Ban Ki Moon, é recebido com festa na comunidade Santa Rita, Bolívia (AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2014 às 17h32.
A relação da China com a América Latina aponta cada vez mais para grandes projetos de industrialização necessários para sustentar o crescimento regional e que requerem investimentos vultosos nos próximos anos, de acordo com analistas consultados pela AFP antes do início da Cúpula G-77+China na Bolívia.
O encontro que começa no sábado em Santa Cruz (leste), e do qual participam 133 países em desenvolvimento e a China, discutirá entre outros assuntos os termos de intercâmbio que "entram em uma nova etapa".
"A China atua agora de maneira diferente com os países sul-americanos. Já não mira apenas a compra de matérias-primas, hoje quer entrar nos investimentos da industrialização", disse à AFP Gabriel Dabdoub, presidente da Federação de Empresas de Santa Cruz, motor econômico da Bolívia.
No Brasil, a maior economia regional, o interesse da China se concentra em grandes licitações para adquirir vias férreas, construir rodovias e usinas para geração de energia elétrica, disse Wang.
O líder empresarial afirmou que as empresas chinesas tem expressado interesse na construção de uma ferrovia ligando a Bolívia ao Brasil, criando uma rota que una os oceanos Atlântico e Pacífico, além de rodovias e empreendimentos de conexão fluvial.
Em visita à região em maio, o chanceler chinês Wang Yi se referiu ao objetivo de Pequim de investir mais em infraestrutura na América Latina.
O presidente da China, Xi Jinping, chegará ao Brasil depois do Mundial para participar com os mandatários da região da cúpula China-Celac (comunidade de 33 Estados latino-americanos e caribenhos), que será realizada no final do ano e que o governo chinês considera "o início de uma nova fase na cooperação entre a China e a América Latina".
De bens industrializados a tecnologia
Nos últimos anos, com a grande compra de commodities da América Latina e a venda de bens industrializados, a China se tornou um dos principais parceiros comerciais de muitos países da região, e no principal destino para as importações brasileiras, depois de desbancar os Estados Unidos, há cinco anos.
"A Bolívia até pouco tempo atrás não considerava a China como parceiro comercial. Via o país com desconfiança. Mas agora há uma troca maior e acabamos de adquirir tecnologia, com a compra de um satélite", comentou Dabdoub.
A China concedeu 102,2 bilhões de dólares em empréstimos para a América Latina entre 2005 e 2013, especialmente à Venezuela e à Argentina, enquanto países como México aumentam seus contatos com Pequim, segundo um estudo apresentado em abril pelo Global Economic Governance Initiative, da Universidade de Boston.
O México está abrindo sua legislação no setor de petróleo e a China "quer ser um ator importante lá", indicou o informe, que aponta Pequim como maior força financeira na América Latina, à frente do Banco Mundial, dos Estados Unidos e do BID.
Em 2013, os empréstimos chineses a governos, empresas estatais e empresas privadas na América Latina somaram 20,1 bilhões de dólares.
"Hoje a China está substituindo parceiros tradicionais da região, como Europa e Estados Unidos, em investimentos e comércio. E, sem dúvida, sua presença crescerá nos próximos anos", disse à AFP Gary Rodriguez, economista e presidente do Instituto Boliviano de Comércio Exterior, com sede em Santa Cruz.
"A China tem definitivamente uma área de maior gravitação neste milênio e consolidará sua expansão comercial com maior aproximação da América Latina", disse à AFP Armando Loayza, analista internacional que foi chanceler da Bolívia em 2005.
A Venezuela é atualmente o principal destino dos investimentos chineses na América Latina orientados até agora para petróleo, gás e minério.
A estatal China National Petroleum Corporation (CNPC) assinou um contrato em 2013 com o governo venezuelano para um investimento de 28 bilhões de dólares em um projeto na Faixa Petrolífera de Orinoco, até agora o maior investimento de Pequim no continente.
A cúpula do G77+China, sábado e domingo em Santa Cruz, celebra os 50 anos deste bloco de países em desenvolvimento, que foi criado com 77 membros em 1964 e hoje reúne 133 nações.