Cerca de 90.000 pessoas fugiram e estão "desassistidas", afirma a Caritas Internacional (Habibou Kouyate/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2012 às 13h13.
Bamaco - Centenas de civis fugiam do norte do Mali nesta quinta-feira, um dia depois do anúncio de um cessar-fogo unilateral por parte do movimento rebelde tuaregue, acusado de abusos por parte da junta militar no poder.
Paralelo a isso, o líder dos golpistas, o capitão Amadou Sanogo, reiniciou as discussões com emissários da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que impôs um embargo total ao Mali para restringir o poder da junta.
A CEDEAO também anunciou a criação imediata das forças de reserva da comunidade e terá sua implementação discutida.
O golpe de Estado contra o regime do presidente Amadou Toumani Toure, duas semanas atrás, mergulhou o país no caos: rebeldes tuaregues e grupos islâmicos tomaram o controle das três cidades do norte - Kidal, Gao e Timbuktu - sem nenhuma resistência por parte do exército malinense, desorganizado e desarmado, dividindo o país em dois.
Os islamitas do Ansar Dine, liderados por Iyad Ag Ghaly, e membros da al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) assumiram, desde então, o Movimento Nacional para a Libertação da Azawad (MNLA), que anunciou unilateralmente o fim de suas "operações militares".
De acordo com o movimento, este cessar-fogo leva em conta "a libertação completa de Azawad", região considerada o berço do Tuareg e que reivindica independência, mas também "a forte demanda da comunidade internacional".
O predomínio dos islamitas e a imposição da Sharia é o que preocupa a comunidade internacional, em particular a ONU, os Estados Unidos e a França, que conseguiram aprovar na quarta-feira uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A resolução apela por um cessar-fogo e condena a violência no norte, que levou centenas de pessoas a fugir das áreas inacessíveis à imprensa e organizações internacionais. Muitos moradores relataram saques e pilhagens em Gao e Timbuktu, além de vandalismo em Kidal.
Cerca de 90.000 pessoas fugiram e estão "desassistidas", afirma a Caritas Internacional.
De acordo com a junta, os novos senhores do norte cometeram "graves violações dos direitos Humanos", incluindo estupro. "Eles estão fazendo todos os tipos de atrocidades", disse à AFP uma fonte militar.
Testemunhas disseram que centenas de civis deixaram Timbuktu na noite de quarta-feira para quinta-feira, principalmente em direção a Mauritânia e Burkina Faso.
O Consulado da Argélia em Gao foi ocupado por islamitas armados que hastearam a bandeira negra Salafista e prenderam os diplomatas argelinos nesta quinta-feira, relataram várias testemunhas. Em Timbuktu, três ocidentais foram evacuados.
Além das negociações com a CEDEAO, discussões entre diferentes atores do Mali, para encontrar uma solução para a crise, estão previstas para acontecer hoje.
Mas uma "convenção nacional" foi adiada por tempo indeterminado "devido às dificuldades de organização material", disse o coronel Moussa Coulibaly Sinkolo, chefe de Gabinete do capitão Sanogo.
Antes do anúncio de adiamento, uma frente antijunta, que reúne cerca de 50 partidos políticos e "centenas" de associações e sindicatos, descartou qualquer participação na convenção.
Sanogo pediu aos ocidentais uma intervenção militar no norte do Mali contra os grupos islamitas armados. Contudo, a França acredita "não existir uma solução militar" e que os países vizinhos precisam contribuir com uma solução política, declarou o ministro das Relações Exteriores, Alain Juppé.
Além do embargo da CEDEAO, a junta enfrenta sanções da União Africana (UA) e dos Estados Unidos, enquanto vários países e organizações suspenderam a ajuda e cooperação com o Mali.