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Grupos armados controlam nova corrida por ouro e diamantes na Venezuela

Relatório da ONU divulgado nesta quarta-feira, 15, mostra que o crime organizado tomou conta do garimpo na Amazônia venezuelana

Venezuelanos em mina de ouro em plena selva amazônica; relatório da ONU revela poder do crime organizado na região (Getty Images/Getty Images)

Venezuelanos em mina de ouro em plena selva amazônica; relatório da ONU revela poder do crime organizado na região (Getty Images/Getty Images)

CA

Carla Aranha

Publicado em 15 de julho de 2020 às 16h19.

Última atualização em 15 de julho de 2020 às 16h41.

Sem emprego e dinheiro para comprar produtos básicos como leite e medicamentos, os venezuelanos têm se submetido cada vez mais a trabalhos de qualquer espécie. Vale até garimpar ouro e diamante em plena floresta amazônica, sem qualquer tipo de proteção — a região possui grandes reservas minerais, o que tem atraído grupos criminosos. Muitas vezes, os venezuelanos acabam caindo nas mãos de redes de crime organizado.

Um estudo da ONU publicado nesta quarta-feira, 15, aponta que as minas de ouro e diamantes na Amazônia venezuelana, que valem milhões de dólares, foram dominadas por grupos que atuam de forma ilegal. Alguns têm ligação com redes que operam no restante da América Latina e de outras regiões do mundo.

O relatório da ONU traz informações alarmantes. “Boa parte da atividade mineradora é controlada por grupos criminais e elementos armados. Eles determinam quem entra e quem sai das minas e se beneficiam economicamente dos ganhos obtidos, inclusive com a cobrança de taxas proteção dos garimpeiros”, diz o estudo.

Também há indícios de que grupos paramilitares como o libanês Hezzbollah, apoiado pelo Irã, atuem no país, exercendo atividades que podem ir do contrabando de mercadorias ao treinamento de mercenários. O próprio governo venezuelano não está livre de acusações sobre possíveis ligações com o crime organizado internacional.

“A Venezuela foi tomada por grupos que exercem atividades criminosas”, afirma Maria Teresa Belandría, embaixadora extraordinária da Venezuela no Brasil, que representa o líder da oposição Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela em janeiro de 2019. “Há desde o tráfico de drogas, metais preciosos e até armamentos, realizados com apoio de grupos como as Farcs e operativos iranianos.”

O atual governo do presidente Nicolás Maduro, acusado de fraudar as eleições de 2018, não é reconhecido por 60 países, incluindo o Brasil.

Nos bastidores militares e diplomáticos do Brasil, a situação da Venezuela é vista com preocupação. O Ministério da Defesa acompanha a crise no país vizinho atentamente. O principal temor é o de uma derrocada econômica, social e política que provoque turbulências ainda maiores, com desdobramentos complexos.

O PIB da Venezuela deve cair 15% neste ano. O país, que já foi um dos mais pujantes da América do Sul, passa por uma crise econômica sem precedentes. Mesmo a indústria petrolífera venezuelana está se depauperando, sem recursos para investir na manutenção dos poços de petróleo e das refinarias. A Venezuela possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

O coronavírus também não está ajudando. O governo venezuelano anunciou nesta quarta-feira, 15, que o estado de emergência será prorrogado por mais um mês. Oficialmente, há 1.000 casos de covid-19 confirmados, mas esse número pode ser muito maior. “As informações governamentais não inspiram muita confiança”, diz Maria Teresa. “Enquanto isso, a economia está em frangalhos e as pessoas passam fome.”

 

 

 

 

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