Juan Manuel Santos discursa durante conferência de imprensa no palácio presidencial (Cesar Carrion/Presidência da Colômbia/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2014 às 20h29.
Bogotá - O inédito apoio da esquerda ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos, para o segundo turno da eleição, que acontece neste domingo, e o respaldo da ala oficial do Partido Conservador ao candidato uribista Óscar Iván Zuluaga serão definitivos para definir quem governará a Colômbia a partir de agosto.
Estas alianças, fechadas nas duas últimas semanas em meio ao desespero diante do triunfo de Zuluaga no primeiro turno, em 25 de maio, são as que determinarão se Santos será reeleito e terá tempo para tentar concluir o processo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), iniciado por ele em novembro de 2012 em Cuba.
Ou se a Colômbia terá de novo um sistema de governo semelhante ao de Álvaro Uribe (2002-2010), baseado na luta militar contra a guerrilha, a negação do conflito armado e o assédio à esquerda.
A disputa entre a promessa da paz de Santos e o retorno ao poder do uribismo uniu a esquerda como nunca antes se tinha visto. Foi criada uma plataforma em apoio ao presidente, a Frente Ampla pela Paz, que se dedicou à campanha para conquistar até o último voto.
A esquerda se mobilizou para evitar esse retorno do uribismo à presidência, anos marcados pela espionagem, pela perseguição e pelo exílio, em que floresceram os "falsos positivos", execuções extrajudiciais de jovens por militares que os reportavam como guerrilheiros mortos em combate.
Algumas das cenas mais marcantes da campanha foram protagonizadas por Clara López, ex-candidata da coalizão de esquerda entre o Polo Democrático Alternativo (PDA) e a União Patriótica (UP).
Clara foi a quarta colocada no primeiro turno com 15,23% dos votos e, depois do resultado, acompanhou Santos em eventos de campanha em Bogotá, onde foi prefeita e teve seu melhor resultado.
Os votos de Santos e López somaram 40,92% do total, já que o presidente ficou na segunda posição com 25,69%.
A UP, nascida nos anos 80 em consequência de um acordo entre o governo da época e as Farc e que foi praticamente exterminada com o assassinato sistemático de milhares de militantes, também apoiou Santos publicamente.
"O melhor neste momento é apoiar o candidato que abriu os diálogos e que segue pelo caminho da solução política e negociada", disse Aída Avella, líder da UP que voltou à Colômbia para esta campanha após 17 anos no exílio, depois de ter sido alvo de um atentado.
Além da UP e de setores do PDA, o prefeito de Bogotá, o progressista Gustavo Petro, também está ao lado de Santos, mesmo após a pesada discussão que tiveram no início do ano.
A eles se somaram membros da Aliança Verde e da Marcha Patriótica, como a ex-senadora Piedad Córdoba, completando o insólito apoio da esquerda a Santos, representante da política tradicional das mãos dos poderosos.
Do outro lado do espectro político, Zuluaga, o mais votado no primeiro turno com 29,25% votos, assinou uma aliança com a conservadora Marta Lucía Ramírez, terceira colocada com 15,52%.
O acordo entre Zuluaga e Ramírez obrigou o candidato uribista a modificar seu discurso sobre o processo de paz. Se antes era radicalmente contrário, agora adotou a proposta de fixar condições às Farc antes de continuar com o diálogo.
Embora os dois milhões de votos de Ramírez tenham sido uma das surpresas da eleição, uma parte importante do Partido Conservador, incluídos vários pesos pesados, optou por apoiar a reeleição de Santos, e o comportamento dos eleitores em 15 de junho é uma incógnita.
Por último, o ex-candidato da Aliança Verde à presidência, Enrique Peñalosa, que alcançou 8,28% no primeiro turno, não deu diretrizes aos eleitores, mas vários membros, como os congressistas Ángela María Robledo e John Sudarsky, participaram da criação da Frente Ampla pela Paz.
O resultado do segundo turno dependerá de Santos conquistar um eleitorado de esquerda que o rejeita por suas políticas econômicas neoliberais, mas que quer impedir que a aliança ultradireitista entre uribistas e alguns conservadores reconquistem o poder, pelo menos, até 2018.