Polícia de choque turca lança gás lacrimogêneo contra manifestante segurando cartaz durante protesto contra a destruição de árvores em um parque, na praça Taksim, em Istambul (Osman Orsal/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2013 às 11h12.
O vice-premier turco, Bülent Arinç, pediu desculpas, nesta terça-feira, aos manifestantes feridos na repressão policial durante os protestos que afetam a Turquia há cinco dias, mas também pediu o fim imediato das manifestações.
Ao mesmo tempo, a disputa entre o primeiro-ministro islamita turco Recep Tayyip Erdogan e milhares de manifestantes, que já provocou a morte de dois ativistas, se intensificou nas ruas da Turquia e um sindicato convocou uma greve de duas horas.
"Peço desculpas aos que sofreram a violência por serem sensíveis às questões ambientais", disse Arinç, que criticou a intervenção policial com gás lacrimogêneo para dispersar um protesto contra a remodelação de um parque no centro de Istambul.
"Mas não acredito que devamos pedir desculpas aos que provocaram danos nas ruas e tentaram bloquear a liberdade das pessoas", completou Arinç.
"O que fez com que as coisas saíssem de controle foi a utilização de gás lacrimogêneo pelas forças de segurança, por uma ou outra razão, contra pessoas que tinham inicialmente exigências legítimas", disse o vice-premier em uma entrevista coletiva após uma reunião com o presidente Abdullah Gül.
O vice-premier considerou ainda "justas e legítimas" as primeiras manifestações contra o projeto de urbanização de um parque de Istambul, que depois viraram onda de protestos contra o governo islamita conservador.
"As primeiras manifestações, motivadas por preocupações ecológicas, eram justas e legítimas", declarou Arinç.
"Estou convencido de que nossos cidadãos, responsáveis, encerrarão hoje os protestos. É o que esperamos deles", afirmou.
"As diferenças constituem a maior riqueza da Turquia. Nosso governo respeita e é sensível aos distintos estilos de vida", destacou o porta-voz do governo.
Desde o início dos protestos, Gul e Arinç, ambos do partido AKP de Erdogan, se mostraram mais conciliadores que o chefe de Governo.
Erdogan prosseguia nesta terça-feira em uma viagem pelo norte da África. Em Rabat, Marrocos, afirmou que a situação "estava se acalmando" no país, apesar da convocação de greve pela influente Confederação de Sindicatos do Setor Público (KESK).
De acordo com Erdogan, seus opositores se aproveitaram dos episódios em Istambul.
"A princípio, os problemas com as árvores (que seriam derrubadas para a construção de um centro comercial em Istambul) provocaram alguns protestos. Mas depois os manifestantes foram controlados por pessoas que não ganharam as eleições", disse.
Após uma nova noite de mobilização e confrontos em várias cidades turcas, a KESK convocou uma paralisação de duas horas nesta terça-feira.
Desde sexta-feira, os protestos de militantes de associações contrárias à construção de um centro comercial se espalharam por toda a Turquia.
Erdogan, acusado de autoritarismo, enfrenta um movimento de protesto de dimensão inédita desde a chegada ao poder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2002.
"O terror exercido pelo Estado contra as manifestações totalmente pacíficas ocorreu de tal maneira que ameaça a vida dos civis", afirma uma nota da KESK, que alega ter 240.000 afiliados.
"A brutalidade da repressão traduz a hostilidade contra a democracia por parte do governo", completa a nota.
Um jovem de 22 anos morreu na segunda-feira em um hospital no sul da Turquia, a segunda vítima fatal dos confrontos no país. A necropsia não permitiu confirmar que ele recebeu um tiro, como haviam informado as autoridades.
A polícia voltou a utilizar na madrugada desta terça-feira bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar centenas de manifestantes em Ancara e Istambul.
Em Istambul, milhares de manifestantes voltaram a pedir na noite de segunda-feira a renúncia do primeiro-ministro.
A polícia agiu com violência contra os manifestantes no bairro de Besiktas, perto do gabinete do primeiro-ministro, e na praça Kizilay, que virou o epicentro dos protestos na capital Ancara.
Em Genebra, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a sul-africana Navi Pillay, pediu que a Turquia organize uma investigação rápida e independente sobre o comportamento da polícia.
*Matéria atualizada às 11h11