Conte: o advogado sem experiência política foi indicado pelo M5S e pela Liga para o cargo de primeiro ministro (Remo Casilli/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de maio de 2018 às 10h50.
Encarregado de formar o próximo governo italiano, Giuseppe Conte começou, nesta quinta-feira (24), a trabalhar na composição de sua equipe, em meio a duras negociações entre o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga, de extrema direita.
Ontem, o presidente italiano, Sergio Mattarella, designou esse advogado e professor de Direito de 53 anos sem qualquer experiência política e até agora desconhecido do grande público. Ele foi proposto como o candidato de consenso do M5S e da Liga, depois que ambos os partidos se negaram a aceitar a figuras fortes do outro lado.
Conte começa nesta quinta as consultas com as comissões dos diferentes partidos políticos na Câmara de Deputados, com o objetivo de formar o novo governo italiano.
Depois de se reunir com Mattarella na quarta-feira, Conte prometeu aplicar o programa comum que se coloca como de anti-austeridade e com acento na segurança, negociado entre as duas siglas antissistema que têm uma estreita maioria no Parlamento.
"Ali, lá fora, há um país esperando o nascimento de um governo de mudança e esperando respostas", declarou Conte, ao prometer que se tornaria "advogado defensor do povo italiano".
Mattarella levou 48 horas até nomeá-lo, pouco convencido de sua autoridade diante dos dirigentes da Liga e do M5S, que devem se tornar seus ministros, já que, segundo a Constituição, é o chefe de governo que deve liderar e assumir a política de sua equipe.
Segundo a imprensa italiana, Matteo Salvini, o líder da Liga, perfila-se como ministro do Interior, enquanto Luigi Di Maio, do M5S, assumiria um grande Ministério do Desenvolvimento Econômico.
O nome mais problemático é o de Paolo Savona, que a Liga quer impor na pasta da Economia. Esse ex-ministro (1993-1994) de 81 anos considera o euro como uma "jaula alemã" para a Itália.
Considerado um garante de que os tratados internacionais serão respeitados e eleito por um Parlamento de maioria de centro-esquerda, Mattarella quer ter certeza de que a Itália respeitará seus compromissos europeus. Recentemente, lembrou que apenas ele tem o poder de nomear ministros e que pode se negar a validar leis que possam afetar o orçamento.
O programa comum negociado pelo M5S e pela Liga promete dar as costas à austeridade e reduzir o déficit com uma política de crescimento. Também inclui drásticos cortes de impostos, o estabelecimento de uma renda básica universal, a redução da idade de aposentadoria, assim como uma firmeza sem precedentes contra a corrupção e um giro em matéria de segurança com um viés anti-imigrantes e anti-Islã.
A preocupação tomou conta de Bruxelas, onde o comissário europeu dos Assuntos Financeiros, Pierre Moscovici, pediu na quarta-feira uma "resposta confiável" à questão da dívida pública italiana, que deve se situar, em 2018, em 130,7% do Produto Interno Bruto (PIB). É a segunda mais alta na zona euro depois da Grécia.
Na quarta-feira, Conte mencionou de maneira breve sua vontade de "diálogo" com as instituições europeias, o que foi considerado um "bom sinal" por parte de Moscovici.
"O fato de o chefe de governo dizer 'eu quero dialogar com as instituições europeias' deve ser visto, sobretudo, como um bom sinal", declarou Moscovici à rádio Franceinfo, nesta quinta-feira.