As últimas pesquisas mostram os dois principais adversários, o conservador Nova Democracia (ND) e o esquerdista Syriza praticamente empatados nas intenções de voto (Aris Messinis/AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2012 às 15h41.
Atenas - Empobrecida por cinco anos consecutivos de recessão, a Grécia termina à meia-noite deste sábado sua campanha para as eleições legislativas de domingo em meio a especulações sobre sua saída do euro que fizeram soar o alerta vermelho nos mercados financeiros.
"Podemos viver sem o euro", diz o cartaz de um pequeno movimento popular no centro de Atenas e que, significativamente, está pintado com as cores da bandeira da Espanha, cujo resgate também foi tema de debates na campanha eleitoral grega.
"Espanha? A Espanha é a próxima, e depois será a vez da Itália. Deveríamos sair do euro porque desde que entramos na zona da moeda única, os preços não pararam de subir", queixou-se um atendente de um bar do centro da capital grega.
A julgar por pesquisas e estudos diversos, os gregos que desejam que seu país retorne ao dracma são minoria - pouco mais de 10% da população -, mas o debate sobre o futuro da moeda única europeia ganhou no cenário político.
As últimas pesquisas mostram os dois principais adversários, o conservador Nova Democracia (ND) e o esquerdista Syriza praticamente empatados nas intenções de voto, embora com uma tendência descendente para o partido progressista, que há poucos dias dominava as enquetes "secretas" encomendadas pelos partidos políticos (na Grécia as pesquisas não podem ser divulgadas nas duas semanas prévias ao pleito).
Fontes do Syriza disseram à Agência Efe que, das sete pesquisas recebidas hoje pela legenda, cinco apontam um empate técnico entre os dois primeiros partidos, e outras duas indicam que o ND está um ponto e meio acima nas intenções de voto. Outro dado que essas enquetes mostram é que o número de indecisos aumentou de sete para 11% dos eleitores. Já as enquetes da legenda conservadora dão ao ND em torno de dois pontos de vantagem.
No entanto, nem os conservadores - partidários da renegociação das medidas de austeridade impostas por Bruxelas em troca dos dois resgates - nem os esquerdistas - que pedem sua abolição, embora nos últimos dias tenham moderado sua postura - teriam maioria suficiente para governar sozinhos. Por isso, deverão firmar um pacto com algum dos outros cinco partidos que devem conseguir assentos no Parlamento.
"Nos dizem: "Não ponham seu dinheiro na Grécia, porque ela vai sair do euro". Mas a Grécia não vai sair do euro, porque a partir de segunda-feira terminarão a austeridade e as medidas que levam a Grécia para fora do euro, a quebra e a pobreza", afirmou o líder do Syriza, o jovem Alexis Tsipras, em um de seus últimos atos públicos antes do fechamento da campanha.
Para Tsipras, são as atuais medidas de austeridade que aprofundaram a recessão e causaram uma espiral de endividamento que podem levar o país a abandonar a moeda única.
Os conservadores concordam em parte com este argumento e, seu candidato presidencial, Antonis Samaras, prometeu que se ganhar o pleito renegociará os termos do memorando de austeridade, mas descarta o que considera uma proposta "unilateral" do Syriza.
Samaras também acusou o partido esquerdista de estar "jogando com a Grécia", já que, segundo ele, a rejeição ao memorando será aproveitada pela "minoria de países da UE que está esperando a oportunidade para jogar a Grécia fora do euro".
O ND acredita que o Syriza tem uma "agenda oculta" para sair do euro, algo que a formação esquerdista nega, embora reconheça que, para o partido, "o euro não é um fetiche".
"Se para preservar a zona do euro nossos trabalhadores terão que ficar sempre com a faca ao pescoço, então o euro não é como um sonho de consumo para nós", explicou hoje à Efe um dos líderes econômicos do Syriza, Zeodoros Dritsas.
Em todo caso, ele afirmou que a estratégia principal de seu partido passa por se manter na moeda comum, já que, em sua opinião, não há relação entre as medidas de austeridade e a permanência da Grécia na eurozona. Por outro lado, o assessor econômico de Samaras e professor da Universidade de Oxford, Dimitrios Tsomocos, considera que a estratégia do Syriza levará ao temido "Grexit" (saída grega do euro).
Isso porque se o futuro governo grego romper o acordo com Bruxelas, os parceiros europeus se negarão a continuar financiando a Grécia, que, incapaz de se financiar nos mercados internacionais, deverá decretar uma moratória de salários e aposentadorias, abrindo o caminho para deixar de adotar a moeda europeia.