Rebeldes passam pela refinaria de petróleo de Zawiya, a 40 km de Trípoli: portos e jazidas petrolíferas foram alvo de violentos confrontos entre rebeldes e forças leais ao ditador (Filippo Monteforte/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2011 às 10h54.
Londres - O fim da era Kadafi na Líbia possibilitará uma retomada gradual das exportações de petróleo, praticamente interrompidas há seis meses, mas precisará de tempo para que o país recupere o nível de produção de antes do conflito, segundo analistas.
A rápida entrada na capital das forças hostis ao coronel Muammar Kadafi surpreendeu os investidores, que começam a vislumbrar a perspectiva de uma retomada próxima da indústria petroleira do país, paralisada desde o início do conflito, em fevereiro.
Caso os rebeldes se imponham, "um volume importante de petróleo líbio pode voltar progressivamente ao mercado mundial nos próximos meses", ressaltou Filip Petersson, analista do banco SEB.
"Se for instaurado um governo estável, e dependendo dos danos que as infraestruturas petroleiras tenham sofrido, a produção pode recuperar provavelmente a normalidade em seis meses", estimou, por sua vez, Manouchechr Takin, do Centro de Estudos Energéticos (CGES) em Londres.
A produção da Líbia, que chegava a 1,6 milhão de barris diários (mbd) em janeiro - ou cerca de 2% da oferta mundial - caiu nos meses seguintes e alcançava apenas 60 mil barris diários em julho, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
A retomada da produção "pode ir rápido" se for instalado rapidamente um regime de transição, o que abriria caminho para exportações "da ordem de entre 0,2 e 0,7 milhão de barris diários" para o fim do ano, estimou Guy Maisonnier, engenheiro do instituto de pesquisa francês IFP. Não acredita, no entanto, que possa retornar ao nível de antes do conflito até 2013.
Os especialistas mostravam-se unanimamente prudentes, devido às numerosas incógnitas que ainda existem sobre o estado das infraestruturas e o futuro político.
Como as refinarias, portos e jazidas petrolíferas têm sido alvo de violentos confrontos entre os dois grupos, "ignora-se até que ponto o aparato de produção está danificado, é impossível determinar nestas condições quando será possível voltar a produzir", explicou Torbjorn Kjus, analista da DnB NOR.
Por sua vez, a "Líbia precisará claramente do apoio e da experiência das multinacionais petroleiras, e as empresas estrangeiras só enviarão seus funcionários expatriados ao país se as condições de segurança permitirem", afirmou, por sua vez, Takin à AFP.
A estabilidade política e a segurança das jazidas é, segundo ele, a condição "sine qua non" para o regresso dos trabalhadores estrangeiros do setor, indispensável para uma retomada consistente da produção local.
No entanto, "a euforia posterior à queda de Kadafi pode ser curta", disse Petersson, convencido de que "a guerra civil pode continuar" porque a queda do líder líbio corre o risco de criar tensões e rivalidades entre as diferentes regiões do país.
Os mercados petroleiros subiam nesta terça-feira em um mercado prudente que seguia atentamente a evolução da situação no país, após o reaparecimento durante a noite do filho do líder líbio, Saif al-Islam, que supostamente estava detido.
O petróleo líbio, leve e com baixa quantidade de enxofre, é muito cobiçado pelos refinadores europeus, e seu desaparecimento do mercado alimentou na primavera (boreal) o aumento dos preços do barril, que chegaram aos 130 dólares em abril.
É "pouco provável" que ocorra uma queda dos preços devido ao retorno da oferta líbia aos mercados antes que seja concretizada a retomada das exportações, indicou Petersosn à AFP.
Sobretudo porque o desmoronamento do regime de Kadafi ocorre em um momento no qual o petróleo líbio tornou-se menos crucial ao mercado mundial devido a uma sensível desaceleração da demanda petroleira nos últimos meses pelo deterioramento do crescimento nos Estados Unidos e na Europa.