O Haiti é o 32º país mais corrupto, segundo a ONG Transparency International (Joe Raedle/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2010 às 11h04.
Porto Príncipe - Um país presidido de dentro de uma barraca de campanha nos jardins do palácio de governo em ruínas. Esse é o cenário que o futuro presidente do Haiti vai encontrar num país devastado pelo terremoto.
Orgulho dos haitianos e símbolo da independência do primeiro Estado negro, o Palácio Nacional inaugurado em 1921 foi parcialmente destruído pelo terremoto de 12 de janeiro, que deixou cerca de 250.000 mortos.
Em abril, os tratores começaram lentamente sua demolição. Os serviços da presidência foram realojados em instalações pré-fabricadas ou em barracas de campanha.
Além do Palácio Presidencial, a Suprema Corte, a Assembleia Nacional e 90% dos ministérios ficaram destruídos.
É difícil nessas condições reconstruir o país mais pobre das Américas, apesar dos bilhões de dólares prometidos pela comunidade internacional, cuja presença mais visível, a dos Capacetes Azuis da ONU, é cada vez mais mal vista: uma parte da população os acusa de ter introduzido a cólera no país.
Os mesmos funcionários de governo tiveram que pagar um pesado tributo depois do terremoto.
"Houve muitas mortes. Em um bom número de casos, não houve contratações para substituir essas pessoas", admitiu o ministro encarregado das relações com o Parlamento, Joseph Jasmin.
"Tivemos que passar sem esses funcionários. Alguns deles ocupavam funções estratégicas e não se pode encontrar substitutos. O Estado preferiu fechar esses postos e fazer funcionar o aparelho administrativo apoiando-se nas capacidades com que conta", precisou Jasmin.
Enquanto isso, a reconstrução do país está atrasada.
"O novo poder terá muitos problemas para utilizar a administração pública e colocá-la a serviço da população. A administração funciona em barracas de campanha, não conta com quadros competentes e perdeu seus expedientes e instruções", reconheceu Jasmin.
O presidente poderá apoiar-se até 15 de outubro de 2011 no estado de emergência que aumenta os poderes do executivo em termos de reconstrução, de pedidos e de aprovação de contratos sem convocar licitações.
Pelo lado econômico, o PIB deverá cair 8,5% em 2010, neste país onde 30% da população está oficialmente desempregada, segundo dados do Banco Mundial. O custo econômico do terremoto (destruição, detenção da produção, desemprego) representa 119% do PIB, de acordo com esse organismo.
A única nota positiva: o crescimento deverá aumentar em 9,8% em 2011 e 8,4% em 2012 graças à reconstrução, assinala o Banco Mundial.
Mil e trezentas escolas foram destruídas pelo terremoto e 58% dos cerca de 9.000 presos aproveitaram para escapar das prisões. Aqueles que foram capturados se encontram em condições carcerárias indignas.
Dos 5.601 detidos contabilizados em 25 de outubro de 2010, 4.217 se encontram em prisão preventiva, alguns há cinco ou seis anos, denunciou a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos.
Neste país, que se encontra no 146º lugar num total de 178 em termos de corrupção, segundo a organização Transparency International, o novo presidente terá pelo menos uma boa notícia que não resolve muita coisa: a França devolverá dois quadros do Palácio Nacional que foram danificados pelo terremoto e que especialistas franceses estão restaurando.