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Governo do Iraque fecha tráfego aéreo internacional ao Curdistão

Um fechamento prolongado do tráfego aéreo pode ter consequências dramáticas, já que uma grande quantidade de estrangeiros trabalha no Curdistão

Curdistão: o premiê iraquiano já havia intimado a região autônoma a "entregar" seus dois aeroportos às autoridades centrais (Azad Lashkari/Reuters)

Curdistão: o premiê iraquiano já havia intimado a região autônoma a "entregar" seus dois aeroportos às autoridades centrais (Azad Lashkari/Reuters)

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AFP

Publicado em 28 de setembro de 2017 às 14h50.

O governo do Iraque anunciou, nesta quinta-feira (28), a suspensão, a partir de amanhã, de todos os voos internacionais com destino ou origem no Curdistão iraquiano, a primeira medida concreta de represália após o referendo de independência realizado pelos curdos.

Um fechamento prolongado do tráfego aéreo pode ter consequências dramáticas, já que uma grande quantidade de estrangeiros trabalha no Curdistão - uma região autônoma do norte do Iraque que decidiu desafiar Bagdá com um referendo na segunda-feira. Nessa consulta, a maioria se pronunciou a favor da independência.

Bagdá rejeita qualquer negociação que tenha esse referendo como base, ainda que as autoridades curdas tenham garantido que, em caso de vitória do "sim", a independência não seria proclamada de imediato.

"Todos os voos internacionais de e para Erbil e Solimania - sem exceção - serão interrompidos a partir de sexta-feira, às 18h (12h, horário de Brasília), depois da decisão do Conselho de Ministros e do primeiro-ministro Haider al-Abadi", disse à AFP a diretora do aeroporto de Erbil, Talar Faiq Saleh.

A Aviação Civil iraquiana, à qual o tráfego aéreo do Curdistão está subordinada, confirmou essa medida.

"Informamos todas as companhias estrangeiras, e foi por isso que anunciaram a suspensão dos voos. Em relação aos voos domésticos, a decisão será tomada depois de sexta-feira", declarou à AFP um funcionário de alto escalão da Aviação Civil em Bagdá.

Muitos estrangeiros se dirigiram ontem ao aeroporto de Erbil para deixar a região, por medo de ficarem bloqueados. Esses estrangeiros ingressam no Curdistão com um visto entregue pelas autoridades curdas que não são reconhecidas por Bagdá e não podem, portanto, viajar pelo restante do Iraque.

"Não é uma boa decisão"

"Temos consulados, companhias e pessoal internacional. Isso vai afetar muita gente. Não é uma boa decisão", comentou Talar Saleh.

"Essa decisão não atinge apenas os curdos, Temos uma grande quantidade de refugiados que usam o aeroporto e éramos uma ponte entre a Síria e a ONU para enviar ajuda humanitária", continuou.

"Também tínhamos aqui forças da coalizão (internacional contra os extremistas do Estado Islâmico), o que quer dizer que o aeroporto servia para tudo", completou a diretora.

O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, havia intimado a região autônoma a "entregar" seus dois aeroportos às autoridades centrais.

De acordo com Saleh, o Ministério iraquiano dos Transportes explicou que "entregar" os aeroportos às autoridades centrais significava "que todo pessoal de segurança, de imigração, de alfândega deve ser substituído por pessoal de Bagdá".

Quase 93% dos eleitores votaram "sim" no referendo de independência organizado no Curdistão e nas regiões reivindicadas pelos curdos, em especial, a província multiétnica de Kirkuk, que tem abundantes reservas de petróleo.

Tanto Bagdá quanto países vizinhos e os Estados Unidos criticaram a organização do referendo.

Em Bagdá, um funcionário de alto escalão do governo afirmou que não há contatos com Erbil.

"Não há qualquer negociação, nem secreta, com as autoridades curdas, até que declarem nulos os resultados do referendo e deixem sob controle de Bagdá os postos fronteiriços, os aeroportos e as regiões sob disputa".

Petróleo

O petróleo pode ser uma das maneiras de pressionar o Curdistão para que abandone suas pretensões separatistas.

Neste caso, Ancara está na linha de frente, já que 550.000 a 600.000 barris por dia extraídos no Curdistão iraquiano são exportados pelo terminal turco de Ceyhan (sul). Se a Turquia fechar esse terminal, o Curdistão se verá asfixiado. A economia da região depende quase que exclusivamente do petróleo.

Até agora, a Turquia apenas ameaçou fazer algo nesse sentido, sem tomar uma medida concreta.

Segundo um comunicado oficial iraquiano, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, disse a Abadi que seu país apoia "todas as decisões iraquianas", citando a que se refere a "limitar as (operações) sobre as exportações de petróleo unicamente ao governo iraquiano".

Na quarta-feira, os deputados iraquianos votaram a favor do fechamento das fronteiras que se encontram fora da autoridade do Estado, ou seja, os quatro postos fronteiriços curdos com Turquia e Irã.

Também reiteraram o pedido de enviar o Exército para zonas sob disputa. Nenhuma dessas medidas foi adotada ainda.

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