O ex-presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, em 3 de outubro de 2023 (Camille Camdessus/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 4 de outubro de 2023 às 19h07.
Última atualização em 4 de outubro de 2023 às 19h24.
A destituição de Kevin McCarthy pela ala trumpista de seu próprio partido deixou em evidência o racha entre os conservadores dos Estados Unidos, faltando um ano para as eleições presidenciais de 2024.
Até agora, em seus mais de 200 anos de história, jamais havia ocorrido a destituição de um presidente da Câmara dos Representantes.
Fique por dentro das últimas notícias no WhatsApp da Exame. Inscreva-se aqui 👉 https://t.ly/6ORRo
Mas a história tem uma nova reviravolta menos de três anos depois do ataque ao Capitólio por parte de simpatizantes do ex-presidente republicano Donald Trump.
"Ontem ficou comprovado, mais uma vez, o nível de caos reinante no Partido Republicano e o nível de caos que o Partido Republicano está disposto a impor ao país", afirmou Julian Zelizer, professor de história e políticas públicas da Universidade de Princeton.
Quando os conservadores assumiram o controle da Câmara em janeiro, prometeram concentrar suas energias contra o presidente democrata Joe Biden, a quem acusam de ser "corrupto" e "mentir ao povo americano".
"Devido ao caos que reina hoje na Câmara, é mais complicado falar do fracasso que representa a gestão Biden", lamentou, na terça-feira, o influente senador republicano Lindsey Graham.
Os problemas se acumulam com a sucessão de McCarthy, que promete ser explosiva. Por ora, se apresentaram para o cargo dois congressistas da direita radical: Steve Scalise e Jim Jordan.
"Isto afunda a instituição em uma instabilidade muito grande", justo quando o Congresso deve votar um novo orçamento e decidir se aprova uma nova ajuda para a Ucrânia, explicou Zelizer à AFP.
Sem um "speaker", o Congresso interrompeu seus trabalhos no momento em que o país precisa aprovar urgentemente um orçamento para evitar uma paralisação dos serviços. Os legisladores têm cerca de 40 dias de prazo para evitar o chamado "shutdown" do governo.
Embora Trump seja réu em quatro processos, continua dominando por ampla margem a corrida para a indicação republicana para as eleições de 2024.
Quando o Congresso mergulhava no caos, ele encontrava-se em Nova York para prestar depoimento no tribunal, acusado de fraudar o valor de seus imóveis.
O ex-presidente voltou a se aproveitar de seus problemas na Justiça para obter ganhos políticos, ciente de que cada movimento nos tribunais resulta em milhões de dólares para sua campanha, doados por trumpistas convencidos de que ele é vítima de um complô político.
O republicano jogou mais lenha na fogueira nesta quarta, ao repetir que é vítima de uma "caça às bruxas" orquestrada por seu sucessor, Joe Biden, a quem poderá enfrentar novamente nas eleições presidenciais.
Não está claro se os problemas no Partido Republicano terão impacto nas eleições de novembro de 2024. As opiniões divergem.
O caos "poderia influenciar os indecisos", que provavelmente vão definir as próximas eleições, prevê o professor Zelizer.
Rob Mellen, professor da Universidade do Sul da Flórida, discorda.
"Os americanos têm memória curta", afirma. "Estamos a 13 meses das eleições e a atualidade ainda nos reserva muitas surpresas daqui até lá", opina Mellen.
Ou seja, o importante não é a queda, mas sim a aterrissagem.