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Greve geral, protestos em massa e forte queda do peso sacodem o Chile

Manifestantes voltaram às ruas nesta terça-feira (12) para cobrar o aprofundamento de reformas prometidas pelo presidente Piñera

Protestos no Chile: manifestantes protestam contra governo chileno em Santiago, nesta terça (Ivan Alvarado/Reuters)

Protestos no Chile: manifestantes protestam contra governo chileno em Santiago, nesta terça (Ivan Alvarado/Reuters)

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AFP

Publicado em 13 de novembro de 2019 às 07h47.

Última atualização em 13 de novembro de 2019 às 07h49.

Barricadas, manifestações gigantescas, incêndios, saques e violentos confrontos em Santiago e em várias cidades marcaram a greve geral realizada nesta terça-feira (12) no Chile, que contou com a participação de uma centena de organizações sociais para pressionar o governo de Sebastián Piñera a aprofundar as prometidas reformas sociais.

No fim do dia, o peso despencou 3,1% e alcançou seu mínimo histórico, de 783,82 um dólar, enquanto a Bolsa de Santiago caiu 1,57% em meio a temores sobre os efeitos na economia da extensão da crise social.

Enquanto em vários pontos do Chile prosseguiam os protestos e os saques, Piñera anunciou no Palácio Presidencial que permitirá a reintegração de policiais na reserva, para apoiar as operações de manutenção da ordem pública.

Mas Piñera evitou reeditar o estado de emergência, para recolocar os militares nas ruas, e reafirmou sua proposta para uma nova Constituição, mas sem a convocação de uma Assembleia Constituinte, como exige a oposição e organizações sociais.

"A grave situação que vive nosso país há quatro semanas exige, e com urgência, se deixar de lado todas as pequenices, e agir com a grandeza e o patriotismo que as circunstâncias nos exigem", declarou o presidente.

Na primeira hora, barricadas incendiárias impediam a passagem de veículos em alguns acessos a Santiago e uma grande marcha atraiu 80 mil pessoas - segundo cálculos oficiais - para a Avenida Alameda (centro).

Durante a tarde, novos confrontos começaram nos arredores da Praça Itália, epicentro dos protestos que mantêm o país em vigília há mais de três semanas, e no centro de Santiago.

Ao lado da Plaza Italia, manifestantes encapuzados atearam fogo a um restaurante e saquearam um hotel. Nas proximidades fica a embaixada da Argentina no Chile, onde os manifestantes também tentaram entrar, segundo o embaixador José Bordón.

Saques em lojas e confrontos violentos com a polícia também ocorreram em vários outros lugares no centro de Santiago, especialmente perto da sede do governo. Uma igreja no bairro turístico Lastarria - patrimônio da cidade - também foi queimada.

Na cidade de Concepción (sul), manifestantes incendiaram a sede do governo regional e entraram em choque com a polícia, enquanto várias lojas foram saqueadas no balneário de Viña del Mar e no porto turístico de Valparaíso, no centro do país, onde confrontos violentos com a polícia também foram registrados. Na cidade vizinha de San Antonio, um complexo militar foi atacado.

"O descontentamento é por muitos temas (...) Tudo o que o presidente ofereceu é insuficiente, uma chacota", diz Karen Delgado, funcionária administrativa de 29 anos, durante a manifestação.

"Peço ao presidente para ouvir o que pedimos e pare de procrastinar com essas medidas remediadoras. Não ouve o povo", acrescentou.

A convocação à greve geral ocorreu mais de três semanas depois do início dos primeiros protestos sociais, convocados pela chamada "Mesa Social", que reúne mais de uma centena de organizações sociais, de funcionários fiscais, professores, trabalhadores da saúde pública, funcionários portuários e aeroportuários.

Bárbara Figueroa, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores, estimou em 90% a adesão à greve dos funcionários públicos e 60% dos trabalhadores do setor privado.

Figueroa deu um "ultimato" ao governo e disse que eles convocariam uma greve por tempo indeterminado caso não concordassem em convocar uma Assembleia Constituinte.

"Essa mobilização, o que ela busca é ser um ultimato para o governo, com base em nossa proposta clara e precisa: não queremos um congresso constituinte, nosso compromisso é construir uma nova constituição por meio de uma assembleia constituinte", disse Figueroa, ao fazer um balanço da greve desta terça.

Reviravolta presidencial

Esta queda de braço ocorre depois de o presidente Sebastián Piñera dar uma reviravolta, ao anunciar o início de um processo para mudar a Constituição herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), embora não com uma Assembleia Constituinte - como pedem os manifestantes e que contemplaria uma participação mais ampla da cidadania - mas a partir de um Congresso Constituinte, cujos detalhes e composição ainda não foram definidos.

"O caminho para o diálogo está aberto, o Governo sempre o disse, todos os atores querem trabalhar na construção de um país com base no diálogo. O presidente já falou da nova Constituição e este é um sinal claro que deveria evitar estes quadros de violência", disse o vice-secretário do Interior, Rodrigo Ubilla, ao divulgar um balanço do dia.

Em declaração pública na tarde desta terça-feira, 14 partidos de oposição exigiram a realização de uma Assembleia Constituinte.

"A proposta de um Congresso Constituinte por parte do governo se afasta da demanda popular por participação e deliberação", declararam no texto o Partido Socialista, o Comunista, a Democracia Cristã e o Partido Radical, além de grupos da esquerda radical.

Em uma tentativa de unir posições, o mandatário se reuniu com os ex-presidentes Eduardo Frei (1994-2000) e Ricardo Lagos (2000-2006) e falou por telefone com a ex-presidente socialista Michelle Bachelet, atual alta comissária dos direitos humanos da ONU.

O governo de Piñera também alcançou um acordo com a oposição política para impulsionar uma reforma tributária que arrecadaria 2 bilhões de dólares, destinados a financiar parte dos anúncios sociais feitos para calar os protestos sociais, e fechou um acordo para aprovar o Orçamento de 2020, incluindo algumas concessões sociais.

Mas os sindicatos exigem reformas mais profundas no sistema previdenciário - também herdado da ditadura - que paga pensões inferiores ao salário mínimo (420 dólares). Também pedem aumentar o orçamento da saúde pública, atendendo assim quase 80% da população chilena, e aumentar o salário mínimo.

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