Portugal: o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, anunciou que se reunirá com o primeiro-ministro na quinta-feira e depois receberá os partidos políticos presentes no Parlamento. (Jamie McDonald/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2013 às 16h45.
Lisboa - O governo português, de centro-direita, tentava evitar sua queda nesta quarta-feira, após a renúncia de dois importantes ministros, enquanto Bruxelas pedia ao primeiro-ministro, que se nega a renunciar, que esclarecesse a situação "o quanto antes".
Pedro Passos Coelho, que na véspera, em um discurso solene à nação, afirmou que não vai renunciar, tentava transmitir normalidade e viajou no meio da manhã a Berlim para participar de uma reunião de alto nível sobre o emprego dos jovens convocada por sua homóloga alemã, Angela Merkel.
"Não renuncio. Não abandono o país", disse o primeiro-ministro com a voz embargada.
O presidente português, Aníbal Cavaco Silva, anunciou que se reunirá com o primeiro-ministro na quinta-feira e depois receberá os partidos políticos presentes no Parlamento.
A crise política fez com que a Comissão Europeia (CE) pedisse a Portugal para esclarecer o "quanto antes" a crise política, já que ela pode provocar uma instabilidade financeira desastrosa para o país.
"Esta situação delicada requer um grande senso de responsabilidade da parte de todos os partidos políticos e seus dirigentes", disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, que teme que a instabilidade política ameace a credibilidade financeira do país.
"Se isso acontecer, será um desastre para o povo português", alertou.
O chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, tem a mesma opinião, de que a "situação é preocupante", e pediu a Portugal para assumir suas responsabilidades.
Contudo, a Alemanha já afirmou que está confiante em que Portugal siga a via das reformas, declarou o porta-voz Steffen Seibert.
A Bolsa de Portugal chegou a cair mais de 6% e as taxas de juros dos bônus da dívida portuguesa a dez anos superaram 8% pela primeira vez desde novembro de 2012.
A imprensa portuguesa critica duramente as renúncias, em menos de 24 horas, de dois ministros e qualifica a crise em que o país está imerso de "trágica", "patética" e "imperdoável".
Na segunda-feira, o ministro das Finanças, Vitor Gaspar, apresentou sua renúncia e apenas 24 horas mais tarde o chefe da diplomacia portuguesa, Paulo Portas, o seguiu, alegando desacordos com Passos Coelho.
O chefe de governo rejeitou a renúncia de Portas, chefe do pequeno partido conservador CDS-PP, sócio do Partido Social-democrata, no centro da coalizão de centro-direita no poder desde junho de 2011.
O primeiro-ministro afirmou que tentará superar a crise com o CDS-PP para preservar a estabilidade política do país.
Contudo, os analistas duvidam de que as duas partes possam se entender novamente, já que outros dois ministros, o titular de Agricultura e o de Seguridade Social, do mesmo partido de Portas, também iam apresentar sua renúncia, segundo a imprensa.
A maioria dos comentaristas considera que esta crise significa o fim da coalizão que permitia o governo dispor de uma confortável maioria parlamentar para aplicar as medidas de austeridade exigidas pelos credores de Portugal há dois anos em troca de um plano de ajuda internacional de 78 bilhões de euros.
"O cenário que me parece mais provável é o de eleições antecipadas", disse à AFP a analista financeira Paula Gonçalves, enquanto o universitário Paulo Reis Mourão lembrou que a última palavra é do presidente Cavaco Silva, que tem o poder de dissolver o Parlamento e convocar eleições.
A oposição reivindica eleições antecipadas. Antonio José Seguro, chefe de sua principal formação, o Partido Socialista, deve se encontrar com o presidente nesta quarta-feira.
Na frente econômica e financeira, as consequências da crise parecem preocupantes. Alguns falam da possibilidade de que Portugal seja obrigado a pedir uma segunda injeção de ajuda, como aconteceu na Grécia.
"As probabilidades de um segundo plano de ajuda aumentam", disse Paula Gonçalves. A economia se contrairá de novo este ano, 2,3%, e o desemprego alcança níveis recorde de 18,2%.