Gauidó: Líder opositor teve encontro com Jair Bolsonaro nesta quinta (28) (Ueslei Marcelino/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 18h26.
Após o encontro privado e a declaração pública ao lado do presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (28), em Brasília, o presidente autodeclarado interino da Venezuela, Juan Guaidó, rejeitou qualquer diálogo com Nicolás Maduro que não esteja vinculado à realização de eleições livres no país.
"Não se pode, neste momento, falar de um falso diálogo sem condições para poder produzir uma eleição realmente livre na Venezuela", afirmou Guaidó, informando que todas tentativas de diálogo em torno de uma transição democrática falharam nos últimos anos e que não tem havido processos eleitorais democráticos no país.
O interino lembrou que houve uma sequência de mesas de diálogo em busca de acordo, sem sucesso.
"Há um elemento importante, nos últimos anos anos houve três mesas de diálogo e negociação. Nas três, a exigência do povo da Venezula era uma eleição livre, ou seja, um árbitro imparcial, o direito a eleger e ser eleito, o que não ocorreu. Inabilitações, presos políticos, ilegalização de partidos políticos, prisões, não podem ser parte do processo eleitoral", afirmou.
Guaidó defendeu um processo de transição que garanta governabilidade e estabilidade no país e acenou com possibilidade de garantir anistia a civis e militares que atualmente dão suporte ao governo de Maduro, apesar de, segundo ele, existirem mais de 1.100 presos políticos no país.
"Tudo o que não podemos fazer é nos dividir em ressentimentos", disse. Ele afirmou que mantém diálogo secreto com setores das Forças Armadas e do governo de Maduro em torno de uma eventual mudança de regime.
De acordo com o líder opositor, o custo social da crise política na Venezuela é elevado.
"Houve contração de 53% do PIB em cinco anos, dois milhões por centro de inflação no último ano, destruição do aparato produtivo, quatro milhões de imigrantes, crise na fronteira. Os custos sociais existem hoje, morrem crianças de forma, é a maior taxa de mortalidade infantil da América Latina", afirmou.
Guaidó lembrou que Caracas, capital do país, e Valencia, são cidades que estão entre as maiores taxas de homicídios por 100 mil habitantes do planeta e que o trabalhador venezuelano recebe, em média, um salario de seis dólares por mês. "Ele não vive, sobrevive", acrescentou.
Questionado sobre o apoio dos governos de Rússia e China a Nicolás Maduro, o autoproclamado presidente da Venezuela reiterou que o processo de transição democrática inclui novas eleições com apoio internacional. "Todos os países que que puderem colaborar para cessar a usurpação, o governo de transição e eleições livres, incluindo, claro, Rússia e China, que tem muitos interesses hoje na Venezuela."
Guaidó também acenou para países e empresas que têm investimentos no país, garantindo a preservação de acordos e contratos vigentes, caso venha a assumir o poder no país de forma transitória.
"Todos os acordos, todos os convênios assinados legalmente em Venezuela serão respeitados, certamente. Hoje, Maduro não protege a ninguém. Nem da insegurança, nem da fome, nem os investidores. Como um país ou uma empresa que investiu milhões de dólares na Venezuela recupera seu investimento com uma inflação de um ou dois milhões por cento? Como recupera seu investimento se o PIB [Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços] se contrai 50 pontos em cinco anos?", argumentou.
Sobre as acusações, por parte do governo Maduro, de defender interesses dos Estados Unidos em relação ao petróleo venezuelano - o país está entre os que detém as maiores reservas do planeta - Guaidó rebateu dizendo que não passa de discurso retórico.
"A retórica de que um país ou outro quer acesso a o recurso venezuelano é retórica, porque esse país em referência tem sido nosso principal cliente há anos", afirmou. O autoproclamado presidente afirmou que o atual governo destruiu a indústria petrolífera do país, que baixou sua produção diária de 3 milhões para menos de um 1 milhão de barris de petróleo.