G20: "As redes terroristas não podem planejar ou operar sem dinheiro que seja movimentado através do sistema financeiro de muitos países", afirmou Tusk, presidente do Conselho Europeu (Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2015 às 05h43.
Antalya - Com a comoção pelos atentados em Paris ainda presente, os líderes das potências do G20 querem reforçar a luta contra as fontes financeiras do terrorismo jihadista do grupo Estado Islâmico.
Os atentados obscureceram uma reunião do G20 que começou com um minuto de silêncio em homenagem aos 129 mortos, em um encontro que reúne os 19 maiores PIBs mundiais, além da União Europeia, para debater aspectos como a reativação da economia mundial.
O impacto dos atentados teve seu influxo na agenda, na qual os participantes abordaram a luta contra o terrorismo em um jantar de trabalho, e alguns deles disseram que é prioritário asfixiar as fontes financeiras dos jihadistas.
Antes desse jantar, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, lembrou que o G20, cujos integrantes englobam 85% do PIB mundial, é um fórum crucial para promover normas que dificultem a lavagem e as transferências para atividades terroristas.
"Não há um melhor fórum para falar sobre o financiamento do terrorismo. As redes terroristas não podem planejar ou operar sem dinheiro que seja movimentado através do sistema financeiro de muitos países", declarou Tusk em entrevista coletiva.
"Só se cooperarmos plenamente na troca de informações sobre transações suspeitas poderemos deter esta ameaça de forma efetiva", acrescentou.
Os atentados em Paris, segundo o anfitrião da reunião, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, mostram que não se pode "ignorar a relação entre a economia e a política", ao solicitar respostas para situações sociais, como o desemprego ou a pobreza, que possam incentivar a radicalização.
"O principal interesse do G20, a economia, não está à margem da vida social, política e humana", argumentou Erdogan.
Um dos objetivos do G20 nesta cúpula é impulsionar o crescimento econômico mundial, que recentemente a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu para este ano de 3,3% para 2,9%. A luta contra a desigualdade, em seus níveis mais elevados nos países desenvolvidos em décadas, e planos para diminuir o desemprego juvenil também estão incluídos na agenda de debates.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou ontem sobre uma "drástica queda do crescimento do comércio", de 3,4% em 2014 para 2% neste ano.
"Espero que esta cúpula do G20 seja um ponto histórico para a luta contra o terrorismo e a crise dos refugiados", afirmou Erdogan, acrescentando que "o mundo tem suas expectativas depositadas" nos participantes da cúpula.
Quanto à evolução econômica mundial, o presidente turco reconheceu que, "apesar dos esforços", o mundo ainda está longe de apresentar um crescimento vigoroso e que há "novos riscos" devido às tensões políticas em algumas regiões, embora não tenha mencionado a próxima Síria, um país arrasado por quatro anos de guerra civil e cujas fronteiras ficam a apenas 500 quilômetros dos luxuosos hotéis do G20 em Antalya.
Os ministros de Finanças do G20 encarregaram em fevereiro ao Grupo de Ação Financeira (Gafi) - órgão intergovernamental responsável pela luta contra a lavagem de dinheiro - medidas concretas para fortalecer "todos os instrumentos financeiros de luta contra o terrorismo".
Depois dos atentados de janeiro em Paris contra a revista satírica Charlie Hebdo, a França passou a defender o endurecimento da luta contra o financiamento de organizações jihadistas.
A postura ganhou ainda mais força após os massacres da última sexta, e algumas fontes dão como certo que no comunicado final da reunião será pedido aos países que acelerem a aplicação das recomendações do Grupo de Ação Financeira.
Em outubro, o Gafi divulgou um relatório com guias e exemplos de boas práticas para a luta contra a lavagem de dinheiro usado para bancar atividades criminosas.
Melhorar as medidas contra a lavagem é um elemento fundamental para asfixiar economicamente o EI, já que parte de seus recursos provêm da exploração de poços de petróleo na Síria.
A revista econômica "Forbes" classificou o EI como a organização terrorista mais rica do mundo, com um volume de receita de US$ 2 bilhões por ano.
A atividade petrolífera, sequestros, extorsões e roubos e saques são as principais fontes de arrecadação dessa organização terrorista, segundo a publicação.