A ofensiva da semana passada deixou 213 mortos do lado armênio (Divulgação/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 28 de setembro de 2023 às 09h31.
Os armênios de Nagorno-Karabakh anunciaram nesta quinta-feira, 28, a dissolução de sua república separatista em janeiro, uma semana depois da vitória militar do Azerbaijão, o que forçou a fuga de mais da metade da população da região.
Em um decreto, Samvel Shajramanyan, governante do enclave de maioria armênia, anunciou a dissolução de "todas as instituições governamentais e organizações em 1º de janeiro de 2024".
Isto significa que a "república de Nagorno-Karabakh", conhecida pelos armênios como Artsakh e fundada há mais de três décadas, "deixa de existir".
Em Ierevan, o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que, segundo as previsões do governo, "nos próximos dias não haverá armênios em Nagorno-Karabakh", depois que quase 65.000 moradores, mais de metade da população, fugiram do enclave.
Pashinyan acusou o Azerbaijão de "limpeza étnica" no território do Cáucaso e pediu uma "ação" da comunidade internacional.
A região montanhosa está dentro das fronteiras internacionais do Azerbaijão. Os armênios anunciaram a secessão no momento da desintegração da União Soviética. Desde então, os separatistas enfrentaram o governo azerbaijano em duas guerras, a primeira de 1988 a 1994 e a segunda em 2020, quando os secessionistas perderam vários territórios.
Na semana passada, o Azerbaijão executou uma ofensiva militar relâmpago e forçou a rendição dos armênios em 24 horas, sem uma intervenção dos soldados russos de manutenção da paz, mobilizados na região desde o fim de 2020.
A Armênia, que apoiou durante décadas o território, também não intercedeu militarmente desta vez, o que abriu caminho para a reintegração efetiva de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão.
Desde então, dezenas de milhares de armênios fugiram das tropas azerbaijanas, com medo da repressão, através do corredor Lachin, a única rodovia que liga Nagorno-Karabakh à república da Armênia.
As autoridades armênias anunciaram nesta quinta-feira que mais de 68.000 deslocados procedentes do enclave entraram no país, ou seja, mais da metade da população, de 120.000 habitantes oficialmente.
O governo armênio conseguiu abrigar até o momento apenas 2.850 pessoas, o que antecipa uma crise humanitária. "A Armênia não tem recursos e não conseguirá atuar sem ajuda estrangeira", disse à AFP o analista político Boris Navasardyan.
O Kremlin afirmou que "toma nota" do anúncio da dissolução da república autoproclamada de Nagorno-Karabakh, mas destacou que "não vê razões" para que a população abandone o enclave.
O Parlamento armênio informou que votará na próxima semana a ratificação do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI), para irritação da Rússia, que, quando Ierevan expressou a intenção e aderir ao tribunal, chamou a decisão de "inamistosa".
O presidente russo Vladimir Putin é alvo de uma ordem de detenção emitida pelo TPI por acusações de crimes de guerra.
Para aumentar o sofrimento em Nagorno-Karabakh, mais de 100 pessoas continuam desaparecidas após a explosão em um depósito de combustíveis tomado pelos moradores na noite de segunda-feira. A tragédia deixou pelo menos 68 mortos e 290 feridos.
As autoridades azerbaijanas prenderam, na quarta-feira, o empresário Ruben Vardanyan, que comandou o governo separatista armênio do enclave de novembro de 2022 a fevereiro de 2023, quando ele tentava entrar na Armênia.
Ele foi acusado de financiar o terrorismo e de criar uma organização armada ilegal, segundo o Serviço de Segurança do Azerbaijão, e colocado em prisão provisória por quatro meses.
Ao falar sobre os moradores que decidam, eventualmente, permanecer em Nagorno, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu que os direitos dos armênios no enclave serão respeitados.
A ofensiva da semana passada deixou 213 mortos do lado armênio. Baku anunciou que 192 soldados e um civil morreram na operação.