Javier, de Honduras, abraça seu filho William, de 4 anos, após serem reunidos depois de 55 dias separados na sequência de sua detenção na fronteira do México com os EUA: crianças ainda em custódia do governo são 572 (Lucas Jackson/Reuters)
AFP
Publicado em 4 de agosto de 2018 às 09h36.
O juiz que ordenou a reunificação de famílias separadas na fronteira por uma política promovida pelo presidente Donald Trump disse que é responsabilidade do governo localizar os pais que foram deportados sem seus filhos para evitar "órfãos permanentes".
"A realidade é que ainda há cerca de 500 pais que não foram localizados, muitos dos quais foram retirados do país sem seu filho; tudo isso é resultado da política do governo de separar e depois de sua incapacidade e fracasso para rastrear e reunir", afirmou o magistrado Dana Sabraw, em uma audiência telefônica com as partes de seu gabinete em San Diego.
"A realidade é que por cada pai que não é localizado, haverá uma criança órfã permanente, e isso é 100% responsabilidade do governo", disse o juiz, citado por veículos de mídia.
Sabraw ordenou que o governo encarregasse uma pessoa para a operação de encontrar os pais deportados de 410 crianças que ainda estão no país, em um limbo.
"Esta será uma tarefa importante, e está claro que tem que haver uma pessoa encarregada", disse o juiz, que considerou "inaceitável" que até agora só foram localizados 13 pais.
"O juiz se recusa a deixar que o governo escape do desastre que causou", disse Lee Gelernt, o advogado da organização de direitos humanos ACLU que lidera a ação judicial contra o governo.
Falta de informação
O governo havia sugerido em seu relatório na quinta-feira que a ACLU deveria usar "sua rede de escritórios, ONGs e voluntários" para "estabelecer contato" com os deportados e determinar se querem se reunir com seus filhos.
Também sugeriu que a organização deveria proporcionar informação sobre as filiações a fim de buscar a melhor maneira de reunificá-los.
Os 13 pais foram localizados pela parte acusadora.
A ACLU indicou por sua vez que "deixou claro que farão tudo o que esteja a seu alcance para ajudar a localizar os pais deportados, mas insiste que é o governo que deve se encarregar da tarefa de fazer isso".
"Não foi somente esse governo que implantou essa prática inconstitucional de separação que levou à crise, mas o governo dos Estados Unidos tem mais recursos do que qualquer ONG", afirmou.
"A parte acusadora espera que o governo dê passos significativos para encontrar esses pais por sua conta".
A ACLU pediu mais informação para cooperar na tarefa, embora Gelernt tenha assegurado que o governo retém informação que pode ajudar a localizar os pais deportados.
"Cada dia que o governo se senta sobre esta informação é outro dia de sofrimento para essas famílias", disse.
Balanço atualizado
Em 26 de junho, Sabraw deu um mês de prazo para que o governo reunisse todas as crianças separadas de suas famílias.
O governo garante que cumpriu a reunificação dos chamados "elegíveis", ou seja, adultos que reuniam os requisitos para receber os filhos.
Em um balanço entregue à corte na quinta-feira foi informado que de 2.551 crianças de entre 5 e 17 anos identificadas, 1.979 foram liberadas das instalações do Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR, na sigla em inglês).
Desse total, 1.535 foram reunidas com seus pais e as 444 restantes se dividem entre as que foram entregues a outro representante, completaram 18 anos ou já haviam sido reunidas previamente.
As crianças ainda em custódia do governo são 572. Os pais de 34 desses menores renunciaram à reunificação para que seus filhos não sejam deportados junto com eles; os de 410 foram deportados e os de 68 estão nos Estados Unidos sem serem localizados. Há ainda os filhos de pais "não elegíveis" por antecedentes criminais.