Juan Guaidó: Presidente autoproclamado tem apoio de diversos países (Andres Martinez Caseres/Reuters)
AFP
Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 19h14.
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, o opositor Juan Guaidó, denunciou nesta quinta-feira (31) que corpo de elite de segurança se aproximaram de sua residência para intimidar a sua família, e responsabilizou o governo de Nicolás Maduro.
"Não vão me amedrontar", disse à imprensa o líder opositor, de 35 anos, com sua filha de 20 meses nos braços, às portas de sua casa em Caracas.
Guaidó assegurou que homens identificados como membros das Forças de Ações Especiais (FAES) se aproximaram de sua casa, em duas motos e uma caminhonete sem placas, e perguntaram por sua esposa, Fabiana Rosales, e pela família.
"Buscavam informações. O objetivo é evidente (...) A esses funcionários digo: não cruzem o limite", expressou Guaidó, presidente do Parlamento de maioria opositora.
O opositor havia denunciado a "intimidação" do tablado onde apresentava o seu "Plano País" para enfrentar o colapso econômico venezuelano, no auditório da principal universidade do país, em Caracas.
Sua esposa estava ao seu lado, mas em casa se encontrava a sua filha, por cuja "integridade" tornou Maduro "responsável". Do auditório foi para casa com diplomatas e outros participantes do ato, além de um grupo de jornalistas.
Os Estados Unidos, que reconheceram Guaidó como presidente interino, advertiram que haverá "sérias consequências" se o governo Maduro tomar medidas para "prejudicar" o opositor, presidente do Parlamento de maioria opositora.
"Claramente esta foi uma tentativa de intimidação a ele e à oposição", declarou o senador americano Marco Rubio. O secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, condenou "energicamente" o ato.
O ministro do Interior, Néstor Reverol, havia dito mais cedo que na quarta-feira foram abatidos dois homens que se passavam por efetivos dos FAES "para criar falsos positivos, terror e confusão".
Guaidó, fortalecido pelo reconhecimento da Eurocâmara, apresentou seu plano que tem como eixos: lidar com a emergência humanitária (saúde, alimentação), "frear a seco a inflação", reativar a indústria petroleira e restabelecer os serviços públicos.
Washington disse ter prontos 20 milhões de dólares para entregar em alimentos e remédios, mas Maduro, que atribui a escassez às sanções americanas, sustenta que a ajuda humanitária é a porta para uma intervenção militar.
O conflito político ocorre em pleno colapso do país, que também sofre com a hiperinflação, que o FMI projeta em 10.000.000% para este ano. A crise disparou a migração, estimada em cerca de 2,3 milhões de venezuelanos desde 2015, segundo a ONU.
O economista e deputado José Guerra, um dos gestores do plano de Guaidó, detalhou que, além de frear a hiperinflação e a impressão dinheiro sem apoio, será ditada uma nova política cambial e renegociarão a dívida externa, estimada em 150 bilhões de dólares.
Outro assessor econômico, José Toro Hardy, estimou que a Venezuela precisará em um primeiro momento de 30 bilhões de dólares para se recuperar.
Determinado a sufocar economicamente o governo de Maduro, os Estados Unidos aprovaram sanções contra estatal petroleira Pdvsa - fonte de 96% dos rendimentos do país -e congelou contas e ativos venezuelanos.
O Parlamento Europeu reconheceu nesta quinta-feira Guaidó como presidente interino em uma resolução aprovada por 439 votos a favor, 104 contra e 88 abstenções, pressionando a União Europeia para que faça o mesmo.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, anunciou a criação de um grupo de contato de países europeus e latino-americanos de "90 dias" de duração para trabalhar em direção a uma saída à crise.
Sob a pressão de Espanha, Alemanha e França, a União Europeia deu um ultimato a Maduro para que nos próximos dias aceite eleições "livres" ou, do contrária, reconhecerá Guaidó.
Guaidó convocou uma manifestação no sábado em apoio ao prazo europeu, que expiraria no domingo. Enquanto isso, o governo pediu a seus partidários que também protestem, para celebrar os 20 anos da "revolução bolivariana" liderada pelo falecido Hugo Chávez (1999-2013).
"Estamos, continuamos e continuaremos nas ruas até que a usurpação cesse. A força do povo em sua luta pela liberdade é imparável", manifestou no auditório.
Guaidó fez uma autoproclamação depois que o Congresso declarou Maduro "usurpador" após assumir um segundo mandato que considera ilegítimo, assim como grande parte da comunidade internacional, por ser resultado de eleições "fraudulentas".
- Força Armada, 'crucial' para uma 'mudança' -
Na quarta-feira, em manifestações por todo o país, Guaidó e seus partidários pediram à Força Armada que permita a chegada da ajuda humanitária e não reconheça Maduro, que, por sua vez, pediu que permaneçam unidos e leais.
Apesar de esclarecer que não irá abranger crimes contra a humanidade, Guaidó oferece anistia a militares que não reconheçam Maduro, considerando "crucial" quebrar o seu principal apoio: a Força Armada.
Pressionando também nesse setor, o governo de Donald Trump admitiu que não descarta uma ação armada na Venezuela e pediu aos militares que apoiem a transição.
Com cada convocação a marchas ressurge o medo de surtos de violência. Distúrbios desde 21 de janeiro deixaram 40 mortos e mais de 850 detidos, segundo a ONU. Duas ondas de protestos em 2014 e 2017 resultaram em 200 mortes.
E a tensão chegou à imprensa: dois franceses foram detidos e depois deportados por, segundo o governo, exercerem a sua profissão sem permissão, enquanto três jornalistas da agência espanhola EFE (dois colombianos e um espanhol) foram libertados e poderão permanecer no país.
Após pedirem a sua libertação, os franceses foram deportados e os jornalistas da EFE poderão ficar no país