O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner (Yuri Gripas/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2010 às 17h20.
Washington - O G20, que agrupa países avançados e em desenvolvimento, abriu nesta sexta-feira o debate sobre a "guerra cambial" provocada pelos desequilíbrios no crescimento mundial, um dos temas que monopolizam as atenções na reunião semestral do FMI.
A diferença substancial de crescimento entre Estados Unidos, União Europeia e Japão de um lado, e Ásia e América Latina do outro, está provocando uma avalanche de investimentos financeiros nos países emergentes.
Suas moedas estão apreciando-se de forma galopante, exceto nos casos de China e Coreia do Sul, onde os governos mantêm um férreo controle do câmbio.
Países como o Brasil, cuja moeda apreciou-se mais de 35% desde 2009 em relação ao dólar, estão sendo penalizados por esta situação, o que levou seu ministro das Finanças, Guido Mantega, a cunhar a expressão "guerra cambial".
Os países do G20 iniciaram o debate a portas fechadas dentro da assembleia do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), aberta em Washington.
Há poucas esperanças de um acordo, segundo reconheceram ministros e responsáveis do fundo, pela complexidade do debate, mas o diretor-gerente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, pediu que não se perda a coordenação internacional empreendida depois da crise financeira.
"É desejável, (...) espero que aconteça, mas não creio ser provável no curto prazo", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em referência a um possível pacto internacional para estabilizar as moedas.
"Os Estados Unidos acreditam que o reequilíbrio global não estava avançando o suficiente para impedir as ameaças da recuperação da economia global", disse o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, ao discursar na assembleia do fundo.
Países como China devem pensar menos em exportar e mais em estimular seu mercado interno, além de acelerar a reavaliação do iuane, entre outras medidas, acredita Washington.
O titular do banco central da China, Zhou Xiagochuan, rejeitou o pedido de uma rápida apreciação do iuane, o qual - segundo ele - se moverá gradualmente para um nível de "equilíbrio".
Mas as acusações também se cruzam entre Estados Unidos e UE, com um euro que está de novo subindo em relação ao dólar, e entre os próprios países emergentes, como Brasil em relação à China, e outros em relação à Coreia do Sul.
"É um tema que não vai ser resolvido em cinco minutos, é um problema de longo prazo", advertiu na quinta-feira Strauss-Kahn, que assegurou que faria suas próprias propostas aos países-membros.
A América Latina poderá crescer 5,7% em 2010, quase um ponto percentual a mais em relação às previsões anteriores do Fundo.
Toda uma diferença em relação às previsões de 2,6% de crescimento para os Estados Unidos e 1,7% para a zona do euro.
Isso provoca um grande deslocamento de investimento para países como o Brasil, que também demonstrou uma gestão macroeconômica considerada "exemplar" pelo fundo.
A América Latina poderá quase quadruplicar a recepção de fluxos de investidores estrangeiros este ano, para 91 bilhões de dólares, em relação ao ano anterior (25 bilhões de dólares).
"Se deixarmos que a situação rume para um conflito ou formas de protecionismo, corremos o risco de repetir os erros dos anos 1930", depois da última grande crise financeira, advertiu o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.
O debate sobre a "guerra cambial" ilustra também a pressão interna no FMI sobre o peso dos respectivos países.
O fundo arrasta há dois anos uma reforma interna que deverá dar mais poder aos países emergentes, com um mínimo de 5% de redistribuição das cotas internas.
Os europeus estão sobrerepresentados no conselho de administração do fundo, e devem decidir entre eles como dividir as cadeiras.
A previsão é que esse debate seja encerrado até janeiro.
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