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Guaidó convoca manifestações e anuncia retorno à Venezuela nesta segunda

Presidente autodeclarado está há 11 dias fora do país descumprindo ordem judicial que impedia sua saída

Juan Guaidó: Líder opositor participou de reunião do Grupo de Lima e se encontrou com presidentes de países da América do Sul (Luisa Gonzalez/Reuters)

Juan Guaidó: Líder opositor participou de reunião do Grupo de Lima e se encontrou com presidentes de países da América do Sul (Luisa Gonzalez/Reuters)

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AFP

Publicado em 4 de março de 2019 às 09h26.

O líder opositor venezuelano Juan Guaidó convocou neste domingo (3) concentrações em toda a Venezuela para segunda-feira (4), ao anunciar o seu retorno ao país, após burlar uma ordem judicial que lhe proibia sair do território e fazer uma viagem por vários países latino-americanos.

"Anuncio o meu retorno ao país. Convoco o povo venezuelano a se concentrar, em todo o país, amanhã às 11h00 (12h00 de Brasília)", escreveu Guaidó em sua conta no Twitter, sem dar detalhes sobre o seu retorno.

O opositor, reconhecido por mais de 50 países como presidente interino, anunciou em outra mensagem que por meio das redes sociais fará às 20h30 (21h30 de Brasília) um balanço de sua viagem e anunciará as "próximas ações".

Sem revelar sua rota, Guaidó, de 35 anos, partiu ao meio-dia deste domingo de Salinas, no Equador, onde, no sábado, se reuniu com o presidente Lenín Moreno, migrantes e refugiados venezuelanos.

O retorno de Guaidó, que em uma semana também visitou Colômbia, Brasil, Paraguai e Argentina, representa um desafio para o presidente Nicolás Maduro, que deve decidir se vai prendê-lo e provocar uma forte reação internacional, ou deixá-lo entrar no país com tranquilidade, minando a autoridade do Poder Judiciário.

"O desafio chegou longe demais. Se entrar e o prenderem, vão gerar fortes reações internas e internacionais. Maduro está em risco permanente", assegurou à AFP o analista político Luis Salamanca.

 

 

Ainda não está claro de que país entrará o opositor na Venezuela, se o fará pelo aeroporto internacional Simón Bolívar, ou furtivamente como quando saiu, segundo ele, ajudado por militares venezuelanos na fronteira com a Colômbia.

Há 40 dias a Venezuela vive uma turbulência política, em meio a uma forte crise econômica que atinge os venezuelanos com escassez de remédios e alimentos, e uma hiperinflação que o FMI calculou em 10.000.000% para este ano.

- 'Nos aproximamos de um desenlace' -

Guaidó saiu de surpresa da Venezuela para ir em 22 de fevereiro a um megashow na fronteiriça cidade colombiana de Cúcuta e apoiar a entrada de ajuda humanitária, após o que empreendeu sua intensa viagem pela região.

Desafiando constantemente Maduro, o líder opositor assinalou que no contexto de sua viagem também foi convidado ao Chile em 22 de março.

Maduro disse na semana passada que Guaidó, chefe do Parlamento de maioria opositora, deve "respeitar a lei" e que se retornar à Venezuela "terá que enfrentar a Justiça".

O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e a Procuradoria-Geral, aliados do governo, abriram investigações contra Guaidó por "usurpação" de funções e ditaram, além do impedimento de saída, o congelamento de seus bens.

"Deve retornar à Venezuela e continuar pressionando internamente, já que internacionalmente o respaldo é gigantesco. Estamos diante de um panorama muito delicado e a cada minuto que passa nos aproximamos de um desenlace que esperamos que não seja catastrófico", disse à AFP Eufracio Infante, advogado e professor de História de 64 anos.

Intocável?

O opositor reiterou que retornaria à Venezuela "apesar das ameaças". Os Estados Unidos e os países do Grupo de Lima (Canadá e 13 países latino-americanos) expressaram a sua preocupação pela segurança de Guaidó em sua volta ao país.

O governo americano de Donald Trump, que não descarta uma opção militar na Venezuela, advertiu que se algo acontecer com Guaidó haverá "sérias consequências".

A alta representante da União Europeia, Federica Mogherini, advertiu no sábado que "qualquer medida que pudesse colocar em risco a liberdade, a segurança ou a integridade pessoal" de Guaidó "representaria uma grande escalada de tensões e mereceria a firme condenação da comunidade internacional".

"Guaidó cresceu tanto politicamente que Maduro não tem podido agir da maneira tradicional do chavismo: colocá-lo na prisão ou obrigá-lo a fugir do país, intimidá-lo", opinou Salamanca.

Guaidó se autoproclamou presidente interino em 23 de janeiro, após o Congresso declarar Maduro "usurpador" por assumir em 10 de janeiro um segundo mandato que a oposição, como grande parte da comunidade internacional, considera ilegítimo e originado em uma "reeleição fraudulenta".

Desde esse dia, o líder da oposição convocou várias marchas multitudinárias, que deixaram cerca de 40 mortos e centenas de feridos, de acordo com ONGs.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, criticou neste domingo a sua antecessora e atual alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, por não condenar "a ditadura de Maduro" e os abusos contra os direitos humanos cometidos na Venezuela.

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