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Gângster que inspirou filme é julgado em Boston

James "Whitey" Bulger era chefe da máfia irlandesa em Boston e foi imortalizado por Jack Nicholson em "Os Infiltrados"


	Os Infiltrados: filme de Martin Scorsese mostra a deslealdade, corrupção policial e crueldade sem limites da máfia irlandesa de Boston nos anos 70 e 80, chefiada por James "Whitey" Bulger
 (Divulgação)

Os Infiltrados: filme de Martin Scorsese mostra a deslealdade, corrupção policial e crueldade sem limites da máfia irlandesa de Boston nos anos 70 e 80, chefiada por James "Whitey" Bulger (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2013 às 11h21.

Washington - O julgamento do gângster James "Whitey" Bulger, que acabou de começar em Boston, caminha para se tornar um dramático cruzamento de acusações, digno dos melhores filmes de máfia, em uma mistura de deslealdade, corrupção policial e crueldade sem limites.

"Whitey" Bulger, de 83 anos, e imortalizado pelo ator Jack Nicholson no filme "Os Infiltrados" de Martin Scorsese, foi o chefe da máfia irlandesa em Boston nos anos 70 e 80.

Durante esses anos, o grupo de Bulger, do sul de Boston, e seus rivais da máfia italiana, com conexões em Nova York, protagonizaram uma sangrenta luta pelo controle da cidade em cenas que agora são revividas no julgamento realizado em Boston.

Bulger está sendo acusado de 19 assassinatos durante seus anos à frente da temida Winter Hill Gang, que controlava grande parte do tráfico de drogas, extorsão e apostas ilegais da cidade.

Nesta semana o mítico gângster ouviu algemado e com um olhar sério ao relato de seu antigo parceiro, Joe Martorano, que detalhava seu sangue frio na hora de ordenar execuções.

Em uma delas, ambos estavam juntos em um carro, acompanhando outro sócio, Thomas King, com o objetivo de entregar uma "encomenda"; mas antes de chegar ao destino, Martorano mirou na cabeça de King e disparou, diante do olhar tranquilo de Bulger.

Pouco depois, e ao passar por uma ponte perto de onde supostamente se desfizeram do corpo, Martorano lembrou a ironia de Bulger ao dizer-lhe: "Tire o chapéu, aí está Tommy (Thomas King)".


A defesa de Bulger, por sua parte, apresentou Martorano como um assassino capaz de qualquer coisa por dinheiro e criticou o fato de ter colaborado com a Justiça para diminuir sua pena.

Martorano, que enfrenta 20 acusações de assassinato, das quais 12 teriam sido sob as ordens de Bulger, revelou a profunda tristeza sentida ao tomar conhecimento, na década de 1990, que Bulger e outro sócio, Stephen Flemmi, tinham trabalhado como informantes da polícia durante anos.

"Quando fiquei sabendo que eram informantes, me partiu o coração. Eram meus parceiros, meus melhores amigos, eram os padrinhos dos meus filhos", afirmou Martorano, lembrando que colocou o nome de seu filho mais novo de James Stephen em homenagem a Bulger e Flemmi.

Segundo a investigação, Bulger e Flemmi mantinham suas operações à margem da lei enquanto davam pistas aos policiais sobre a atuação da máfia italiana, seus grandes rivais.

Não podia faltar, na trama, a figura do policial corrupto, o agente do FBI (polícia federal americana), John Connolly, criado no mesmo bairro que Bulger, que avisava aos gângsteres sobre as operações policiais. Ele atualmente também cumpre pena na Flórida.

Na reviravolta final, houve a conexão política. O irmão de "Whitey" Bulger, William, era um famoso político local que chegou a ser presidente do Senado de Massachusetts e esteve à frente da prestigiada Universidade Estadual até que os vínculos com seu irmão, com quem supostamente conversou enquanto estava foragido, o obrigaram a colocar um fim na sua carreira pública em 2003.


Sem recursos, e depois de passar mais de dez anos na prisão, Martorano, de 72 anos, recorreu aos estúdios de cinema para vender a história de sua vida e salvar sua maltratada economia, já que declarou que sua única renda procede na atualidade da Previdência Social.

A versão de Martorano poderia se tornar uma sequência da produção "Os Infiltrados", que estreou em 2007. Porém, o que não aparece no filme é o que aconteceu depois com Bulger, que fugiu em 1994 e ficou durante 16 anos escondido em um apartamento simples da tranquila cidade Santa Mónica, no condado de Los Angeles, às margens do Pacífico, junto com sua namorada Catherine Greig, enquanto tinha sido colocado pelo FBI na lista dos fugitivos mais procurados, junto a Osama bin Laden.

No acontecimento cinematográfico e perante a dificuldade de localizar o gângster, os agentes federais se focaram no paradeiro de Catherine, conhecida por sua paixão pela cirurgia estética. Foi em 2011 que finalmente a encontraram, acompanhado por um Bulger, ligeiramente envelhecido, que vivia sob outro nome.

É esperado que o julgamento, que começou na sexta-feira passada, dure cerca de três meses. Pelo tribunal passará uma longa de lista de testemunhas, entre eles antigos criminosos, ex-policiais e parentes de vítimas.

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