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Guardião dos documentos do Vaticano está se aposentando — e quer revelar alguns segredos

O papado polêmico de Pio XII durante a Segunda Guerra também é analisado

Relação do Vaticano com o exterior remontam a 12 séculos (Laurie Chamberlain/Getty Images)

Relação do Vaticano com o exterior remontam a 12 séculos (Laurie Chamberlain/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 08h08.

O arcebispo Sergio Pagano, "prefeito" de longa data do que agora é chamado de Arquivo Apostólico do Vaticano, está revelando alguns dos segredos que descobriu nos 45 anos em que trabalhou em um dos mais importantes e incomuns repositórios de documentos do mundo.

Em um novo livro-entrevista intitulado "Secretum", a ser publicado na terça-feira, Pagano divulga detalhes desconhecidos e bastidores de sagas bem conhecidas da Santa Sé e suas relações com o mundo exterior nos últimos 12 séculos.

Segundo a Associated Press, em conversas ao longo de um ano com o jornalista italiano Massimo Franco, Pagano investiga tudo, desde o saque do arquivo por Napoleão em 1810 até o caso Galileu e o peculiar conclave - a assembleia de cardeais para eleger um papa - de 1922, que foi financiado por doações de última hora de católicos americanos. Pagano, de 75 anos, disse que deve se aposentar no final do ano.

Histórias do Vaticano

Além das conhecidas histórias de intrigas do Vaticano, o livro também revela algumas novidades, incluindo as origens da importante relação financeira entre a Igreja dos EUA e o Vaticano, que continua até hoje e remonta ao conclave de 1922.

O livro reproduz os telegramas criptografados nos quais o secretário de Estado do Vaticano pedia ao seu embaixador em Washington que enviasse com urgência "o que você tem no cofre" para que a votação pudesse ocorrer.

De acordo com os telegramas, a embaixada do Vaticano enviou o que as igrejas dos EUA haviam coletado dos fiéis americanos, até os centavos: US$ 210.400,09, permitindo a votação que acabou elegendo o Papa Pio XI.

Pagano disse que, após a morte do Papa Bento XV, o camerlengo - o cardeal encarregado do tesouro e das contas papais - foi até seu cofre e descobriu que estava "literalmente vazio. Não havia um papel, uma nota ou uma moeda". Acontece que Bento não era muito responsável do ponto de vista fiscal e deixou a Santa Sé no vermelho quando morreu em 22 de janeiro daquele ano.

Papa Pio XII

Os documentos do pontificado do Papa Pio XII,  que foi criticado por não ter se manifestado suficientemente sobre o Holocausto, são alguns dos que despertam mais interesse do público.

O Vaticano vem tentando há anos desmistificar a ideia de que seus alardeados arquivos secretos são tão secretos assim. Tanto que abriu os arquivos para estudiosos e mudou o nome oficial para remover a palavra "Secreto" de seu título.

O Vaticano há muito tempo defende Pio, dizendo que ele usou a diplomacia silenciosa para salvar vidas e não se manifestou publicamente sobre os crimes nazistas porque temia retaliação, inclusive contra o próprio Vaticano.

O Papa Francisco ordenou que os documentos de seu pontificado fossem abertos antes do previsto, em 2020, para que os acadêmicos pudessem finalmente ter uma visão completa do papado.

Segundo a AP, Pagano atribui o silêncio contínuo de Pio no pós-guerra à sua preocupação com a criação de um Estado judeu. O Vaticano tinha uma longa tradição de apoiar o povo palestino e estava preocupado com o destino dos locais religiosos cristãos na Terra Santa se os territórios fossem entregues ao recém-criado Estado de Israel.

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