Trump: o jornal indica que os Emirados Árabes se ofereceram para organizar o encontro para saber se poderiam convencer a Rússia a limitar sua relação com o Irã (Kevin Lamarque/Reuters)
EFE
Publicado em 3 de abril de 2017 às 21h31.
Washington - O fundador da empresa militar privada americana Blackwater, Erik Prince, participou no último mês de janeiro de uma reunião secreta com um confidente do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em um aparente tentativa de abrir linhas de comunicação entre Moscou e o então presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
A informação foi revelada nesta segunda-feira pelo jornal "The Washington Post", ao assinalar que a reunião aconteceu em 11 de janeiro (nove dias antes da posse de Trump) nas ilhas Seychelles e foi organizada pelos Emirados Árabes Unidos.
O jornal, que cita como fontes funcionários americanos, europeus e árabes, indica que, embora o programa completo da reunião não esteja claro, os Emirados se ofereceram para organizar o encontro para saber se poderiam convencer a Rússia a limitar sua relação com o Irã, incluindo seus laços com a Síria.
De acordo com o jornal, se trataria de um objetivo do governo de Trump, que teria requerido grandes concessões de Washington a Moscou em relação a uma eventual suspensão de sanções impostas à Rússia.
Prince não teve nenhum papel nem na campanha de Trump para as eleições de 2016 nem em sua equipe de transição ao poder, mas se apresentou como um enviado extraoficial aos emiratenses envolvidos na preparação da reunião com o confidente de Putin, segundo as fontes, que não identificam esse cidadão russo.
O fundador da Blackwater foi um entusiasta apoiador de Trump durante o processo eleitoral do ano passado e, após a Convenção Nacional Republicana de julho, doou US$ 250.000 à campanha de Trump, ao partido e a um grupo de apoio ao magnata.
Além disso, Prince, que foi visto nos escritórios da equipe de transição de Trump em Nova York em dezembro, tem laços com o círculo do presidente, como seu estrategista chefe, Stephen Bannon; além do fato que sua irmã, Betsy DeVos, é a secretária de Educação.
Segundo as fontes americanas do jornal, o FBI (polícia federal americana) investigou a reunião das Seychelles como parte de uma investigação mais ampla sobre a suposta ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA e os supostos vínculos entre colaboradores de Trump e Putin.
A reunião nas citadas ilhas do oceano Índico, que - segundo um dos funcionários citados pelo "Post" - durou dois dias, engrossa a crescente lista de contatos entre russos e americanos vinculados a Trump, que a Casa Branca foi reticente a reconhecer ou explicar até que foram divulgados pelos veículos de comunicação.
"Não temos ciência de nenhuma reunião e Erik Prince não tinha papel algum na transição", afirmou o porta-voz da Casa Branca , Sean Spicer.
A residência presidencial, no entanto, admitiu que tanto Michael Flynn, ex-assessor de segurança nacional de Trump, como Jared Kushner, genro e assessor do presidente, se reuniram com o embaixador russo nos EUA, Serguei Kislyak, no final de novembro e no início de dezembro em Nova York.
Por sua parte, um porta-voz de Prince assegurou em comunicado que o fundador da Blackwater "não desempenhava papel algum na equipe de transição" e que a notícia do jornal é uma "invenção completa".
Erik Prince é famoso por ter fundado a Blackwater (que agora se chama Academi), empresa que vendeu a um grupo investidor em 2010 e que foi acusada de violações de direitos humanos durante a invasão americana no Iraque, na década passada.
Atualmente, há três investigações abertas sobre a suposta intrusão russa no pleito dos EUA e os possíveis laços entre a equipe de Trump e a Rússia: a do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, a da comissão homônima do Senado, e a do FBI.