de uma guerra em uma das regiões mais turbulentas do mundo, ao lado da Rússia e da Turquia, com mercenários, drones e sonhos imperialistas. O conflito entre a Armênia, país que foi vítima de um genocídio há cem anos, e o Azerbaijão, no Cáucaso, vem preocupando o mundo por conter muito mais ingredientes do que uma simples batalha por território de dois pequenos países.
O temor é de que a luta se transforme em um conflito maior, já que a Armênia conta com apoio da Rússia, ao menos em tese, e o Azerbaijão é aliado da Turquia. O presidente turco Recep Erdogan já declarou que empenhará esforços para auxiliar seu aliado no Cáucaso. Não faltam relatos de operações com drones enviados pela Turquia na Armênia e da participação de mercenários, também patrocinados pelo governo turco.
As tropas mercenárias, que não chegam a ser novidade no mundo, ganham um salário, geralmente de 1.000 dólares por mês, para participar da batalha. Em países como a Síria, devastada por uma guerra que já dura quase dez anos ou em lugares dominados pela fome e a falta de oportunidades, 1.000 dólares é uma quantia bastante alta. Durante a guerra contra o Estado Islâmico, entre 2014 e 2017, no Iraque, os militantes islâmicos também usaram atiradores de outros países, principalmente da Chechênia, em troca de um pagamento mensal.
A guerra no Cáucaso tem despertado também outra preocupação. A Turquia tem uma presença militar crescente no Oriente Médio. Militares turcos avançaram mais de 40 quilômetros na fronteira com o Iraque e instalaram barreiras estratégicas no país. Tropas comandadas pelos turcos também estão presentes no noroeste da Síria. “O país quer recriar o Império Otomano”, disse o primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan no último dia 2.
Até a 1ª Guerra Mundial, o Império Otomano, construído pela Turquia, se estendia pelo Oriente Médio e parte do Cáucaso, incluindo a Armênia, a Síria e o norte do Iraque. Na Europa, reinava sobre a Bulgária, Romênia e a Sérvia. Em Istanbul, que já foi capital da Turquia, as conquistas do império ainda estão bastante visíveis em seus diversos palácios e monumentos – hoje, o medo é que o sonho imperialista possa ganhar novos ares.