Otto Perez: "Os políticos faziam o que queriam, mas esses casos de corrupção fizeram com que muitos despertassem e não vamos fechar nossos olhos novamente" (REUTERS/Jorge Dan Lopez)
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2015 às 12h59.
A Guatemala vivia nesta sexta-feira o último dia de campanha para as eleições presidenciais que acontecerão no domingo, em um clima histórico, marcado pela renúncia e prisão provisória do presidente Otto Pérez por suposto envolvimento em atos de corrupção.
Mais de 7,5 milhões de guatemaltecos, que em sua maioria organizou manifestações que favoreceram a demissão do chefe de Estado, estão convocados para o primeiro turno das eleições presidenciais, legislativas e municipais.
Os guatemaltecos indignados e que não pararam de protestar pacificamente toda semana desde que começaram a ser revelados os casos de corrupção em abril deixaram claro que não estão dispostos a tolerar a corrupção, e exigem uma mudança no sistema político.
Os eleitores se mostram agora menos crédulos e mais vigilantes a respeito dos candidatos.
"Os políticos faziam o que queriam, mas esses casos de corrupção fizeram com que muitos despertassem e não vamos fechar nossos olhos novamente", disse à AFP Luisa Monterroso, uma nutricionista de 34 anos que esteve em vários protestos.
"Acredito que a Guatemala, mudou de agora em diante os candidatos e as novas autoridades serão mais fiscalizadas", agregou.
Na frente das pesquisas eleitorais se destacam três candidatos, entre os 14 inscritos, com possibilidade de passar para o segundo turno, no dia 2 de outubro.
Uma pesquisa publicada na quinta-feira pelo jornal Prensa Libre, situou em primeiro ligar Jimmy Morales, um comediante de 46 anos do partido de direita Frente de Convergencia Nacional, com 25% da preferência.
Seguem o advogado direitista Manuel Baldizón, de 45 anos, do partido Liberdad Democrática Renovada, com 22,9%, e a ex-primeira-dama Sandra Torres, de 59 anos, da socialdemocrata Unión Nacional de la Esperanza, com 18,4% das intenções de voto.
Para muitos guatemaltecos, as eleições de 2015 são um divisor de águas devido à queda de Pérez.
"Cada presidente que chega promete uma coisa e não cumpre. Todos são corruptos e ladrões, mas agora deverão cumprir suas promessas pois estamos os vigiando", disse à AFP o vendedor de cachorro-quente Orlando Pérez, de 22 anos.
Ainda assim, alguns analistas alertam que a renúncia de Pérez não erradica a prática clientelista da política guatemalteca que sustenta a corrupção.
Mudança de presidente não resolve crise
O deputado indígena Amílcar Pop, um opositor que, em junho, foi o primeiro a propôr que Pérez perdesse sua imunidade, alertou no congresso que a corrupção tem raízes profundas que não são eliminadas com a aplicação de processo a autoridades que estão saindo.
"O presidente e a vice-presidente serem processados por corrupção não resolve a crise. Eleger um novo presidente não resolve a crise, porque há muitos candidatos envolvidos em atividades questionáveis", alegou Pop na sessão legislativa que aprovou na última quinta-feira a renúncia de Pérez.
Segundo ele, o novo governo deve pensar "uma nova rota para a verdadeira transformação do Estado guatemalteco".
No mesmo sentido, para o economista Mynor Cabrera, da Fundação Econômica para o Desenvolvimento, o problema real é o modelo financeiro dos partidos políticos, no qual quem financia "espera recuperar o dinheiro depois".
"O problema é que tem gente que se alimentou desse sistema e tem muito poder", afirmou Cabrera.
A revelação do escândalo de corrupção conhecido como "A Linha" (La Línea), que cobrava subornos para fugir de impostos aduaneiros, deslanchou na Guatemala a mais grave crise política desde o restabelecimento democrático em 1985.