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Governo Milei quer adaptar modelo de segurança de Bukele na Argentina

Ministra da segurança disse que pretende visitar o país da América Central em breve; salvadorenho foi reeleito no domingo com mais de 80% dos votos, segundo ele próprio

A aproximação entre os dois líderes de ultradireita latino-americanos era, segundo fontes próximas a Milei, apenas uma questão de tempo (Tomas Cuesta/Getty Images)

A aproximação entre os dois líderes de ultradireita latino-americanos era, segundo fontes próximas a Milei, apenas uma questão de tempo (Tomas Cuesta/Getty Images)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 07h05.

Eles nunca se encontraram, mas domingo passado, no dia em que foi reeleito, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, dedicou alguns minutos a expressar sua admiração pelo colega argentino, Javier Milei, e a oferecer-lhe a colaboração de seu governo em matéria de segurança interna.

Bukele revelou que sua administração já manteve contatos com a ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, que disse, por sua vez, estar interessada em “adaptar o modelo de Bukele” para combater a delinquência e o crime organizado em seu país.

A aproximação entre os dois líderes de ultradireita latino-americanos era, segundo fontes próximas a Milei, apenas uma questão de tempo. O chefe de Estado argentino conversou longamente com Bukele por telefone, após derrotar o peronista Sergio Massa nas urnas em 19 de novembro. A sintonia entre ambos, disseram as fontes, foi imediata. O próprio presidente salvadorenho revelou detalhes da conversa:

— Falei com Milei apenas uma vez, mas foi uma conversa bastante longa. Eu tinha telefonado apenas para parabenizá-lo por sua vitória, e ficamos falando muito tempo. Ele me deu um panorama do país, um panorama difícil, sobretudo em matéria econômica.

Os contatos entre os dois governos devem se intensificar nos próximos tempos. Bullrich disse a meios de comunicação argentinos que pretende visitar El Salvador, atendendo a um convite que recebeu das autoridades do país.

— Nos interessa adaptar o modelo de Bukele. A insegurança na Argentina está complicada — declarou a ministra, que em sua malograda campanha pela Presidência focou no combate ao crime.

A deterioração da economia é, segundo pesquisas, o assunto que mais preocupa os argentinos, mas o aumento da violência não fica muito distante. Segundo estudo da empresa de consultoria Ipsos realizado em meados de 2023, em plena campanha eleitoral, 64% dos entrevistados afirmaram que o crime tinha crescido no país.

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Os números da insegurança na Argentina são motivo de preocupação para a Casa Rosada, e especialmente para Bullrich. Somente na cidade de Buenos Aires, no ano passado o roubo de automóveis cresceu 20%. Outro dado no qual a ministra está de olho é a maior participação de menores de 18 anos em delitos: em 2023, essa participação elevou-se em 40%, frente ao ano anterior.

Se no começo da campanha eleitoral argentina Bullrich buscava se descolar de lideranças de extrema direita, entre elas o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, agora, como ministra de Milei, elogia modelos questionados por organismos internacionais e ONGs de defesa dos direitos humanos como o de Bukele. O salvadorenho decretou estado de emergência, promoveu encarceramento em massa que chega a 2% da população, construiu uma megaprisão para 40 mil detentos e prendeu milhares de inocentes.

'Clube reduzido'

O governo Milei, explica Diego Guelar, ex-embaixador da Argentina no Brasil e assessor internacional do então presidente Mauricio Macri (2015-2019), “tem um vínculo com lideranças como Bukele, Bolsonaro, Donald Trump, o partido Vox na Espanha, entre outros, que formariam o que poderíamos chamar de clube”.

— São líderes que se consideram amigos, e que estão vinculados ideologicamente. Essas lideranças trocam elogios e têm causas comuns — acrescenta Guelar, para quem “ainda é um clube reduzido, mas bem sucedido e exclusivo”.

Milei e Bukele são presidentes populares em seus países. Na Casa Rosada, assessores admitem que a aproximação com Bukele é vista como altamente benéfica para Milei, que está há menos de dois meses no poder. A reeleição do salvadorenho foi celebrada com euforia nas redes por colaboradores do argentino.

Já em El Salvador, o nome do presidente argentino não tem a mesma importância política que o de Bukele na Argentina, comentaram analistas locais, que falaram sob anonimato. O clima no país de Bukele é tenso para quem o critica, e muitos de seus opositores saíram do país nos últimos anos. Um analista político salvadorenho que se autoexilou na Espanha disse observar com preocupação os gestos da Argentina em relação ao presidente salvadorenho, e afirmou que a única coisa que interesse a Bukele no momento é ganhar legitimidade internacional. A aproximação do presidente de El Salvador de Milei tem, para esse analista, o objetivo de provar que não está isolado.

A Argentina, disse outro analista salvadorenho, corre o risco de se associar a um governo que despreza a democracia. Ele lembrou que em entrevista ao New York Times, o vice-presidente salvadorenho, Félix Ulloa, disse recentemente que “a estas pessoas que dizem que a democracia está sendo desmantelada, minha resposta é, sim — não a estamos desmantelando, estamos eliminando-a e vamos substituí-la por algo novo”.

Ulloa afirmou, ainda, que “o sistema democrático que existiu por anos em El Salvador só beneficiou políticos corruptos e deixou o país com dezenas de milhares de assassinados. Estava podre, era corrupto, era sangrento”. Um discurso muito similar ao de Milei quando ataca a casta política que, segundo o argentino, é responsável pela decadência do país.

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