Juan Guaidó: "Quem não entender que temos de jogar em todos os tabuleiros, que temos de ter uma presença ativa em todos os lugares, estará cooperando com outra causa" (Manaure Quintero/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de maio de 2019 às 07h23.
Última atualização em 27 de maio de 2019 às 08h03.
São Paulo - O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, defendeu ontem o envio de delegados a Oslo, na Noruega, para negociar uma saída para a crise com representantes do chavismo. Em discurso realizado em Barquisimeto, no oeste do país, Guaidó advertindo que seus críticos, incluindo aqueles dentro de seu próprio partido, podem acabar sendo cúmplices "da ditadura de Nicolás Maduro".
"Quem não entender que temos de jogar em todos os tabuleiros, que temos de ter uma presença ativa em todos os lugares, estará cooperando com outra causa", disse Guaidó, diante de centenas de seguidores. "Seja onde for, nossas exigências são as mesmas. Quem quiser que a gente desista da pressão das ruas para acabar com a usurpação, se tornará cúmplice da ditadura."
Guaidó ontem pareceu responder às críticas que recebeu desde que confirmou, no sábado, o envio de representantes a Oslo para um diálogo direto com representantes do chavismo. As primeiras reuniões, realizadas na semana passada na Noruega, foram sempre de enviados de Maduro e de Guaidó com diplomatas noruegueses.
O líder da oposição, que é reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, incluindo Brasil e Estados Unidos, tem demonstrado cautela a respeito da negociação. Guaidó sabe que o diálogo com o chavismo é um tema impopular entre setores da oposição que não acreditam na disposição de Maduro em negociar.
Desde que Maduro assumiu o poder, em 2013, já foram quatro tentativas frustradas de diálogo. Muitos líderes opositores acreditam que a negociação não passa de um artifício do chavismo para ganhar tempo e dividir os rivais. Desde a semana passada, intelectuais, artistas e políticos criticaram a iniciativa norueguesa. Alguns disseram que era uma "estratégia errada". Outros chegaram a falar em "capitulação" de Guaidó.
"Todos temos o direito de criticar, porque somos cidadãos exigentes. E eu, como sou um funcionário público, tenho de ouvir claramente. Mas também devemos seguir em frente", disse Guaidó, que garantiu que não aceitará um "falso diálogo" que "dê mais oxigênio à ditadura de Maduro".
Desde que assumiu a condição de protagonista da oposição e intensificou sua cruzada contra Maduro, há quatro meses, Guaidó chegou a um impasse. Sem obter apoio de setores importantes das Forças Armadas, que permaneceram leais ao chavismo, a oposição está cada vez mais sem munição.
Ontem, em Barquisimeto, Guaidó voltou a falar que qualquer negociação com o governo deve ter como objetivo o "fim da usurpação" da presidência por parte de Maduro, além de incluir um governo de transição e eleições livres.
Ontem, Maduro agradeceu à Noruega por seu esforço diplomático para superar a crise. "Agradeço ao governo da Noruega por avançar no diálogo pela paz e pela estabilidade na Venezuela. Nossa delegação viajará a Oslo com a disposição de trabalhar na agenda abrangente organizada e avançar na criação de grandes acordos", escreveu o presidente venezuelano no Twitter. (Com agências internacionais)