Acordos são fruto de negociações entre Papademos, a Comissão Europeia, o FMI, os Ministérios das Finanças e do Trabalho grego e mais três partidos (Louisa Gouliamaki/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2012 às 18h31.
Atenas - Os partidos que formam o governo de coalizão da Grécia conseguiram nesta quinta-feira chegar a um acordo sobre as novas medidas de austeridade exigidas pelo grupo de entidades credoras conhecido como 'troika' em troca de um novo empréstimo internacional de 130 bilhões de euros, que evitará a moratória do país.
'Há um acordo geral para o Eurogrupo. Como é sabido, o programa vem com um acordo de crédito pelo qual a Grécia será financiada com 130 bilhões de euro', explicou o primeiro-ministro, Lucas Papademos, em comunicado.
De Bruxelas, o ministro de Economia grego, Evangelos Venizelos, afirmou que 'após uma longa e dura negociação', o governo grego conseguiu chegar a um acordo com a 'troika' para um 'novo, forte e confiável programa' de resgate.
Composta pela Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI), a 'troika' exige à Grécia um novo conjunto de medidas de austeridade e cortes de gastos públicos em troca do resgate financeiro.
'Também temos um acordo com os credores privados sobre os parâmetros básicos do PSI (o perdão prometido de 50% da dívida, equivalente a 100 bilhões de euros). Agora necessitamos o apoio político do Eurogrupo para um passo final', assinalou o ministro em comunicado enviado por seu Ministério à imprensa em Atenas.
Esses acordos são fruto de negociações feitas em longas reuniões e constantes conversas telefônicas entre Papademos, a Comissão Europeia, o FMI, os Ministérios das Finanças e do Trabalho grego e os três partidos que formam o governo de coalizão.
Sem o consenso entre o Movimento Socialista Pan-Helênico (Pasok), o conservador Nova Democracia (ND) e o ultradireitista LAOS, um acordo não se sustentaria.
Mas as divisões internas no governo e os interesses particulares de cada facção fizeram com que alguns temas mais fossem concluídos de forma superficial.
O principal ponto de atrito corresponde à previdência, pois o líder conservador, Antonis Samaras, se negava a reduzir os complementos das aposentadorias, enquanto o líder socialista, Giorgos Papandreou, rejeitava cortes nas próprias aposentadorias, pois isso afetaria as rendas mais baixas.
Após a divulgação do acordo, o vice-ministro de Trabalho, o socialista Yiannis Koutsoukos, anunciou nesta quinta-feira sua renúncia em protesto contra as medidas pactuadas, alegando que a 'troika' ignorou os argumentos e as propostas de sua pasta, que advertiu sobre o impacto negativo das medidas.
Para salvar o acordo, a 'troika' permitiu que o governo grego será o responsável por decidir que parte do orçamento aplicará um corte no valor de 300 milhões de euros, o que se pretendia obter com a redução de gastos na previdência.
O ministro porta-voz do governo, Pantelis Kapsis, reconheceu nesta quinta-feira que 'seria tragicômico' que as negociações fracassassem por esses 300 milhões de euros, quando, se tudo correr bem, a Grécia poderá saldar dívidas cerca de 100 bilhões de euros por meio do processo do perdão.
Ao longo desta quinta-feira, várias fontes do governo disseram que este último tema também foi acertado, embora não houvesse pleno convencimento entre os representantes europeus.
O porta-voz econômico da Comissão Europeia, Amadeu Altafaj, disse que as discussões avançaram muito, mas alguns detalhes podem ter ficado abertos.
A parte definida do acordo inclui polêmicas medidas sobre a redução dos salários e dos gastos públicos, principalmente no já prejudicado sistema de saúde.
No setor público, serão cortados 15 mil empregos em 2012 dentro de um plano para eliminar 150 mil postos de trabalho até 2015.
O salário mínimo cairá 22% e ficará em 585 euros mensais brutos. Para os jovens com menos de 25 anos, o salário será reduzido em 32%, para ficar em 527 euros.
Logo após conhecer o acordo com a 'troika', os principais sindicatos gregos convocaram uma greve geral de 48 horas, que será a segunda do ano e também da semana, já que na terça-feira houve uma, com ampla participação popular.
'Este governo não tem a legitimidade para tomar tais medidas. Exigimos uma mudança de política e do governo de coalizão que a impõe. É a vez do povo', afirmaram os dois sindicatos majoritários gregos, GSEE e ADEDY, em comunicado conjunto.
Tanto os sindicatos como o patronato se opõem aos cortes salariais que provocaram um aumento sem precedentes do desemprego e da pobreza, assim como uma forte queda do consumo, que levou ao fechamento de mais de 60 mil negócios.
Justamente nesta quinta-feira o Instituto de Estatística Grego (Elstat) informou que, em novembro passado, o número de desempregados gregos superou pela primeira vez 1 milhão, com uma taxa de 20,9%.
Uma das medidas pactuadas é que não haverá aumentos salariais, nem no setor privado nem no estatal, até que o desemprego não fique abaixo de 10%.