Mundo

Goodwin, de Oxford: economia pós-eleições

Camila Almeida Nas eleições parlamentares desta quinta-feira, os britânicos devem escolher o partido Conservador para continuar comandando o país, sob a liderança na primeira-ministra Theresa May. Mas, mesmo que derrotado, o partido Trabalhista conseguiu conquistar os eleitores com suas propostas. De acordo com o economista Andrew Goodwin, do instituto de pesquisa Oxford Economics, o estado […]

ANDREW GOODWIN: economista britânico aponta que Brexit rigoroso e propostas dos conservadores não são o melhor caminho para a economia do Reino Unido / Divulgação

ANDREW GOODWIN: economista britânico aponta que Brexit rigoroso e propostas dos conservadores não são o melhor caminho para a economia do Reino Unido / Divulgação

DR

Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2017 às 15h50.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h03.

Camila Almeida

Nas eleições parlamentares desta quinta-feira, os britânicos devem escolher o partido Conservador para continuar comandando o país, sob a liderança na primeira-ministra Theresa May. Mas, mesmo que derrotado, o partido Trabalhista conseguiu conquistar os eleitores com suas propostas. De acordo com o economista Andrew Goodwin, do instituto de pesquisa Oxford Economics, o estado mínimo proposto pelos conservadores não é a melhor saída. As projeções do economista mostram que o PIB do Reino Unido cresceria cerca de 1,9% ao ano sob o comando do partido Conservador, até 2022; 2,1% sob o comando Trabalhista; e 2,2% caso fossem seguidas as propostas dos liberais democratas. Em entrevista a EXAME Hoje, Goodwin falou sobre a diferença entre as propostas e as preocupações em relação à condução do Brexit proposta por Theresa May.

Qual seria a melhor proposta para a economia britânica?
Os conservadores efetivamente querem levar adiante a redução do déficit fiscal basicamente com cortes no orçamento. O Partido Trabalhista têm uma proposta diferente. Eles acreditam que os cortes de custos já foram suficientes, e querem crescer significativamente o gasto que o país faz com infraestrutura. Esses pontos são normalmente abraçados em qualquer eleição racional. Mas nós verificamos que a proposta dos trabalhistas representaria um crescimento mais forte na economia, em relação a dos conservadores.

O Partido Trabalhista conseguiu crescer muito nas eleições. A população conseguiu entender isso ou eles avançaram por outras razões?
As propostas deles tiveram apelo com o eleitorado. As pessoas tendem a achar que a relação entre economia e finanças públicas funcionam basicamente como as contas da família. Elas entendem os benefícios dos investimentos do mesmo jeito que os economistas entendem. Então, o crescimento deles nas pesquisas provavelmente é um reflexo das propostas de políticas fiscais. Mas parte da batalha se deu porque os trabalhistas têm uma reputação muito ruim na economia, devido ao trabalho feito em administrações anteriores.

A política proposta pelos trabalhistas foi associada a Robin Hood. De fato há essa característica?
Sim. O ideal deles é justamente o de: vamos taxar mais, e gastar mais. E boa parte desse aumento nos impostos vem da taxação de pessoas mais ricas. E boa parte dos gastos públicos seriam para beneficiar os pobres. Entretanto, quando as organizações olham como essas políticas afetariam grupos de diferentes classes sociais, a realidade é que essas políticas não afetam de forma tão distinta grupos de classes diferentes.

Mas esse crescimento na economia se daria mais por que razão?
O melhor crescimento vem da ampliação dos investimentos em infraestrutura, que geram um impacto positivo especialmente na geração de emprego. Mas também porque ampliam a possibilidade de crescimento do país no longo prazo.

Por que o senhor acredita que os conservadores não foram tão ambiciosos nas propostas?
É basicamente por motivos ideológicos. Eles acreditam no estado menor. É algo em que os políticos do partido Conservador têm acreditado há muitos anos. O foco das propostas tem sido sempre nessa direção, de promover um enxugamento do estado, com redução da carga tributária e redução dos gastos públicos em relação ao PIB.

Há uma contradição, não? Quando as pessoas votaram pelo Brexit, elas estavam acreditando que esse estado mínimo seria o melhor caminho para a economia britânica. Mas as pesquisas mostram que seria melhor para a economia se houvesse mais intervenção, como os trabalhistas estão propondo.
É preciso levar em consideração o contexto do Brexit. As propostas dos trabalhistas são mais positivas porque acrescentam demanda à economia num momento em que ela deve ser fraca. Um dos desafios do Brexit é que a saída não está sendo conduzida do jeito que foi vendida para a população, particularmente nas barreiras à imigração. E isso deve reduzir o consumo e a demanda na economia no longo prazo. Então é bem possível que o Brexit venha a ser ruim para o crescimento econômico. Quanto mais nos afastarmos da política que temos hoje, pior será, especialmente se não for possível manter um comércio forte com a Europa. Essas duas questões, de imigração e comércio internacional, afetariam de forma mais grave o PIB.

Então, por que os conservadores são mais populares?
O partido Trabalhista escolheu um líder muito impopular [Jeremy Corbyn]. Ele dialoga com um grupo muito restrito de apoiadores — ele consegue falar bem para movimentos da esquerda, mas certamente não troca bem com o centro. O outro fator é que o Brexit foi abraçado pelos conservadores de forma muito intensa, e isso satisfaz os desejos de boa parte daqueles que votaram por sair da União Europeia no ano passado. No fim das contas, eles conseguiram se comunicar bem com o público que votou pelo Brexit, mas isso não vai resultar em melhor crescimento econômico.

Os liberais democratas, na sua pesquisa, aparecem como o partido que conseguiu fazer as melhores propostas que dariam o melhor retorno para a economia. Por que eles foram tão impopulares nas pesquisas?
Eles estão sofrendo com as experiências políticas eleitorais que tiveram entre 2007 e 2015. Eles perderam muito suporte nas últimas eleições gerais e têm penado para conseguir reconquistar eleitores. Eles não têm um líder muito carismático, e decidiram brigar, nessas eleições, por uma forma de inclusive parar o Brexit, e mudar seu curso. Eles acharam que haveria mais gente no Reino Unido apoiando essa mudança, mas não se mostrou como sendo o caso. Se eles já tinham perdido apoio em 2015, agora perderam ainda mais.

O que eles propuseram que soou tão bem para a economia?
Eles propuseram uma política similar à do partido trabalhista, em termos de aliviar as regulamentações fiscais e ampliar os gastos em infraestrutura. A maior diferença é que os trabalhistas também propuseram alguns planos de nacionalização, o que poderia adicionar custos ao Estado e menos interesse. Esse é o principal motivo pelo qual os liberais democratas aparecem melhor nas projeções do que o trabalhista.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Mundo

EUA autoriza Ucrânia a usar suas armas para atacar Rússia, diz jornal

Porta-voz do Hezbollah é morto em ataque israelense em Beirute

Presidente da China diz querer trabalhar com Trump para “administrarem diferenças”

Hospedado em Copacabana, príncipe saudita preza por descrição e evita contatos; saiba quem é