Cristina Kirchner: exclusividade dos jogos não é privilégio deste Mundial de 2014 e já havia sido adquirida em edições anteriores da Copa (Argentine Presidency/Handout/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de janeiro de 2014 às 16h10.
Buenos Aires - Em meio ao crescente déficit fiscal, queda das reservas, disparada do câmbio paralelo e profunda crise energética, o governo argentino de Cristina Kirchner resolveu investir no entretenimento esportivo e comprou todos os direitos de transmissão para o país dos jogos da Copa do Mundo, que acontecerá entre junho e julho, no Brasil.
O chefe de Gabinete de Ministros (equivalente à Casa Civil), Jorge Capitanich, informou nesta terça-feira que o governo assinou "contrato de licença exclusiva para transmissão de 64 partidas, 32 ao vivo e 32 gravadas".
O ministro não falou sobre o custo da exclusividade, mas, para ter uma ideia do que se gasta neste setor, no orçamento de 2014 o programa "Futebol para Todos", pelo qual a emissora de TV Pública transmite, gratuitamente, os jogos da primeira e segunda divisões dos campeonatos nacionais da Argentina, deve receber 1,410 bilhão de pesos (cerca de US$ 213 milhões), 17% acima do que consumiu no ano passado.
Desde o início do programa, em 2009, os gastos neste segmento aumentaram 135%. O valor diz respeito somente aos direitos de transmissão, sem contabilizar os custos de logística para a transmissão, produção e publicidade, estimados em, pelo menos, 150 milhões de pesos adicionais.
Até o momento, o governo argentino não permite propaganda privada durante as exibições dos jogos - portanto, fica sem retorno financeiro. A única publicidade permitida nos intervalos é a oficial, que mostra as obras e conquistas do Executivo. Mas recentemente, diante da necessidade de aumentar a arrecadação, Capitanich afirmou que o governo está "trabalhando em uma agenda sobre os direitos de comercialização das transmissões".
Somente no primeiro ano do "Futebol para Todos", o governo gastou 700 milhões de pesos para romper o contrato que a Associação Argentina de Futebol (AFA) tinha com a emissora de TV a cabo TyC, do grupo Clarín, que detinha a exclusividade das transmissões dos campeonatos na Argentina.
Foi a primeira de uma série de medidas para atingir o "inimigo número 1 da Casa Rosada", como o próprio governo classifica o grupo Clarín, até chegar à entrada em vigor da Lei de Mídia, que o obriga a se desfazer de seus ativos mais valorizados, as licenças de TV e rádio.
A exclusividade dos jogos não é privilégio deste Mundial de 2014 e já havia sido adquirida em edições anteriores da Copa, como na África do Sul em 2010. A diferença agora é que governo se encontra em um momento de fragilidade nas contas públicas, que teriam fechado 2013 com um déficit acima de 4% do PIB. Segundo levantamento realizado pela Associação Argentina de Orçamento (Asap, pela sigla em espanhol), de janeiro a novembro de 2013, o governo acumulou um déficit de 109,424 bilhões de pesos, equivalentes a 4,1% do PIB.
Na Copa de 2014, a Argentina entra em campo como uma das favoritas ao título, principalmente por contar com o craque Lionel Messi. Na primeira fase da competição, os argentinos vão enfrentar a Bósnia (no Rio), o Irã (em Belo Horizonte) e a Nigéria (em Porto Alegre).